Apple usará iPhone e telas gigantes do novo CarPlay para criar “smartcars”

Marca da maçã mira em mercado trilionário com novo CarPlay capaz de acessar e operar quase todos os recursos de um veículo remotamente
HG
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10.06.2022 às 10:16
Marca da maçã mira em mercado trilionário com novo CarPlay capaz de acessar e operar quase todos os recursos de um veículo remotamente

O sistema CarPlay, da Apple, está disponível para 98% dos modelos vendidos nos Estados Unidos e cerca de 60% dos ofertados no Brasil. 

E o que começou como uma tecnologia de projeção de funções do smartphone na central multimídia pode evoluir para um sistema que vai integrar, basicamente, tudo que for exibido para o motorista e demais ocupantes do automóvel.

Assumirá, assim, a liderança de um segmento – de ‘smart displays’ – que, em 2025, movimentará quase US$ 11 bilhões (o equivalente a R$ 53,3 bilhões), segundo estimativas da consultoria de impacto de receitas MarketsandMarket. 

“As montadoras temem que, com o avanço da mobilidade autônoma, acabem perdendo sua capacidade de interação com seus clientes”, avalia o fundador e diretor administrativo da Synapse, Evangelos Simoudis, um dos mais conceituados analistas de ‘big data’ e inteligência artificial (IA) do Vale do Silício.

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“Na China, por exemplo, os consumidores mais jovens estão, literalmente, dando as costas para as marcas tradicionais, em parte porque elas não oferecem a mesma conectividade que as startups de veículos elétricos (EVs) ofertam”, prossegue.

E é exatamente este espaço que a Apple pretende reduzir, fornecendo uma solução completa para a indústria automotiva.

A prévia desse conceito foi apresentada durante o Worldwide Developers Conference 2022, sua conferência anual de tecnologia que, nas últimas três edições, trocou o Centro de Convenções de San Jose, na Califórnia, pelo formato online. 

Trata-se da novíssima geração do CarPlay, que possibilita a integração de vários aplicativos do sistema operacional iOS em telas panorâmicas personalizáveis. 

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Marca da maçã mira em mercado trilionário com novo CarPlay capaz de acessar e operar quase todos os recursos de um veículo remotamente

Sua grande sacada é a interface que permite o controle de, basicamente, todas as funções do veículo, das informações exibidas pelos mostradores digitais, aos ajustes de áudio e climatização, bem como das funções de navegação – obviamente, os comandos são extensivos ao próprio iPhone do usuário.

A Apple está costurando acordos com várias montadoras, mas as marcas e modelos que passarão a ofertar o novo CarPlay só serão anunciados no final de 2023. “Na prática, estamos vendo a transformação de um sistema de infoentretenimento em uma solução que permitirá toda a gestão do automóvel”, resume Simoudis.

Vale citar que, por algum tempo, a marca da maçã permitiu que seu assistente de voz, Siri, acessasse algumas funções do veículo, incluindo a seleção de estações de rádio, regulagens de temperatura do ar-condicionado e ajustes elétricos dos bancos.

Porém, isso dependia do suporte de aplicativos das próprias montadoras e a opção acabou removida no iOs 15 – que é a versão atual do sistema operacional.

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O sonho do “iCar”

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A contratação da executiva Desi Ujkashevic (ex-Ford), em maio deste ano, deixou claro que a Apple acelera seu programa para o lançamento de um modelo autônomo (AV), informalmente chamado de iCar, que chega ao mercado antes de 2030. 

No ano passado, a companhia já havia contratou Ulrich Kranz, ex-executivo da BMW e ex-chefão da startup de direção autônoma Canoo; Stuart Bowers, ex-executivo da Tesla que desenvolveu seu software de direção autônoma; e Jonathan Sive, ex-gerente da Tesla, Waymo e BMW. 

É um projeto que está em gestação desde 2015 e que também teve baixas, como recentemente a saída do gerente de produto Christoph “CJ” Moore (ex-Tesla), que foi para a Luminar, empresa da Flórida que é dona do Lidar – tecnologia mais usada por plataformas de direção autônoma.

“Temos uma clara visão do futuro dos transportes e só quem recrutar os melhores líderes terá sucesso na implementação de sistemas autônomos”, disse o presidente-executivo (CEO) da Luminar, Austin Russell.

Russell foi um dos únicos do setor automotivo que criticaram Elon Musk quando o fanfarrão da Tesla anunciou que lançaria um veículo 100% autônomo em 2021, o que o chefão da Luminar classificou, na época, como uma “irrealidade da engenharia”.

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R$ 3,6 trilhões em dados

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De volta à Apple, a gigante da tecnologia antecipou uma lista com marcas que, em tese, estariam dispostas a adotar seu novo conceito que mescla painel de instrumentos, sistemas de áudio, comunicação e navegação. São elas Audi, Ford, Honda, Jaguar, Land Rover, Mercedes-Benz, Porsche e Renault. 

“A próxima geração do CarPlay vai permitir o acesso a audiobooks e podcasts, ao mesmo tempo em que preservará as informações de velocidade, nível de combustível e temperatura do arrefecimento, dentre outras”, explica a gerente de engenharia automotiva da companhia, Emily Schubert.

Obviamente que, nos modelos elétricos, o nível do combustível é substituído pela carga restante das baterias e por aí vai. “Os carros mudaram muito, nos últimos anos, e vão mudar ainda mais, nos próximos, agregando um telas cada vez maiores e essa é uma grande oportunidade para a Apple, com sua linha de iPhones”, enfatizou.

O que a marca da maçã não revela é que, por trás de seu interesse no fornecimento de ‘smart displays’ para a indústria automotiva, há um negócio astronômico, que é a monetização dos dados de cada um dos veículos equipados com a nova geração do seu CarPlay.

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A consultoria McKinsey & Company estima que este mercado vai movimentar entre US$ 450 bilhões e US$ 750 bilhões (o equivalente a até R$ 3,6 trilhões), em 2030. 

“Um automóvel gera diferentes macrocategorias de dados que permitem serviços como e-commerce embarcado, assistência virtual, informes em tempo real das condições das estradas, agendamento antecipado de manutenção por meio de diagnose e chamadas automática de emergência”, detalha o diretor automotivo de manufatura e energia do Google Cloud, Dominik Wee. 

“No futuro, essa base de dados permitirá, por exemplo, a oferta de créditos de mobilidade compartilhada ou assistência especial de navegação por trechos”, completa Wee.

O Vision EQXX, da Mercedes-Benz, carro-conceito que materializa a visão da marca da estrela de três pontas sobre o futuro da eletromobilidade, exibe um display mini-LED 8K de 47,5 polegadas, que se estende de um pilar “A” a outro, em substituição ao painel de instrumentos. 

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Seu sistema de navegação 3D, criado em parceria com a Navis, permite zoom de até 33 pés de altitude (o equivalente a dez metros) e orienta a rota mais econômica em termos energéticos.

Como o leitor percebe, trata-se de um tema muito adulto para a infantilidade do mercado brasileiro. No universo automotivo maduro, os planos da Apple não têm nada de meninice e, enquanto a empresa desenvolve seu ‘iCar’, prepara o terreno integrando seu software aos principais sistemas veiculares de várias montadoras.

Criará, assim, um laço que pode torná-la referência no fornecimento de programas de direção autônoma no futuro.

“A grande antecedência com que a gigante da tecnologia anunciou o novo do CarPlay tem um claro objetivo, que é o de dar tempo para fabricantes distintos, como a Ford e a Ferrari, por exemplo, adaptarem seus projetos à esta nova geração”, sugere Evangelos Simoudis, da Synapse.

Imagens: Reprodução/Apple

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

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