Como as marcas chinesas vão tirar Fiat e Volkswagen da zona de conforto

Chegada de BYD e GWM mudam o cenário dos carros chineses no Brasil, que antes era de ostracismo e que passará a bater de frente até com Jeep e Toyota
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14.03.2023 às 11:18 • Atualizado em 12.04.2023
Chegada de BYD e GWM mudam o cenário dos carros chineses no Brasil, que antes era de ostracismo e que passará a bater de frente até com Jeep e Toyota

Esta semana a chinesa GWM finalmente divulgou os preços de toda sua linha de carros no Brasil. Três modelos Haval H6 já estão em pré-venda no mercado com preços bem competitivos (mas não baratos, pela categoria dos carros). Inclusive, a Mobiauto já contou mais sobre isso nesse outro artigo.

O Haval H6 Premium HEV (híbrido convencional) vai direto no coração do Toyota Corolla Cross Hybrid com o preço de R$ 209.000. O carro chinês é maior e dá um banho de potência (243 cv contra 122 cv do Toyota), sem contar que tem um acabamento superior e uma lista interminável de itens eletrônicos de segurança, conectividade e tecnologia. 

O Haval H6 Premium PHEV (híbrido plug-in) compra briga num segmento mais sofisticado, o do Jeep Compass 4xe. Além de ser mais potente (393 cv contra 240 cv) e entregar mais torque (77,7 kgfm contra 38,7 Nm), o SUV chinês é mais em conta: a diferença de preços entre os dois híbridos plug-in passa de R$ 69 mil reais. O Haval H6 custa R$ 269.000 e o Compass 4xe sai por R$ 338.400.

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De quebra, os chineses ainda contam com o Haval H6 GT, que custa R$ 299.000, oferecendo aos brasileiros endinheirados a chance de comprar um SUV esportivo abaixo de R$ 300 mil. E, com isso, outras marcas também são afetadas pela investida da GWM com seu “trio elétrico” Haval. 

Mas não é só isso. Outra chinesa, a BYD, estaria por um fio para anunciar a compra da fábrica da Ford em Camaçari (BA). Porém, conforme reportagem de Paula Gama, o acordo entre a BYD e o governo da Bahia avança na questão da mobilidade urbana. Resta saber se o presidente Lula voltará da viagem à China com um trunfo midiático: a substituição da Ford pela BYD na produção de carros na Bahia.

Mais do que isso, se a BYD realmente começar a produzir carros no Brasil, eles certamente serão eletrificados. No mínimo, híbridos na fase inicial, como também é o plano da GWM para Iracemápolis (SP), na fábrica que comprou da Mercedes-Benz. 

Para muitos analistas, embora seja menor atualmente em volume, a BYD tem mais potencial do que a GWM por ser a terceira fabricante de veículos mais valorizada do mundo, atrás apenas da Tesla e da Toyota - pois ultrapassou nada menos que a gigante Volkswagen.

Chegada de BYD e GWM mudam o cenário dos carros chineses no Brasil, que antes era de ostracismo e que passará a bater de frente até com Jeep e Toyota.

A China já superou há muito tempo a discussão entre carros elétricos e carros a combustão, que persiste no Brasil devido ao lobby da Anfavea a favor do etanol e dos interesses da Stellantis e da própria Volkswagen. Para marcas populares como Fiat e Volks, que já estão investindo montanhas de dinheiro na Europa e na China, quanto mais o Brasil continuar com os carros a combustão, melhor, pois elas ganham muito dinheiro aqui sem ter que reinventar a roda.

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Mas os carros chineses estão entrando na briga e isso vai mudar o cenário. Para a China, quanto mais mercados estiveram abertos para os veículos 100% elétricos, melhor. E o Brasil, com o tamanho que tem, pode ser um mercado poderoso para eles. Se a alíquota de imposto zero para carros 100% elétricos persistir por mais uns dois ou três anos, carros chineses a bateria vão invadir o mercado e criar um novo tipo de consumidor. 

Os jovens não discutem se o futuro vai ser elétrico, conectado e descarbonizado – eles fazem questão disso, como resposta a gerações anteriores que encardiram o mundo, destruíram o meio ambiente, aqueceram o planeta e colocam suas vidas (a dos jovens) em risco. Os carros fazem parte desse mundo, queiram ou não os incautos.

Ainda é cedo para saber que papel terão a Caoa Chery e a JAC Motors nesse novo cenário. A Caoa já tem produção local em parceria com a Chery, mas a montadora chinesa pretende fabricar carros 100% elétricos na Argentina. Isso pode ser um sinal de que os chineses enxergaram muito potencial no mercado sul-americano (a Argentina já se decidiu pelo carro elétrico) e não querem ficar reféns da estratégia conjunta que podem ter com a Caoa.

Quanto à JAC, pode crescer se conseguir uma boa evolução de seus carros agora que teve grande parte de sua operação na China comprada pela Volkswagen. Enquanto isso, a GM assiste de camarote e torce pelo sucesso dos carros chineses no Brasil, pois isso facilitará sua intenção de ter uma Chevrolet 100% elétrica a partir de 2035, decisão que já está tomada, independentemente da escolha que o Brasil fizer. 

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Caso o Brasil não tenha fôlego para produzir carros elétricos, a GM vai fazer igual à Ford: passará a ser uma importadora e produzirá em outros países; na Argentina, por exemplo. Podem ter certeza: não haverá um Onix ou Tracker ou Montana a combustão na linha Chevrolet 2035. Isso já está decidido por Detroit.

Como se vê, a guerra dos chineses está apenas começando. Desta vez a briga não é com veículos mal construídos e cheios de equipamentos, como no comecinho da década de 2010, mas sim com veículos de padrão global e que estão trazendo tecnologias novas, a ponto de emparedar carros de marcas fortes como Toyota e Jeep.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.


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