Ford Maverick 2023: o que ela ensina à Ram Rampage em teste de 1.500 km

Picape derivada do Bronco Sport tem desempenho e conforto exemplares na comparação com a futura rival, mas deve em tecnologia
LF
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15.05.2023 às 21:00
Picape derivada do Bronco Sport tem desempenho e conforto exemplares na comparação com a futura rival, mas deve em tecnologia

 Parecia um tanto nebulosa, em princípio, a estratégia da Stellantis com a Ram Rampage ou 291, futura picape “de entrada” da marca do carneiro no Brasil, com produção em Goiana (PE). Como assim, uma picape média monobloco com tração prioritariamente dianteira e derivada da Fiat Toro? Pois a resposta que dá sentido a essa receita pode estar na Ford Maverick.

A caminhonete nascida da costela do SUV Bronco Sport traz muito daquilo que se espera no produto da Ram que está prestes a ser lançado, desde as dimensões até a ainda pouco usual – para os padrões brasileiros – combinação de um motor turbo a gasolina com tração 4x4. Passando, é claro, pela faixa de preços próxima a R$ 250.000.

A Mobiauto rodou mais de 1.500 km (1.531,4 km, para ser mais preciso) com a Maverick 2023 na versão Lariat FX4 2.0 EcoBoost a gasolina, anterior à vindoura opção híbrida que está para chegar com motor 2.5 aspirado, e conta tudo que ela tem a ensinar (de bom ou ruim) à sua futura rival.

Picape derivada do Bronco Sport tem desempenho e conforto exemplares na comparação com a futura rival, mas deve em tecnologia

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Para entender mais sobre elementos como visual e acabamento, confira esta outra avaliação feita há cerca de um ano, na época de seu lançamento. Neste outro artigo, veja 20 detalhes curiosos e interessantes sobre a Maverick. Aqui, focaremos em seu comportamento na prática, após muita rodagem em cidade e estrada.

Ford Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost 2023: R$ 244.890

9 boas lições da Ford Maverick 2023 para a Ram Rampage

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1) Desempenho: o motor 2.0 EcoBoost de 253 cv de potência e 38 kgfm de torque faz a Ford Maverick andar muito, mesmo pesando mais de 1,7 tonelada. Além do torque abundante logo a rotações mais baixas, há muita elasticidade para efetuar ultrapassagens com segurança em rodovias. A Rampage, lembremos, terá um propulsor similar, de cerca de 260 cv e mais de 40 kgfm, também a gasolina. Só que deve ser ainda mais pesada.

2) Isolamento acústico: o mais surpreendente da Maverick, porém, é que quase não se escuta ruídos externos à cabine, seja do motor, de rolamento das rodas, do vento ou de outros veículos. Talvez seja este o seu principal diferencial.

3) Conforto: a combinação do silêncio a bordo com bancos dianteiros bem desenvolvidos e suspensões muito bem calibradas, tanto na contenção de inclinações (laterais ou longitudinais) quanto na absorção de impactos, faz com que a Ford Maverick também seja a grande referência do segmento de picapes intermediárias neste ponto.

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Há, ainda, frugalidades como bancos revestidos em couro caramelo, banco do motorista com ajustes elétricos, chave presencial, partida do motor por botão e até um pequeno vidro traseiro de acesso à caçamba com abertura e fechamento elétricos via painel.

4) Dinâmica: você já deve ter lido em N avaliações de picape o famoso clichê de que aquele modelo tem comportamento de um automóvel com caçamba. Entre todas as picapes que já testei, a Maverick é a que mais se aproxima de fato desse aforismo.

Picape derivada do Bronco Sport tem desempenho e conforto exemplares na comparação com a futura rival, mas deve em tecnologia

5) Dirigibilidade: respostas diretas e precisas da direção elétrica, que possui calibragem progressiva de fato, ficando um bocado mais rígida a velocidades mais altas. Inclinações bem comedidas, tanto laterais (nos contornos de curva) quanto longitudinais (em frenagens e acelerações). Tudo isso faz a Maverick ter uma dirigibilidade exemplar e muito segura especialmente em rodovias.

6) Espaço interno no banco traseiro: por ser a picape intermediária mais comprida e com maior entre-eixos do mercado (por enquanto), a Ford Maverick proporciona um vão para pernas muito interessante na fileira traseira. A exceção, claro, está na posição do meio, atrapalhada por um túnel central deveras elevado, a fim de abrir espaço para o cardã. Caso não vá levar ninguém atrás, você pode rebater o assento e criar um espaço para bagagens que não podem trafegar na caçamba.

7) Porta-trecos generosos no console: a divisão de espaço no console central da Ford Maverick é muito bem acertada. Há nichos para depositar a carteira e o celular deitado ou em pé. Este último se mostra útil especialmente quando o cabo está conectado para projeção na central multimídia. E acredite: você vai precisar do fio, pois não há espelhamento sem fio. Pelo menos já há tomadas USB tanto do tipo A quanto C nas duas fileiras.

8) Tração integral: o câmbio automático de oito marchas da ZF é esperto como já se esperava. Além disso, a tração integral sob demanda, apesar de mais simples que a do Bronco Sport, funciona muitíssimo bem. Sua operação é prioritariamente dianteira, mas há envio automático de até 50% do torque ao eixo traseiro em caso de necessidade. E são cinco os modos de condução off-road.

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9) Segurança: faltam itens de segurança ativa (falaremos mais sobre isso em instantes), mas a Ford Maverick é um veículo de construção sólida, além de contar com sete airbags, frenagem autônoma emergencial, com detecção de pedestres e ciclistas, e frenagem automática pós-colisão, a fim de dirimir o efeito rebote de uma batida.

9 más lições da Ford Maverick 2023 para a Ram Rampage

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1) Consumo: motor de maior capacidade cúbica, muito desempenho, peso elevado, porte robusto, aerodinâmica limitada pelas dimensões e tipo de carroceria. É o combo perfeito para um produto que bebe muito combustível. Em nosso teste, sempre com ar-condicionado ligado, sequer chegamos a 10 km/l. E olha que boa parte do uso foi em rodovias de pista dupla e poucas curvas fechadas, o ambiente mais eficiente possível fora uma pista de testes com reta infinita. Os números exatos estão na ficha técnica logo abaixo.

2) Tecnologias embarcadas: para uma picape de quase R$ 250.000, faltam muitos equipamentos à Ford Maverick. A projeção de celulares via Android Auto e Apple CarPlay ainda é via cabo e não há carregador por indução. E ela não dispõe de ACC (controle de cruzeiro adaptativo), um aliado cada vez mais demandado em viagens longas por estradas bem sinalizadas, nem de regulagem elétrica para o banco dianteiro do passageiro.

3) Acabamento: precisamos dizer que ele é muito correto e bem montado, acima da média da categoria, além de criativo (mas com bom gosto). Porém, demasiadamente simples, com muito uso de plástico rígido. De novo: estamos falando de um veículo que se aproxima de R$ 250.000, por isso o padrão incomoda.

4) Ângulos e vão livre do solo: são baixos para um produto com proposta de encarar trilhas off-roads. Tentar nunca raspar o defletor aerodinâmico localizado sob o para-choque dianteiro em uma valeta qualquer é tarefa hercúlea.

5) Retrovisores externos: são divididos em dois espelhos cada, sendo sempre o principal com imagem em zoom, o que compromete a noção de profundidade e distância em relação a outros veículos, e outro menor, convexo, que teoricamente aumenta o campo de visão e reduz o ponto cego, mas na prática é pequeno demais para isso.

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6) Caçamba sem capota marítima ou abertura amortecida: se Fiat Toro, Chevrolet Montana e Renault Oroch, produtos mais baratos e simples, dispõem de capota marítima e, no caso da Montana, até abertura amortecida da tampa da caçamba, por que a importada e mais sofisticada Ford Maverick não poderia? Tais itens existem, mas só como acessórios. Convenhamos: uma capota é muito mais útil e bem recebida pelo usuário de uma picape do que um abridor de garrafas...

7) Quadro de instrumentos: é analógico com computador de bordo digital colorido de 6,5 polegadas. Até aí tudo bem: iluminação adequada, gráficos de boa resolução e sistema completo em informações, além de fácil de mexer via volante multifuncional. O ponto de incômodo: há um limite de telas que podem ser revezadas. E aí é preciso ficar escolhendo quais informações são mais necessárias para cada momento.

8) Porta-garrafas nem tão grande assim: os porta-objetos do console central são ótimos, mas os porta-garrafas laterais, que levaram a Ford a fazer puxadores de porta vazados para que fossem os mais generosos possíveis, não comportou uma garrafa de água em aço inox de 1,5 litro. Ela teve que ir no porta-luvas. E eu jurava que daria certo.

9) Sensores de estacionamento: não, a Ford Maverick não os possui nem mesmo traseiros. Ok, há câmera de ré para facilitar um pouco a vida, mas uma picape de mais de 5 metros de comprimento e com um balanço traseiro generoso bem que podia ajudar mais nas manobras – que já não são fáceis, tanto que seu diâmetro de giro sequer é divulgado.

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Ford Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost 2023 – Ficha técnica

Picape derivada do Bronco Sport tem desempenho e conforto exemplares na comparação com a futura rival, mas deve em tecnologia

Motor: 2.0, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, gasolina, duplo comando variável de válvulas, injeção direta de combustível, taxa de compressão 9,3:1
Potência (estimada): 253 cv a 5.500 rpm
Torque (estimado): 38 kgfm de 3.000 rpm
Peso/potência: 6,89 kg/cv
Peso/torque: 45 kg/kgfm
Câmbio: automático, 8 marchas
Tração: integral
0 a 100 km/h: 7,2 segundos
Velocidade máxima: 175 km/h (limitado eletronicamente)

Consumo Inmetro: 8,8 km/litro na cidade e 11,1 km/litro na estrada com gasolina
Consumo Mobiauto: 9,86 km/l em circuito 80% rodoviário e 20% urbano

Dimensões: 5.073 mm de comprimento, 3.076 mm de entre-eixos, 1.844 mm de largura, 1.733 mm de altura, 943 litros de porta-malas, 67 litros de tanque de combustível, 1.744 kg de peso

Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensões McPherson (dianteira) e MultiLink (traseira) com braços de alumínio; freios a discos ventilados (dianteiros) e a discos sólidos (traseiros); diâmetro de giro não divulgado; Cx não divulgado; vão livre do solo, 218 mm; ângulo de ataque, 21,6°; ângulo central, 18,1°; ângulo de saída, 21,2°; capacidade de carga, 680 kg; pneus 225/65 R17; 62 litros do tanque de combustível.

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Ford Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost 2023 – Itens de série

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  • Alarme
  • Chave com sensor presencial e abertura por código
  • Sete airbags (frontais, laterais, de cortina e de joelhos para o motorista)
  • Controle eletrônico de estabilidade e tração
  • Controle automático de velocidade em descida
  • Assistente de partida em rampas
  • Freio de estacionamento eletrônico com auto hold
  • Frenagem autônoma emergencial com detecção de pedestre/ciclista, alerta anticolisão frontal e freio automático      pós-impacto
  • Cinco modos de condução selecionáveis: Normal, Escorregadio, Lama/Terra, Areia e Reboque/Transporte
  • Controle de cruzeiro
  • Start/Stop
  • Faróis de LED automáticos com luz alta automático e luz de condução diurna
  • Rodas de liga leve de 17"
  • Estepe full-size
  • Travas elétricas das portas e da caçamba
  • Retrovisores elétricos com repetidor de seta
  • Pré-instalação de engate para reboque com conector de quatro pinos e chicote
  • Caçamba com protetor, dois compartimentos de carga, ganchos e abridor de garrafas
  • Ar-condicionado automático digital de duas zonas
  • Volante multifuncional revestido em couro com ajuste de altura e profundidade
  • Bancos com revestimento em couro sintético
  • Banco do motorista com ajuste elétrico em oito posições
  • Banco do passageiro dianteiro com ajuste manual em seis posições
  • Bagageiro sob o banco traseiro
  • Câmera de ré
  • Vidros elétricos com um-toque e antiesmagamento
  • Vidro elétrico da caçamba
  • Quadro de instrumentos analógico com tela digital central de 6,5"
  • Console central com porta-objetos e descansa-braço
  • Tomada de 12 V na traseira
  • Central multimídia Sync 2.5 de 8" com Android Auto e Apple CarPlay (via cabo)
  • Duas entradas USB-A e duas USB-C (duas dianteiras, duas traseiras)
  • Sistema Ford Pass, com status remoto do veículo pelo celular (nível do combustível, odômetro), travamento e destravamento remoto, partida remota com acionamento do ar-condicionado, partida remota agendada, localização do veículo, alerta de acionamento do alarme e de funcionamento do veículo
  • Monitoramento de pressão dos pneus

Ford Maverick 2023 vale a pena?

Picape derivada do Bronco Sport tem desempenho e conforto exemplares na comparação com a futura rival, mas deve em tecnologia

Sim. Pelo desempenho, conforto, dirigibilidade, dinâmica e segurança. São os melhores do segmento, com alguma margem. Será difícil para a Ram Rampage igualar a concorrente nesses quesitos. O consumo fala contra, mas já se esperaria isso de um veículo com esse perfil. E se o acabamento é limitado, todo o mercado de picapes falha junto nessa mesma seara.

O que faltou foi mais carinho por parte da Ford ao escolher os equipamentos embarcados para um produto com o valor da Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost. Agora, se você não liga tanto para tecnologia e gosta de uma picape que dá prazer ao dirigir, a Ford Maverick é a escolha certeira.

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