Porsche perde 60% do valor de mercado e acende alerta

Capitalização caiu de US$ 117,4 bilhões para US$ 49,1 bilhões; executivos de finanças e marketing foram demitidos
HG
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04.04.2025 às 21:04 • Atualizado em 25.04.2025
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Capitalização caiu de US$ 117,4 bilhões para US$ 49,1 bilhões; executivos de finanças e marketing foram demitidos

A virada da eletromobilidade embaralhou as cartas do setor automotivo e não são apenas as gigantes inertes que estão ameaçadas pela nova geração de EVs chineses, mas marcas de prestígio, como a Porsche, também veem as coisas se complicarem com perdas em, praticamente, todas as frentes. A verdade é que um dos maiores símbolos e orgulho da engenharia germânica está combalido.

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“No início de fevereiro, a companhia apresentou uma revisão de suas perspectivas para 2025, estimando que as margens de lucro podem cair para 10%, o que representa a metade do que era esperado, quando do início de sua oferta pública de ações, há três anos”, comenta o presidente-executivo (CEO) da consultoria Dunne Insights, especializada em EVs, Michael Dunne.

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“Enquanto seus executivos culpam os altos investimentos em subsidiárias de baterias, a escassez da cadeia de suprimentos e despesas com o aumento das ofertas de personalização, as vendas do Taycan, seu carro-chefe, caíram e a versão 100% elétrica do Macan parece ter chegado às ruas tarde demais para reverter a situação”, acrescenta.

Na China, maior mercado de automóveis do mundo, os resultados são decepcionantes, com queda de quase 30% nas comercializações, o que reflete um certo desencanto dos chineses com EVs alemães que, na prática, são menos eficientes e bem mais caros que os modelos locais.

“Em 2024, as vendas atrás da Grande Muralha responderam por 9% do volume global do superesportivo 911, que é o produto mais rentável da Porsche. Neste ano, o mercado chinês não responderá por mais do que 5% das comercializações da gama”, estima Dunne.

Ele concorda com a análise da Bloomberg Intelligence, que aponta um desejo maior por tecnologia embarcada por parte desses consumidores, do que pela performance do 911. “Mais do que isso, os chineses esperam que o valor agregado de uma marca de luxo tenha mais permanência no tempo, o que não vem ocorrendo”, pontua o consultor.

Ele está se referindo à desvalorização absurda que o Taycan apresenta na China, onde o preço de revenda de um modelo seminovo está em cerca de 50% do – preço – de tabela do zero-quilômetro. “Eles vêm os valores caindo e, simplesmente, deserdam da marca”, conta Dunne – vale citar que, no Brasil, os superesportivos da Porsche vêm aparecendo mais no noticiário policial do que nas colunas sociais e isso decorre, entre outros fatores, de uma espécie de fratura no cristal que sempre protegeu a marca e de uma mudança pejorativa no perfil de sua clientela.

Não compraria outro

Nos Estados Unidos, não é diferente e, lá, é a baixa qualidade que vem assustando os consumidores, como reporta a fundadora da agência Partners+Associates, Stephanie Gotch, que se arrependeu da escolha de um Taycan, no ano passado.

“Um SUV elétrico com preço na casa de seis dígitos me pareceu bacanérrimo, mas as boas impressões que tive durante o test drive, antes da compra, se transformaram em arrependimento. Fui convocada para tantos recalls que, hoje, vejo que este carro é uma droga”, sentencia ela, que contabiliza mais de dez chamados, incluindo um para substituição da bateria.

“Não há como confiar em um produto com tantos defeitos para o uso cotidiano”, complementa Stephanie, que tem o coro engrossado por Michael Jo, apresentador do vlog “The Smoking Tyre”, algo como ‘O Pneu que Fura’, em português. “Se você contar a quantidade de recalls, verá que é um modelo ‘selvagem’. Bom, pelo menos há um espaço agradável no concessionário para esperarmos, mas não acho que não compraria outro”, disse em tom sarcástico.

Há 40 dias e depois de uma redução de turnos na fábrica do Taycan elétrico, em Zuffenhausen (Alemanha), a Porsche anunciou que cortaria 1.900 empregos até 2030, devido à fraca demanda por EVs – uma desculpa esfarrapada, diante do crescimento global nas vendas de modelos elétricos, que chegou a 25% no ano passado, em relação a 2023.

Menos de duas semanas depois, a marca demitiu dois de seus executivos mais poderosos: o ex-diretor financeiro (CFO), Lutz Meschke, e o ex-diretor de vendas e marketing (CMO), Detlev von Platen.

Hoje, a capitalização de mercado da Porsche é de US$ 49,1 bilhões (o equivalente a R$ 282,5 bilhões), acumulando uma queda de 58% nos últimos 48 meses, comparada ao pico de US$ 117,4 bilhões (R$ 675,6 bilhões) alcançado em abril de 2023.

No mesmo período em que a Porsche perdeu mais de a metade de seu valor, a BYD viu sua capitalização de mercado subir de US$ 100,1 bilhões para US$ 156,6 bilhões (ganho de R$ 325 bilhões, contra perdas de R$ 393 bilhões da marca alemã), enquanto a subsidiária automotiva da Xiaomi saltou de US$ 36,8 bilhões para US$ 169,2 bilhões (ganho de R$ 761,7 bilhões). Hoje, a Porsche vale menos que a Danone (US$ 49,6 bilhões), que é um fabricante francês de produtos lácteos e de nutrição infantil. 

E a conjuntura piorou, na última quinta-feira, depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou tarifas de importação de 25% sobre todos os veículos e autopeças importados, exacerbando os temores de uma desaceleração global. O aumento na carga tributária vigora já neste mês de abril e a expectativa é para um aumento nos preços dos 0 km que pode superar US$ 10 mil, dependendo da marca, do modelo e da sua origem.

“Washington já advertiu a União Europeia (UE) de que ela não deve esperar uma revisão da nova tarifa e é importante frisar que este aumento na carga tributária é negativo para toda a economia global, mas, mormente, para o mercado financeiro europeu”, avalia o estrategista do banco Société Générale, Roland Kaloyan.

Só no dia do anúncio, as ações da Volkswagen, maior fabricante de automóveis da Europa, caíram 1,5%, enquanto as da Porsche despencaram 2,6%. O presidente do conselho da marca, Hans Dieter Poetsch, negou rumores de que a Porsche venderia papéis, esvaziando suas principais participações. O conselho propôs um dividendo de 1,91 euros por ação preferencial, bem abaixo dos 2,56 euros do ano passado, culpando a menor entrada de capital advindo da VW, que amargou queda de 15% no lucro operacional, em 2024.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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