Exclusivo: VW A0 picape, a rival híbrida da Toro com receita da Montana

Volkswagen desistiu da Tarok, mas não da ideia de ter uma picape intermediária. E desenvolve um projeto secreto, com plataforma MQB A0, para estrear em 2026

LB

Por Leonardo Felix e Renan Bandeira

06.07.2023 às 18:00 • Atualizado em 24.07.2023

Sabe aquele romance que nunca sai do lugar e acaba esfriando? Foi o namoro da Volkswagen com o segmento de picapes compactas-médias, o da Fiat Toro. Desde a apresentação do conceito Tarok, em 2018, a marca alemã titubeou tanto que acabou desistindo do projeto. Mas não da ideia.

A Mobiauto pode afirmar que engenheiros da marca trabalham incessantemente em um novo conceito de picape intermediária para se posicionar entre a Saveiro e a Amarok, rivalizando com a própria Toro e a Chevrolet Montana. A projeção do modelo, meramente ilustrativa, é de Renato Aspromonte, exclusiva para esta reportagem.

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Para cumprir o objetivo, a VW vai se inspirar justamente na receita seguida pela General Motors com a Montana de terceira geração. O modelo faz parte do mais recente pacote de investimentos prometido pela fabricante, de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,2 bilhões) até 2026.

Projeto A0 picape ou VW247

Estamos falando do projeto VW247, que já havia sido revelado em primeira mão por nossa reportagem em novembro de 2021. Internamente, vem sendo chamado de “A0 picape” ou “A0 SUV picape”, em uma referência ao projeto VW246 ou A0 SUV, seu irmão direto de desenvolvimento e plataforma.

Da primeira vez que mencionamos a 247, dissemos que seria uma caminhonete de porte compacto, surgindo como sucessora ou possível nova geração da Saveiro. Não será o caso. Apesar de derivada do A0 SUV, um crossover de entrada que brigará com o Fiat Pulse, seu porte será similar ao da própria Montana e ao da Renault Oroch.

Quando a A0 picape será lançada

O apelido A0 picape vem de sua plataforma, MQB A0, a mesma usada por Polo, Virtus, T-Cross e Nivus, e que também será aproveitada pelo A0 SUV a partir de janeiro de 2025, quando ele começará a ser produzido em Taubaté (SP).

A picape tem previsão para ser finalizada no segundo semestre desse mesmo ano, mas o lançamento efetivo deve ficar para o começo de 2026. Aproveitará muitos elementos do A0 SUV, mas terá visual exclusivo, porte mais robusto e aproveitará componentes de outros modelos da mesma matriz, como o próprio T-Cross.

VW A0 picape será mais simples que a Tarok

Foi exatamente o que a Chevrolet fez com a Montana, ao usar toda a suspensão dianteira, freios dianteiros e elétrica do Tracker, dando à terceira geração de sua picape um visual exclusivo e uma traseira com suspensão mais robusta, embora por eixo de torção, e freios a tambor redimensionados.

Com a A0 picape, a receita será parecida: trem dianteiro herdado provavelmente do T-Cross, cabine do A0 SUV com rearranjos, design próprio e traseira reforçada para o transporte de carga, com uma capacidade na ordem dos 600 kg. Ainda assim, a suspensão traseira também deve ser por eixo de torção e os freios traseiros, a tambor.

É uma proposta muito diferente da Tarok, que usava a base MQB-A de Taos, Tiguan e Golf, mais sofisticada, e que, por isso mesmo, trazia suspensão traseira multilink e previa tração 4x4, exatamente como na Toro. Até o porte da Tarok imitava o da picape da Fiat, enquanto a VW247 terá dimensões mais próximas às de Montana e Oroch.

Por que a A0 picape e não a Tarok

Por questões de custo. Nossa reportagem soube de inúmeras reuniões nas quais executivos da VW tentaram fechar as contas da Tarok, considerando sua plataforma voltada a veículos médios, local de produção – Argentina ou São José dos Pinhais (PR) – e posicionamento de preço.

Afinal, ela viria para brigar com a Fiat Toro, que deriva de uma base de carros compactos (Small Wide) e é fabricada em Goiana (PE), sob um regime especial de tributação voltado a complexos industriais instalados no Nordeste brasileiro. Por essa desvantagem múltipla em termos financeiros, a marca alemã acabou desistindo do projeto original.

Já a A0 picape terá uma matriz de veículos compactos, projeto simplificado e custos reduzidos. Para isso, abdicará de excentricidades como motor a diesel ou tração 4x4, surgindo como uma picape cabine dupla e de quatro portas para uso estritamente urbano, assim como a Montana.

Motorização híbrida

A A0 picape é séria candidata a ser o primeiro produto híbrido flex da Volkswagen no Brasil. A marca já descartou qualquer possibilidade de lançar um produto híbrido no Brasil até o final de 2025, prometendo 15 lançamentos de “modelos elétricos ou flex” nesse período. Os híbridos chegariam “em médio prazo”, justamente a partir de 2026.

A Mobiauto entende que a fabricante já se encontra em estágio avançado de negociações com fornecedores de baterias e componentes para a motorização elétrica auxiliar que compõe os veículos híbridos. O ponto focal de distribuição das baterias, por exemplo, deve ser São Bernardo do Campo (SP).

A A0 picape se beneficiaria desse processo para estrear o propulsor 1.4 eTSI, um híbrido leve flex que manterá os 150 cv de potência e 25,5 kgfm de torque do atual propulsor 250 TSI, com a diferença de ser mais econômico e eficiente em emissões de poluentes, por operar em Ciclo Miller. O câmbio deve ser sempre automático de seis marchas da Aisin.

Nas versões mais básicas, a A0 picape deve utilizar o motor 1.0 TSI turbo flex de três cilindros que já conhecemos. Há chances de termos uma opção de entrada manual, com 116 cv de potência e 15,8 kgfm de torque. As intermediárias usariam a variante 200 TSI automática, com 128 cv e 20,4 kgfm. As de topo ficariam com o motor 1.4 eTSI híbrido leve flex de 150 cv.

Onde a VW A0 picape será produzida

O martelo ainda não estaria batido, mas há fortes indícios de que a VW247 será produzida em São José dos Pinhais, dividindo a linha com o T-Cross. Seria mais uma mostra de que ela beberia uma boa dose da fonte do SUV em seu conjunto mecânico.

Projeção A0 picape: Renato Aspromonte/Mobiauto
Imagens: Divulgação