Último Toyota Bandeirante nacional é guardado como relíquia 0 km

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)
LF
Por
18.08.2022 às 12:10
Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Com a FEB (Força Expedicionária Brasileira), o Brasil teve participação bem mais ativa na Segunda Guerra Mundial do que muitos imaginam. Mas esta não foi nossa única conexão com um dos conflitos mais sangrentos da História.

Foi naquele período que surgiram dois utilitários muito importantes para o posterior o desbravamento de nossa ainda jovem República na segunda metade do Século 20: o Jeep Willys e o Toyota Land Cruiser, que ficou aqui conhecido como Toyota Bandeirante.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Derivado de um jipe militar chamado AK10 e com elementos do próprio Willys, o Bandeirante nasceu de fato em 1950, sob a sigla BJ. Mais tarde, para ingresso nos Estados Unidos, foi rebatizado como Land Cruiser. Aqui, imortalizou-se como Bandeirante.

Anuncie seu carro na Mobiauto

Múltipla nacionalidade

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

No Brasil, seguindo o esteio do desenvolvimentismo que marcou nosso país dos anos 1950, o Land Cruiser de especificação FJ-25 começou a ser montado em CKD em um galpão do Ipiranga no ano de 1958. 

O nível de nacionalização de componentes foi sendo incrementado até que, em 1962, a Toyota inaugurasse uma fábrica própria em São Bernardo do Campo (SP), a primeira da empresa fora do Japão.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Lá, começou a fabricar o jipe com motores OM, da Mercedes-Benz, e a oficialização de um nome muito sugestivo: Bandeirante, que remete às bandeiras que desbravaraam os rincões de nosso território durante o período colonial, a fim de dominar povos indígenas, encontrar terras férteis e, especialmente, localizar minas de ouro e outros metais.

Com projeto japonês, legado americano, coração alemão e adaptações à brasileira, o Bandeirante logo se tornou um sucesso. Até os dias de hoje é possível encontrar unidades trabalhando duro em regiões de difícil acesso, como os Lençóis Maranhenses.

Leia também: Toyota Hilux será híbrida no Brasil, mas na Austrália já virou elétrica

O último dos Bandeirante

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Décadas transcorreram até o fim de sua produção nacional, em 28 de novembro de 2001, quando a última unidade foi montada na linha do ABC Paulista. Por ali, mais de 100.000 Bandeirante já haviam passado, mas o exemplar de número 104.621, o último deles, teria um destino bem diferente dos irmãos.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Em vez de ir para a “lida”, o derradeiro Bandeirante nacional foi guardado pela Toyota como relíquia. Hoje, está exposto em um pequeno acervo da empresa na fábrica de Sorocaba (SP), em estado impecável de conservação e com apenas 5 km registrados no hodômetro.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Nessa época, o motor do utilitário já não era mais o Mercedes OM 364, mais sim o Toyota 14B. Movido a diesel, rendia 96 cv de potência (a 3.400 rpm) e era considerado inferior ao aclamado propulsor fornecido antes pela antiga parceira alemã.

Leia também: Toyota Classic: o raríssimo “sedan-picape” retrô feito com chassi de Hilux

Tão impecável que chega a emocionar

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Produzido na configuração BJ50LV (jipe com capota rígida de aço e duas portas), o último Toyota Bandeirante veio de fábrica com pintura azul e alguns itens incomuns no jipe, como rádio e ar-condicionado (opcionais raramente solicitados pelos compradores).

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Também possui quebra-mato, cabo de aço com gancho para reboque, snorkel, faróis auxiliares no para-choque dianteiro protegidos por grade, rodas de aço aro 16 pintadas de branco, pneus ATX radiais 215/30, voltados ao off-road, e o clássico estepe pendurado à tampa do porta-malas. Que, por sinal, abre-se lateralmente.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Por dentro, o acabamento surpreende pelo nível de conservação, mas entrar nesse Bandeirante é como fazer uma viagem no tempo de volta ao século passado, muito embora esta unidade tenha sido fabricada já nos anos 2000.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Ali vemos um volante enorme, quadro de instrumentos analógico, poucos elementos de plástico cobrindo a lataria interna, vidros manuais, bancos sem encostos de cabeça, cintos com apenas dois pontos em quatro das seis posições (já que a primeira fileira tem três lugares e não apenas dois) e até um acendedor de cigarros.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

À direita da enorme alavanca de câmbio, uma manopla menor, voltada ao engate das marchas reduzidas. No banco de trás, enormes parafusos de fixação da carroceria expostos são mais uma amostra de que o Bandeirante foi um jipe “raiz” até seus últimos dias.

Unidade número 104.621 marcou o fim de um ciclo de 40 anos de produção do jipe no Brasil, e é mantido impecável no acervo da fábrica de Sorocaba (SP)

Ver o último Bandeirante tão bem guardado assim, tão de pertinho, chegou a emocionar. A vontade de pegar a chave, dar a partida e sair com ele para uma volta foi enorme. Aí lembramos que ele é basicamente um veículo 0 km. E aí o desejo volta ao controle. Afinal, seguir imaculado assim após mais de duas décadas é elemento fundamental de sua aura.

Você também pode se interessar por:

Carros que todo brasileiro deveria dirigir uma vez na vida
VW Santana quase ganhou uma irmã picape com caçamba de Hilux
Honda Civic 50 anos: curiosidades e versões mais legais do sedan histórico
Lembra do Corsa? Ele ainda existe, tem 40 anos e é até elétrico

Comentários