Vale a pena ter carro elétrico para trabalhar de Uber?

Um motorista de Uber gastará em média R$ 90.000 em combustível com um Kwid Outsider ou R$ 16.600 para carregar um Kwid Elétrico.
Camila Torres
Por
16.09.2022 às 08:00
Um motorista de Uber gastará em média R$ 90.000 em combustível com um Kwid Outsider ou R$ 16.600 para carregar um Kwid Elétrico.

Muitos motoristas de aplicativo, como Uber e 99, têm nos perguntado se vale a pena comprar um carro elétrico para trabalhar, com a chegada do Renault Kwid E-Tech e do Caoa Chery iCar. Na última sexta-feira (09), a Renault anunciou que disponibilizará 200 unidades do Kwid elétrico para motoristas de Uber testarem.

Com a iniciativa, a marca francesa tenta difundir a tecnologia e incentivar a aquisição ou assinatura do seu novo modelo elétrico por motoristas de aplicativo, assim como a Toyota fez no passado ao ceder o híbrido Prius para dezenas de taxistas de São Paulo (SP). 

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No caso do Kwid E-Tech, ele já está disponível no serviço de assinatura da marca chamado On Demand, e a fabricante quer provar que vale a pena financeiramente assiná-lo. 

O plano de 48 meses custa R$ 3.339 por mês., a assinatura sai mais cara que a compra do modelo (R$ 146.990) ao final do contrato. Entretanto, é preciso considerar que os custos com seguro e revisão já estão embutidos. Além disso, uma compra financiada do mesmo modelo terá juros, o que aumentará o custo final.

Mesmo assim, o custo ainda é alto, especialmente para quem terá de rodar muito com o veículo a fim de arcar com a despesa. O grande argumento está no fato de que o assinante economizará alguns bons milhares de reais ao não precisar reabastecer o Kwid E-Tech, mas sim recarregá-lo com eletricidade.

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Será que vale mais a pena de fato? Comparamos os custos de manutenção e recarga de um Kwid E-Tech com o de um Kwid Outsider, versão de topo do modelo equipada com um motor 1.0 a combustão, para responder essa pergunta. 

A propósito, um Kwid Outsider custa R$ 71.990, diferença de R$ 75.000 para o irmão elétrico. Essa diferença se paga? Se sim, em quanto tempo?


Abastecer vs carregar 

A economia na hora de abastecer/recarregar sem dúvidas é a maior vantagem do carro elétrico. Vamos te mostrar na ponta do lápis. 

Um motorista de Uber gastará em média R$ 90.000 em combustível com um Kwid Outsider ou R$ 16.600 para carregar um Kwid Elétrico.

Kwid Outsider: segundo dados da dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a média de preço do litro de gasolina no Brasil foi de R$ 5,04 na semana de 4 a 10 de setembro de 2022.

Por esse valor, completar um tanque de 38 litros do Kwid Outsider custa R$ 191,52. Segundo o Inmetro, o subcompacto faz 13,8 km/litro na cidade abastecido com gasolina. Sendo assim, um tanque cheio proporcionará uma autonomia aproximada de 524 km. 

Considerando os dados citados acima, o valor do km rodado da versão Outsider é de R$ 0,36. Um motorista de aplicativo que roda 4.000 km por mês (média de 200 km por dia em 20 dias de trabalho) tem um gasto de R$ 1.500 com combustível por mês ou R$ 18.000 ao ano.

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Um motorista de Uber gastará em média R$ 90.000 em combustível com um Kwid Outsider ou R$ 16.600 para carregar um Kwid Elétrico.

Kwid E-Tech: de acordo com a Tupinambá Energia, o valor do kWh em uma recarga sai por R$ 1,04. O Kwid E-Tech tem uma bateria de 26,8 kWh. Multiplicando a capacidade da bateria pelo custo de cada kWh, chegamos ao resultado de R$ 27,87 por recarga. 

A Renault informa que, com uma carga completa, o Kwid elétrico roda até 298 km em ambiente urbano. Nesse caso, o valor do km rodado fica em R$ 0,09. Aquele mesmo motorista que roda 4.000 km por mês gastaria R$ 360 mensalmente com recargas ou R$ 3.320 ao ano. 

Esse valor pode ser ainda menor, pois o custo para recarregar o carro em casa é inferior ao valor gasto em uma estação de recarga, ou se o motorista usar um posto de recarga sem custo. A grande pegadinha pode estar na autonomia real do veículo, caso seja inferior à declarada pela marca.

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Custo para recarregar/abastecer: Kwid E-Tech vs Kwid Outsider 

Valor do km rodado: R$ 0,09 (E-Tech) / R$ 0,36 (Outsider)
Valor para rodar 4.000 km: R$ 360 / R$ 1.500
Valor para rodar 30.000 km: R$ 3.320 / R$ 18.000

Como se pode constatar, o custo de recarga para rodar com um Kwid elétrico representa apenas 25% do que se vai gastar para reabastecer um Kwid a combustão. Por esses números, a diferença de R$ 75.000 entre eles só se pagaria em aproximadamente quatro anos e meio.

Tempo de carregamento x abastecimento 

O tempo de carregamento e a infraestrutura de carregadores externos são os fatores que mais causam insegurança para quem está pensando em comprar um carro elétrico. O motivo para preocupação é válido. Em uma cidade como São Paulo, há diversos pontos de recarga, só que pouquíssimos são ultrarrápidos.

Mesmo que a recarga seja rápida - o Kwid E-Tech permite um processo em corrente contínua de até 30 kW, seriam necessários 40 minutos para recuperar 80% da bateria. E se o condutor encontrar um Wallbox de 7,4 kW em corrente alternada, precisaria de 3 horas para fazer sua energia voltar de 15% para 80% da capacidade. 

Ou seja, mesmo que você tenha onde carregar o veículo durante o dia, perderá uma parte de sua jornada de trabalho e terá de programar muito bem os momentos de fazer essa parada.

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Um motorista de Uber gastará em média R$ 90.000 em combustível com um Kwid Outsider ou R$ 16.600 para carregar um Kwid Elétrico.

Claro que, para quem tem um carro elétrico, a melhor opção é carregar o carro durante a noite em sua própria casa, como fazemos com o celular. No caso do Kwid E-Tech, nem é necessário instalar um Wallbox, pois é possível carregá-lo diretamente em uma tomada doméstica de 220V em 9 horas.

Assim, todos os dias o motorista sai com teóricos 298 km de autonomia, número que pode variar para mais ou para menos dependendo da forma como o motorista dirige e até do clima - no calor, devido ao uso do ar-condicionado, ou em um frio muito intenso, se for usado o sistema de aquecimento. 

Outro ponto a se pensar, pois pode acontecer, é de pegar uma corrida mais longa no final do dia. Por exemplo, um trecho de São Paulo ao aeroporto de Guarulhos pode, sozinho, ter mais de 50 km, perfazendo cerca de 100 km ida e volta. Vale lembrar que, em estradas, o alcance do Kwid E-Tech diminui para 265 km, segundo a Renault.

Se o motorista não tiver ao menos 150 km de autonomia, o aconselhável é dispensar a corrida. Lembrando que, se acabar a bateria de um carro elétrico na rua, ele precisa ser rebocado, pois as rodas travam. Não dá nem para empurrá-lo para o acostamento.

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Preços das revisões até 60.000 km: Kwid E-Tech X Kwid Outsider

Renault Kwid Outsider:

Um motorista de Uber gastará em média R$ 90.000 em combustível com um Kwid Outsider ou R$ 16.600 para carregar um Kwid Elétrico.

Segundo levantamento realizado em agosto/2022 pela Mobiauto, o valor de revisão do Kwid Outsider até 60.000 km sai por R$ 3.728,77. Confira abaixo o valor de cada revisão. 

10.000 km: R$ 451
20.000 km: R$ 511,21
30.000 km: R$ 511,21
40.000 km: R$ 862,33
50.000 km: R$ 570,72
60.000 km: R$ 821,60
Total: R$ 3.728,77

Renault Kwid E-Tech:

Um motorista de Uber gastará em média R$ 90.000 em combustível com um Kwid Outsider ou R$ 16.600 para carregar um Kwid Elétrico.

Já as revisões do Renault Kwid E-Tech até 60.000 km saem por apenas R$ 1.780. São quase R$ 2.000 a menos que o Kwid Outsider. 

A Renault explica que o valor mais baixo se deve ao fato de que a variante elétrica tem menos peças e muitas não precisam de manutenção. Além disso, a versão E-Tech compartilha muitos componentes com as versões térmicas do modelo, o que barateia o custo e torna mais fácil encontrar componentes de reposição.

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Vale a pena ter um carro elétrico para trabalhar de Uber?

Como já dissemos, em termos de recarga vs reabastecimento, um motorista de aplicativo que roda 4.000 km por mês precisará de quatro anos e meio para “receber de volta” o valor extra gasto com a aquisição ou aluguel do veículo.

Podemos colocar na conta, também, os R$ 2.000 que serão economizados com revisões até 60.000 km e a isenção parcial do IPVA para carros elétricos em algumas cidades brasileiras, como São Paulo (SP). Ainda assim, o Kwid elétrico demorará um pouco para valer a pena em relação à versão a combustão. 

Isso quer dizer que o motorista fará um investimento maior de cara e receberá o “abatimento” disso pouco a pouco. Por outro lado, se é desejo ter um carro elétrico e a dúvida é infraestrutura, um bom planejamento resolve, sem contar que as fabricantes vêm trabalhando forte para sanar essa questão ano a ano, justamente para incentivar a compra desse tipo de veículo.

Dessa forma, aqui vai a resposta que te fez chegar até o final deste artigo: carro elétrico ainda não tem um custo-benefício melhor que um carro a combustão em curto prazo, mesmo para uma pessoa que roda muito. Mas, se você optar por ele, pode se beneficiar em médio e longo prazo, e ainda terá um carro mais simples, barato de manter e com câmbio automático para enfrentar o trânsito diário.

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