Frenagem automática será obrigatória em 2029 para reduzir mortes nos EUA

Todos os carros de passeio e comerciais leves serão equipados com a frenagem automática de emergência; NTHSA estima redução de 360 mortes anuais por atropelamento
HG
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10.05.2024 às 23:40
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Todos os carros de passeio e comerciais leves serão equipados com a frenagem automática de emergência; NTHSA estima redução de 360 mortes anuais por atropelamento

O brasileiro médio, aquele que morrerá sem ler dois livros durante toda a vida, acredita piamente que os Estados Unidos são o paraíso do liberalismo, onde o mercado dá jeito em tudo e as regulações, simplesmente, inexistem. Como este sujeito jamais porá os pés na terra do Tio Sam, vai levar para o além essa crença absurda de que o anarcocapitalismo impera por lá, sem saber que existem mais regras nos 50 Estados que compõem os EUA do que em todos os países da América Latina, juntos.

Na semana passada, os norte-americanos deram uma amostra muito clara de como impõe suas exigências à indústria automotiva, com a obrigatoriedade do freio automático de emergência (AEB) para todos os carros de passeio e comerciais vendidos internamente, a partir de 2029.

“Já comprovamos que o AEB salva vidas e reduz ferimentos graves, atenuando as consequências de atropelamentos e colisões frontais. Acreditamos que esta tecnologia está suficientemente madura para ser implementada em todos os automóveis e, até lá, exigiremos que avance em relação à proteção dos pedestres”, afirma a diretora-adjunta da Administração Nacional de Segurança no Trânsito (NHTSA), Sophie Shulman. Nos Estados Unidos, o número de mortes por atropelamento cresceu 4,7 pontos percentuais, na última década.

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Números do Departamento de Transportes (DOT) revelam que, em 2022, 7.522 pedestres foram vitimados por este tipo de ocorrência e o objetivo da agência governamental, com a nova lei, é uma redução até pequena desta estatística, de apenas 5%, mas quando se trata de salvar vidas e desafogar o sistema de saúde, o Tio Sam não faz cerimônia em passar a conta para as montadoras. No Brasil, segundo dados do Data SUS, 18 pessoas morreram atropeladas todos os dias, nos últimos dez anos – nada menos que 65.700 vítimas fatais.

Nos EUA, a nova regulação determina que o AEB terá que detectar um atropelamento iminente em velocidades de até 45,4 mph (o equivalente a 73 km/h). Hoje, o Pedestrian Detection da Volvo, que é uma das referências do mercado, só consegue “enxergar” um adulto à frente e acionar os freios, automaticamente, em velocidades inferiores a 35 km/h.

“Os fabricantes terão muito trabalho pela frente, para otimizarem seus sistemas até 2029, porque não se trata, simplesmente, de ajustar o AEB. Todos os algoritmos usados por esta tecnologia terão que ser reanalisados e isso implicará num grande esforço técnico”, pontua o diretor de engenharia do da Associação Norte-Americana do Automóvel (AAA), Greg Brannon. Mais do que salvar 362 vidas por ano, a lei espera que 24.321 pessoas que se ferem gravemente neste tipo de ocorrência, anualmente, tenham apenas um susto.

Para quem não está habituado ao AEB, sua frenagem automática emergencial usa sensores, câmeras e até radares para detectar a iminência de um engavetamento ou atropelamento e, “percebendo” que o motorista não reage ao perigo, aciona os freios, chegando a até mesmo evitar o contato.

E para se ter uma ideia do quão importante é sua atuação, o Cities Safer by Design revela que as chances de um pedestre sobreviver, ao ser colhido por um carro de passeio a 30 km/h, chegam a 90%, probabilidade que cai para apenas 15%, numa ocorrência a 50 km/h.

Sistema não é eficiente à noite

O grande senão do AEB é que sua atuação noturna ainda é deficiente. E é exatamente à noite que ocorrem 76% das mortes de pedestres, nos EUA. “Nossos estudos apontam que, em muitos casos, o AEB é ineficaz no uso noturno. Portanto, não se pode ignorar que a tecnologia atual precisa de avançar muito, neste quesito. Não foi à toa que criamos três cenários bastante exigentes que vão certificar o sistema, futuramente, ‘no escuro’: ele terá que detectar uma pessoa atravessando a rua, parada no passeio ou caminhando pelo acostamento, em uma estrada”, detalha a diretora-adjunta do NHTSA, Sophie Shulman.

São exigência que, diante dos resultados de hoje, demandarão uma grande evolução tecnológica. “Nossos testes provam que, mesmo durante o dia, o AEB que equipa os modelos atuais só é capaz de evitar o atropelamento de uma criança, mesmo a baixa velocidade, a 32 km/h e em 11% dos casos”, complementa o pontua o diretor de engenharia da AAA, Greg Brannon

O Instituto das Seguradoras norte-americanas para Segurança Rodoviária (IIHS) reprovou mais da metade dos 23 modelos que avaliou, recentemente. “À luz do dia, 19 deles obtiveram classificação avançada, mas, quando repetimos as provas de noite, apenas quatro foram aprovados. A maioria não passou a pontuação mais básica ou, simplesmente, nem pontuou”, conta o vice-presidente de segurança do IIHS, David Aylor, destacando a necessidade de melhora na eficácia noturna.

“Não se pode ignorar o fato de que a maioria das mortes acontece à noite e os sistemas atuais, simplesmente, não funcionam à noite”, sublinha Greg Brannon, diretor de engenharia da AAA.

Já no Brasil que nega a virada da eletromobilidade e até mesmo o aquecimento global, não há nada, nenhuma ação legislativa que passe ao menos ao largo deste tema, o que vai apartando nossa indústria automotiva da nova realidade global.

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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto

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