Chevrolet Corsa GL 1.4 era a primeira versão de luxo para brigar com o Gol

Versão topo de linha do hatch trazia motor mais potente e acabamento mais caprichado
LA
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05.02.2025 às 20:52
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Versão topo de linha do hatch trazia motor mais potente e acabamento mais caprichado

Desde a redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente em 1990, que viabilizou o lançamento do Fiat Uno Mille, naquele ano as marcas competiam ferozmente para ter seu representante no segmento de populares. A GM foi a segunda a entrar na disputa em 1992, mas com um produto muito antigo que estava na prateleira há 19 anos: o Chevette Junior (leia mais aqui).

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No final de 1992, o VW Gol 1000 chegava com seu motor AE-1000 (vulgo CHT) de 50 cv, que tinha mais disposição e era muito mais moderno, e olhe que seu projeto já estava cansado, com então 12 anos. A Volkswagen já tinha o Gol AB9, vulgo Gol bolinha, no forno, aguardando o momento certo de ser lançado, afinal, estratégia de guerra não faltava nesta época.

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Nos idos de 1993, a Ford lançou o Ford Escort Hobby 1.0 com a mesma mecânica do Gol 1000 e um pouco mais de espaço, e graças a uma resolução do governo reduzindo a alíquota de veículos com motor 1.6 boxer e/ou de tração traseira (parece até que alguém foi privilegiado com isso né), os veículos com esses motores passaram a ter a chancela de popular, permitindo a volta do VW Fusca, redução do preço da VW Kombi e cogitaram inclusive lançar o VW Gol BX (sim, com motor boxer de 1,6 litro). Com isso, a GM tratou logo de substituir o GM Chevette Junior pelo GM Chevette L, com motor 1.6 e muito mais disposição.

A GM sabia que o Chevette não era mais competitivo, e já desenvolvia a sua versão do Opel Corsa desde que lançou o Chevette Junior. Como em um jogo de xadrez, aguardou o momento certo para fazer sua jogada. Os planos eram lançá-lo apenas em 1995, mas com a movimentação da Volkswagen para lançar o Gol bolinha e da própria Fiat, que já desenvolvia o projeto 178 (o Fiat Palio), a Chevrolet antecipou o lançamento do carro em um ano. A primeira unidade foi fabricada em 21 de setembro de 1993 quando o estoque começou a ser formado e, em 10 de janeiro de 1994, era lançado no mercado nacional o Chevrolet Corsa.

Com muita inovação em um mercado saturado e atrasado, o Corsa trazia coisas até então impensadas para um carro popular em nosso mercado: injeção eletrônica, bom nível de acabamento, boa qualidade de construção e design em compasso com as versões do Corsa pelo mundo.

Usando a plataforma A, lançada no exterior em 1982, trazia um design atualizadíssimo e linhas arredondadas, com formato em cunha e ótimo coeficiente aerodinâmico, ou Cx, de 0,35 – contra 0,45 do Gol quadradinho. Sua missão era “embelezar a garagem do cliente”, palavras do então vice-presidente da General Motors do Brasil André Beer, e de fato o Corsa deu muito trabalho para concorrência.

O conforto também era inovador, e sua versão de lançamento, a Wind, trazia de série ajuste de altura dos cintos dianteiros, banco traseiro inteiriço rebatível, porta-objetos, retrovisor do lado direito, além de um acabamento primoroso com bancos revestidos em tecido e bastante confortáveis, volante de 2 raios espumado com ótima empunhadura, vidros verdes, além de injeção eletrônica monoponto (batizada de EFI).

Como opcionais, a versão oferecia acendedor de cigarros, ajuste interno dos retrovisores, ar quente, banco traseiro rebatível em 1/3 e 2/3, desembaçador, limpador/lavador do vidro traseiro, para-brisa degradê, pintura metálica ou perolizada, alarme, fiação para sistema de som e trava elétrica das portas.

Seu motor de 1.0 era moderno, silencioso e fornecia 50 cv a 5.800 rpm com 7,7 kgfm de torque a 3.200 rpm que, acoplado a um eficiente câmbio de 5 marchas de relações longas, mas com diferencial curto (4,53:1), faziam do Corsa um carro muito agradável de ser conduzido. Fazia de 0 a 100km/h em 19s77, e chegava a 142km/h de velocidade máxima.

Imbatível no consumo, trazia números relativamente atuais até mesmo para os dias de hoje: 13,05 km/l a gasolina na cidade e 15,39 km/l na estrada. Esses números melhoraram ainda mais 2 anos depois com a chegada do Corsa Super, com 60 cv e câmbio com diferencial mais longo, história que contarei depois.

A concorrência se mexeu e logo a Fiat lançou o Uno Mille ELX, “o popular de luxo” como ela mesmo chamava. Com nova frente (igual as demais versões da linha Uno), novo painel, volante de 4 raios espumado, ênfase nas 4 portas e o ar-condicionado (opcionais) e um acabamento bem mais caprichado, o ELX manteve o Mille forte no segmento.

A GM respondeu com o Corsa GL, sua primeira versão mais luxuosa lançada também em 1994, antecipando a linha 95. Seu motor era 1.4 e tinha injeção eletrônica monoponto EFI, com 60 cv no motor a 5.200rpm e 11,1 kgfm de torque a 2.800 rpm. Fazia de 0 a 100 km/h em 15s39 e chegava à máxima de 154,54 km/h. Apesar de não ter um desempenho que surpreendesse, trazia mais torque e boas médias de consumo, percorrendo médias de 11,81 km/l na cidade e média de 16,48 km/l na estrada, sempre com gasolina.

Como itens de série, trazia regulagem de altura dos cintos de segurança, banco traseiro bipartido 1/3 e 2/3, preparação para som e vidro dianteiro degradê, painel com conta-giros, além de um acabamento ainda mais esmerado, com veludo de boa qualidade nos bancos e muito bonito.

Como opcionais o GL oferecia ar-condicionado, ar quente, vidros elétricos com sistema de "um toque" e antiesmagamento, travas elétricas, alarme antifurto, iluminação no porta luvas e porta-malas, sistema de advertência sonoro dos faróis ligados, antiembaçante, limpador/lavador do vidro traseiro, vidros verdes, sistema de som com toca-fitas e rodas de liga leve aro 13 ou 14 (muito raras), além de pintura metálica.

Em agosto de 1995, a GM dificultava ainda mais a vida dos concorrentes e lançava a versão 4 portas para o modelo GL, aumentando ainda mais o conforto de seus viajantes, e as vendas deste grande sucesso dos anos 1990. Sua mecânica ainda era 1.4 (a pick-up lançada na mesma época já era 1.6), e sua estimativa era de chegar a 7.000 unidades nesta configuração ainda em 1995, número que foi alcançado sem dificuldades. O GL 4 portas custava R$ 13.600 na versão básica, equivalentes hoje a R$ 82.714,53.

A linha 1996 trazia a versão sedan e motor 1.6 para o hatch, mas sobre esta parte da história eu falarei mais para frente. Os anos 90 foram, sem dúvidas, os mais competitivos no mercado automotivo nacional, e os melhores para a GM Brasil. Saudades dos projetos Opel?

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

"Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação."

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