Converter carro para GNV vale a pena? Veja opinião de quem fez

Quem usa GNV defende a adaptação, mas é importante se atentar a detalhes que podem comprometer o veículo e frustrar expectativas
Renan Bandeira
Por
03.04.2021 às 08:00
Quem usa GNV defende a adaptação, mas é importante se atentar a detalhes que podem comprometer o veículo e frustrar expectativas

Com os preços dos combustíveis nas alturas, uma das saídas encontradas pelos motoristas tem sido a conversão de seus carros para GNV. Nossa reportagem já mostrou quanto a busca pelo kit aumentou nos últimos meses. Agora, conversamos com donos de modelos já convertidos para saber se realmente vale a pena.

Encontrar críticas ao GNV em grupos e fóruns de proprietários de carros equipados com o kit é uma missão praticamente impossível. O motivo é simples: o litro da gasolina já chega a R$ 8 em algumas regiões do Brasil, enquanto o gás tem preço médio de R$ 3,40 por metro cúbico.

Além disso, estados como Rio de Janeiro e Paraná oferecem incentivos para a conversão. Eles cobram apenas 1,5% e 1%, respectivamente, de IPVA em relação à Tabela Fipe dos veículos - consulte a tabela do seu veículo aqui -, enquanto os flex têm cobranças de 4% e 3,5%, na mesma ordem.

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Com tudo isso, a resposta é unânime e os entrevistados afirmaram que vale a pena ter o gás instalado no veículo. No entanto, existem algumas ressalvas que devem ser consideradas para avaliar se o uso do GNV mais ajuda ou atrapalha.

O militar da Força Aérea Mattheus da Silva, que mora no Rio de Janeiro (RJ), é um entusiasta de viagens e dono de um Chevrolet Tracker 2008 convertido. Ele está em seu terceiro veículo a gás, e falou sobre a experiência - às vezes infeliz - de abastecer o cilindro.

“Quando estamos [ele e a esposa] em viagem e não encontramos GNV, bate uma dor no coração de colocar gasolina. Longe das grandes cidades tenho dificuldades de abastecer, sim. No interior, fica um pouco mais complicado, mas, nas capitais e grandes centros, é mais fácil encontrar”, relatou.

Para desviar dessa dificuldade, Mattheus indica para novos motoristas o uso do aplicativo GNV Brasil, que mapeia todos os postos do país que abastecem com o gás. 

Quem usa GNV defende a adaptação, mas é importante se atentar a detalhes que podem comprometer o veículo e frustrar expectativas

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O único problema que não tem jeito é o espaço do porta-malas, que fica comprometido com a instalação dos cilindros.

Em defesa do GNV, o militar afirma que nunca teve problemas mecânicos com o uso do combustível, um assunto que é bastante questionado por conta do gás não ser lubrificante como a gasolina e diesel, por exemplo - e que vamos explicar melhor no fim do texto.

“Tive Palio, Sandero e, agora, tenho o Tracker GNV. Nunca tive nenhum problema. Só voltei na instaladora para pôr um cilindro maior e ter mais autonomia”, disse Mattheus.

O técnico de segurança no trabalho Roney Teixeira, de Cabo Frio (RJ), afirmou que era um dos críticos do uso de GNV nos carros, mas se rendeu ao gás e tem o kit instalado em seu Toyota SW4 2017 há um ano. 

“Sempre tive carros como Corolla e Fusion, e condenava muito o uso de GNV em veículos por achar que eram adaptações agressivas ao motor. Mas resolvi estudar e percebi que não há problemas com o GNV e, sim, com outros combustíveis adulterados”, contou Teixeira.

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Para ele, além disso, a economia com a conversão é fator fundamental. “Hoje, com os valores dos combustíveis, confirmei ainda mais minha alegria. Possuo um veículo caro e, com a economia do GNV, consigo pagar um seguro”, acrescentou Roney, referindo-se também ao desconto do IPVA em seu estado.

Ele apontou que uma das coisas que o incomodam é a necessidade de ter de fazer uma vistoria anual no veículo, algo que não ocorreria caso seu SW4 não tivesse sido convertido.  Outra queixa é a perda de cerca de 15% da potência do SUV por causa da conversão, segundo as contas do proprietário.

“Como meu motor é forte e o kit é G5 [geração mais moderna do GNV disponível], a potência não faz tanta falta, pois [o sistema] injeta combustível [do tanque convencional] quando necessário”, ponderou. “Já subi a Serra de Teresópolis com carro cheio. Agora, em um carro 1.0 eu não colocaria [o kit]”, concluiu.

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Já o engenheiro mecânico Thiago Neves, também da capital do Rio, que tem carros adaptados para funcionar a gás desde 2003 e atualmente é dono de um Peugeot 207 2012 convertido para GNV, ressaltou a importância de manter a manutenção em dia para evitar problemas.

“Se seu carro estiver com revisões feitas e suspensão traseira reforçada com molas próprias para carro com GNV, não haverá problemas. E olha que eu tive desde carros carburados até carros eletrônicos”, afirmou.

Segundo Neves, saber se a conversão vale a pena financeiramente demanda um exercício de cálculo, mesmo em estados que estimulam a conversão via subsídios no IPVA, como o RJ.

Quem usa GNV defende a adaptação, mas é importante se atentar a detalhes que podem comprometer o veículo e frustrar expectativas

“Vale mais a pena quando você roda pelo menos uns 1.000 km por mês ou tem um carro que custe pelo menos R$ 90.000. É quando o kit se paga sozinho na redução do imposto do ano seguinte”, comparou.

O valor para instalar um kit gás está na faixa de R$ 3.200 a R$ 4.500, segundo apuração da Mobiauto, dependendo da região.

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Especialista: cuidados necessários e possíveis problemas

A nossa reportagem procurou o instrutor da escola técnica Senai, Aguinaldo Ferreira, que é especialista em motores ciclo Otto e Diesel, para apontar as complicações que o motor do seu carro pode ter se o GNV não for instalado e/ou utilizado de forma correta.

Segundo Ferreira, a primeira lição é entender que estamos lidando com um combustível seco  sem o poder lubrificante presente na gasolina, no diesel e até no etanol. 

“Essa característica [de lubrificação] é muito importante na primeira partida a frio do carro. Então, se eu fizer sempre a primeira partida no GNV, com motor frio, haverá um desgaste maior entre haste de válvulas e guias de válvulas no cabeçote”, explicou.

Em kits mais antigos, as oficinas especializadas em GNV costumavam orientar os donos a dar partida nos carros usando “combustível de fábrica”. A quinta geração do sistema já permite a alternância de maneira mais fácil entre os tanques, mas muitos proprietários ainda optam por ligar o carro no GNV, para economizar ainda mais.  

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Os cuidados não param aí. O instrutor ainda afirmou que o uso do gás natural pode carbonizar as sedes de válvulas no cabeçote e a face de assentamento das válvulas, prejudicando o funcionamento do motor. 

“A vedação entre a sede e a face começa a ficar mais rugosa [após a carbonização], e essa rugosidade leva ao vazamento da compressão, fazendo com que a pressão dentro do cilindro e a temperatura na câmara de combustão seja mais baixa, diminuindo a eficiência energética”, completou.

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Assim, o especialista passou duas dicas para usar carros com GNV sem risco de enfrentar problemas:

Dica 1: nunca dê partida e saia andando direto com o carro frio no GNV. Ligue o veículo e rode os primeiros quilômetros alimentando-o com o combustível líquido do tanque original. Só depois faça a troca para o gás. Alguns km antes de finalizar o trajeto, repita o processo: troque o GNV para a gasolina, o etanol ou o diesel até desligar o carro.

Dica 2: atente-se às manutenções preventivas, troque o óleo do motor e o filtro do óleo nos prazos corretos.

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