Grandes marcas de carros que nós nunca tivemos no Brasil

Empresas são renomadas, mas passaram bem longe do nosso mercado
EP
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08.05.2025 às 20:46
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Empresas são renomadas, mas passaram bem longe do nosso mercado

Mais de 20 anos atrás, eu estava perambulando pelo Autoshow Veículos Antigos e Especiais, um evento que reunia colecionadores e apaixonados por carros antigos, realizado no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, nas noites de terça-feira. Quando me deparo com uma station que jamais havia visto. Ela não tinha nenhum logotipo e o dono não estava no carro. Fotografei o modelo e fui atrás dos entendidos. Para encurtar a história: era um carro alemão, chamado Borgward Isabella, feito nos anos 50.

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Eu nunca tinha ouvido falar em Isabella. Muito menos em Borgward. Você já?

Quer ver outra? Estava lendo dias atrás um artigo sobre a indústria automobilística americana e os efeitos danosos causados pela Primeira Guerra Mundial (1917-1918) e depois pela Grande Depressão, em 1929. Você faz ideia de quantas montadoras foram pelo ralo nesse período? Alguma vaga ideia? Pois foram mais de 3 mil marcas que faliram. E só nos Estados Unidos.

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Olha como o passado da história da indústria automobilística é riquíssimo! Dei esses dois exemplos para ilustrar o quanto esses cerca de 140 anos (mais ou menos) são grandiosos, complexos, cheios de facetas e fatos interessantes. Pois será um pouquinho desse tema que abordarei hoje. Dá para imaginar quanta coisa importante ficou pra trás e a gente nunca nem ouviu falar?

Como jamais fui expert em antigomobilismo, fui atrás de cinco sujeitos que conhecem muito, mas muito mais do que eu, a respeito do tema. E fiz a seguinte pergunta: quais as cinco marcas mais importantes de automóveis que deixaram de existir?

Falei com Boris Feldman, Jason Vogel, Ricardo Mora, Felipe Bitu e Fábio Pagotto. Mesclando a lista inicial com as opiniões dos entendidos, a relação final ficou assim: Cord, Duesenberg, Hispano Suiza, Isotta Fraschini e Packard. A seguir, eu conto um pouco da história dessas marcas.

CORD

Primeira marca norte-americana a adotar a tração dianteira, em 1929, a Cord tinha como fundador Errett Lobban Cord, um verdadeiro visionário. Insistia na tese de que a massificação do automóvel passaria pela receita da “tração dianteira e juntas homocinéticas”, algo que ele executou em seu modelo L-29, que concorria, à época, com a Cadillac. Usava motor de 8 cilindros em linha com 125 cv. Mas sucumbiu à Crise de 1929 e acabou vendendo um número decepcionante de unidades nos três anos em que foi produzido (cerca de 5 mil veículos).

Pois é aí que surge o grande Cord da história, em 1936: o 810. A lista de inovações foi majestosa: suspensão dianteira independente, a frente não tinha a tradicional grade do radiador, mas aletas laterais no capô, e a carroceria dispensava os estribos laterais. Os faróis eram escamoteáveis (inspirados no avião Stinson), as lanternas traseiras tinham controle de intensidade, havia portinhola para recobrir o bocal do tanque de gasolina. Ele ainda ganharia uma versão com compressor do V8 em linha, levando-o a 170 cv. A propaganda de época dizia: “Quem ultrapassa um Cord sabe que só o faz com a permissão do motorista do Cord”.

DUESENBERG

Nascida em 1913 nos EUA, a Duesenberg ganhou fama rapidamente pela construção de carros potentes e de luxo. Mas foi somente em 1921 que a marca decolou, quando Mr. Cord (o mesmo da marca mencionada acima) ofereceu as linhas de montagem de sua fábrica para robustecer a produção e viabilizar a participação da “Duesy” em corridas. Ela venceu Le Mans naquele mesmo ano e as 24 Horas de Indianapolis em 1924, 1925 e 1927.

Já disse em algum momento que essa é uma das poucas marcas que me encantam no período do Pré-Guerra. Nos anos 20 e 30, ela produzia modelos belíssimos, já com notáveis preocupações aerodinâmicas – o que era raro nesse período – e com motores de mais de 250 cv. O Duesenberg J, por exemplo, cravava 265 cv em um 8-linha, com duplo comando e 4 válvulas por cilindro. Isso em 1929! Já o SJ, criado na década seguinte, apanhava a receita de seu antecessor e o equipava com um compressor mecânico, elevando a potência para 320 cv.

Nesse período, a fama herdada nas competições e a qualidade de acabamento dos modelos Duesenberg os colocavam nas mãos dos astros de Hollywood. Eles custavam 30% mais caro que Rolls-Royce!

HISPANO SUIZA

O suíço Marc Birkgt, radicado na Espanha, tinha o sonho de construir um carro elétrico na década de 10, quando trabalhava numa pequena montadora espanhola chamada La Cuadra. Mas logo desistiu e mergulhou nos motores a gasolina. Para sua sorte, os primeiros modelos produzidos por sua fábrica caíram no gosto do Rei Alfonso XIII, da Espanha, que se tornou grande incentivador da HS. E ele não deixava por menos: desde o início, sua proposta era construir automóveis tão sofisticados, velozes e refinados como a britânica Rolls-Royce.

Ele levou sua planta industrial da Espanha para a França, a fim de internacionalizar mais a produção dos Hispano Suiza. Durante a Primeira Guerra Mundial, a fábrica alterou sua produção e passou a fazer motores aeronáuticos, bastante apreciados pelos governos francês e britânico.

A produção de automóveis reapareceria em 1919. Só em 1930, contudo, surgiria um produto que seria a grande estrela da história da marca: o HB6, que nasceria com motor de 6,6 litros, comando de válvulas no cabeçote, duas velas por cilindro, bloco e cabeçote fundidos em liga leve, e 135 cv de potência. Seu sucessor, o H6C, chegaria em 1932 com um V12 de 9,4 litros, que rendia 220 cv. Ele ainda ganharia maior cilindrada anos depois, chegando a 11,3 litros e 250 cv.

A marca começou a sucumbir quando seu grande incentivador foi destituído, com a saída do monarca e o início da ditadura Franco, em 1939. Em 1946, vendeu seus ativos automotivos para a ENASA, embora a filial francesa continuasse na ativa, mas atuando somente no setor aeronáutico.

ISOTTA FRASCHINI

Fundada em Milão, Itália, em 1900, era, inicialmente, uma agência de carros e oficina. A empresa tinha a representação da francesa Renault, por exemplo. Mas o desejo e construir seus próprios automóveis esportivos não tardou a acontecer.

Teve seu apogeu nos anos 20, quando produziu o Tipo 8. Esse modelo adotava o primeiro motor de 8 cilindros produzido na Itália e, a exemplo da Hispano Suiza, tinha o mérito da excepcional qualidade de acabamento que a colocava como rival de Rolls Royce na época. Fez também caminhões e motores para aviação. Abandonou a produção de carros em 1927 e, desde então, tentou retornar diversas vezes, até em tentativas mais recentes.

PACKARD

Sabe aquela história que envolve Ferrucio Lamborghini, quando compra sua primeira Ferrari e é maltratado por Enzo Ferrari ao tentar sugerir mudanças técnicas? Pois o início da Packard é bem semelhante. James Packard era dono de um Winton. E não estava nada satisfeito com o desempenho de seu carro. Mandou uma carta ao dono da fabricante e foi sonoramente esnobado. Pois ele criou coragem e fundou sua própria montadora.

A marca nasceu na virada do século, mas começou a ganhar notoriedade com os primeiros motores de seis cilindros nos anos 20. Na década seguinte, entretanto, a Packard não abriria mão dos V12, que eram usados em modelos cupê, sedãs e conversíveis. Esse motor tinha bloco de ferro fundido e cabeçotes em alumínio, deslocando 7,3 litros e rendendo 160 cv.

Ao longo de sua história, a Packard produziu ainda motores de 1, 2, 4 e 8 cilindros. Parecia a grande paixão dos projetistas: os motores. Ela não se recuperou após a guerra e fechou as portas no final dos anos 50, quando já havia se fundido à Studebaker, mas não conseguiu continuar concorrendo com as gigantes General Motors e Ford.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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