Renault Sandero RS: o último esportivo nacional raiz?

Hot hatch surpreendeu e encantou gearheads com proposta simples, mais honesta, de um esportivo com tudo que um esportivo deveria ter
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04.08.2022 às 09:31
Hot hatch surpreendeu e encantou gearheads com proposta simples, mais honesta, de um esportivo com tudo que um esportivo deveria ter

Por William Marinho

A não ser que você, amigo gearhead que acompanha essa coluna, tenha despertado das cavernas hoje, o Renault Sandero RS faz parte da sua lista de desejos. Ou, no mínimo, despertou sua curiosidade. Sim, eu sei, ele também arrasta uma infinidade de haters, que vou carinhosamente chamar de pessoas desprovidas de interesses automotivos. 

Minha ideia aqui não é defender suas qualidades, até porque existem inúmeros textos, vídeos, opiniões sobre o carro, que fazem isso de forma mais competente. O que eu quero e preciso escrever é sobre como o custo x benefício desse carro é fantástico, e porque ele é o último dos esportivos RAIZ que tivemos no Brasil, ao menos a um preço plausível.

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O pacato Sandero europeu, vendido pela sua montadora original, Dacia...

Sim, eu também sei que ele é mal-acabado para um modelo topo de linha. Pensando nisso, bolei uma hipótese de como teria sido o diálogo entre os executivos da Renault Brasil com a matriz francesa:

-Bonjour, mamãe Renault! Eu, tupiniquim, gostaria de uma pequena ajuda com a nossa divisão Sport para desenvolver um carro esportivo legal e barato para o Brasil.

-Oui, então vocês querer levar o Clio RS para Brasil?

-Non... Queremos fazer um carro baseado no nosso modelo mais vendido, o Sandero, que vocês vendem pela Dacia… Bora?

-C'est folie… um esportivo baseado num Dácia, a um custo acessível e que seja leal? Esse Brazuca tá fou

-Tiens mon champagne! Me manda uns contatinhos lá na Renault Sport que eu resolvo.

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...Convertido em um legítimo hot hatch vendido pela Renault no Brasil

E assim, com um orçamento limitado, nasceu o esportivo do Sandero. A fábrica se preocupou em caprichar onde um esportivo PRECISA, usando peças “de prateleira” e dando um toque visual ao gosto do marketing.

No fim das contas, nasceu um dos carros mais fantásticos e raízes já fabricados no Brasil. Motor aspirado F4R derivado do Mègane, que recebeu umas melhorias, casado ao câmbio manual de seis marchas com escalonamento curto, capaz de explorar todo o potencial dos 150 cv.

Discos de freio de 280 mm na dianteira e 240 mm na traseira, que dão conta do recado tanto em ruas quanto em autódromos com maestria, suspensão recalibrada, com direito a exclusivo conjunto de amortecedores e molas e um eixo traseiro projetado somente para essa versão.

Rodas de 17 polegadas igualmente exclusivas, calçadas com pneus de performance, bancos exclusivos e muitos outros itens que acabam sendo abafados pelas críticas infundadas ao acabamento inferior.

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O interior era mais pobre que o esperado para uma versão topo de linha

Lembro da primeira matéria que saiu sobre o carro. Fiquei maluco com a proposta e imediatamente comecei a juntar dinheiro para ter o meu. Em 2016, vendi meu Fiat Palio Sporting e abracei o Sandero RS, mesmo com meu filho recém-nascido (a lógica era entrar no mundo dos SUVs).

Foi um salto gigante de desempenho e dinâmica. O primeiro susto foi passar em ruas mal pavimentadas, onde o conjunto transmitia todas as irregularidades para o interior do veículo. O escape, diferente do Fiat, transmitia todo o vigor do F4R para a cabine.

Na vida a bordo, você esquece que a porta e os painéis são cheios de plásticos duros, que a chave sequer era canivete ou até mesmo da central multimídia, que tinha espelhamento de celular. 

A forma como o carro se comunica, a sensação de estar sempre com motor aceso e como a direção/suspensão/freios se comportavam anulavam qualquer percepção sobre acabamento pobre ou até mesmo o quanto o carro era duro e barulhento.

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Meu Sandero RS na pista

Mas era na pista que o Dacia se mostrava vigoroso. Com a ajuda do botão RS, escondido no painel central, era possível desabilitar todas as ajudas eletrônicas, deixando o hatch na sua mão. O carro, com apenas 150 cv, tinha tempos de volta invejosos. 

Deixava muita gente comendo poeira nas curvas e os freios eram protagonistas na segurança que o conjunto passava. O carro me arrancou sorrisos em cada metro percorrido tanto no kartódromo do Guará, em Brasília, como no autódromo de Goiânia. É difícil expressar como o romeno-francês era competente no que fazia. 

Mas tudo na vida tem o outro lado... Se você não é entusiasta, tome cuidado para não se deixar levar pelo meu relato repleto de saudosismo. Todas as características positivas que mencionei podem virar um pesadelo nas mãos de alguém que compra um carro como um meio de transporte e não como uma paixão. 

O câmbio é curto e vai incomodar em viagens longas, ou no anda-para do trânsito A suspensão é dura, o isolamento acústico é digno de um modelo de entrada e o belíssimo escapamento e ponteira dupla se transforma num berrante em altas rotações. 

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O motorzão 2.0 herdado do Duster

O acabamento inferior do lindo para-choque exclusivo adora se encontrar com o meio-fio ao estacionar, sem falar que os primeiros modelos não contavam sequer com sistemas como o Android Auto e afins, empobrecendo o infotenimento. 

Até os maravilhosos bancos podem virar um problema, pois são baixos, mesmo na sua configuração mais alta. Como eu sei disso? Meus pais, esposa e irmã sempre frisaram essas características nas poucas vezes que pegaram o meu xodó.

O Sandero RS teve duas versões ao longo de sua curta vida, desde o seu lançamento em 2015 até 2022, quando deu adeus devido às normas de emissões de poluentes impostas pelo PROCONVE L7. Seria insustentável a substituição do velho de guerra 2.0, por um propulsor mais moderno e ainda assim manter o preço competitivo do esportivo.

Se você pensa em ter um na sua garagem, não deixe de fazer um test-drive longo com o candidato, e lembre-se que um local de muitos buracos é completamente fora do habitat natural do veículo. 

Infelizmente é o tipo de veículo que talvez nunca mais tenha um substituto, devido a receita aspirado-manual, totalmente contra os novos lançamentos do mercado nacional, dominados por turbo-automático.

Imagens: Divulgação/Renault, Divulgação/Dacia e Acervo pessoal

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

William Marinho, engenheiro mecânico e entusiasta do mundo automotivo.

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