Avaliação: Ford Mustang Mach E é um pecado bom de cometer

Modelo comete a heresia de usar o nome Mustang em um SUV elétrico, mas te faz esquecer todos os preconceitos e rejeições na primeira acelerada
LF
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06.11.2023 às 13:30
Modelo comete a heresia de usar o nome Mustang em um SUV elétrico, mas te faz esquecer todos os preconceitos e rejeições na primeira acelerada

Transformaram o Ford Mustang, tradicional muscle V8, em um SUV. Mais precisamente um SUV cupê. Pior: elétrico! Para ojeriza dos puristas. E assim nasceu o Ford Mustang Mach E, primeiro carro elétrico da marca do oval azul lançado no Brasil. Colocar o nome Mustang em um SUV elétrico pode soar uma heresia, um pecado. Mas olha... É um pecado bom de cometer.

A Mobiauto teve oportunidade de rodar com o Mach E no campo de provas da Ford em Tatuí (SP). E gostamos muito da experiência. O novato chega ao Brasil em versão única de acabamento, GT Performance, com 487 cv de potência, 87,7 kgfm de torque e preço de R$ 486.000. Neste artigo, descrevemos todas as novidades.

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Aqui, focaremos nas primeiras impressões ao rodar com a máquina. O SUV conta com dois motores elétricos idênticos, síncronos de ímãs permanentes, com 250 cv de potência e 45 kgfm de torque cada. É a soma deles, com distribuição de peso de 50:50, que forma uma máquina muito divertida de guiar e, ao mesmo tempo, estável, apesar das quase 2,2 toneladas de peso.

Confira oito pontos que achamos excelentes no modelo e quatro que poderiam ser melhores.

Ford Mustang Mach E GT Performance 2023 – Preço: R$ 286.000

Ford Mustang Mach E – 8 pontos positivos

1.       Desempenho

O Ford Mustang Mach E GT Performance anda demais! E não estamos baseando essa afirmação na aceleração oficial de 0 a 100 km/h. Que, por si só, já surpreende – e você vê na ficha técnica logo abaixo. O SUV cupê tem torque instantâneo fenomenal, a ponto de espantar um passageiro mais desatento em um kickdown descompromissado.

Constatamos isso ao rodar com ele no campo de provas da Ford em Tatuí (SP), em uma pista sem limite de velocidade. Alcançamos 180 km/h quase num instalar de dedos, e a dupla de motores elétricos de 250 cv e 45 kgfm cada, instalados um sobre cada eixo, demonstrava elasticidade suficiente para muito mais. O limite eletrônico de 200 km/h é isso mesmo: um limite para tanta força.

2.       Dirigibilidade

Além disso, é um veículo muito estável. Fizemos curvas de alta velocidade a cerca de 150 km/h com o volante pouquíssimo esterçado. Qualquer sinal de sobre-esterço foi rapidamente contido pelas babás eletrônicas.

Já as suspensões dotadas do sistema Magneride, com um campo magnético central capaz de fazer a leitura do comportamento da carroceria em milésimos de segundo, contêm as inclinações laterais e longitudinais de um carro com quase 2,2 toneladas de maneira magistral.

3.       Aerodinâmica

Apesar de ser um SUV cupê comprido, largo, musculoso e pesado, o Mustang Mach E tem apenas 0,292 de coeficiente de arrasto. É número digno de cupê esportivo, e que o ajuda ainda mais a ter acelerações muito vigorosas.

4.       Design

O Ford Mustang Mach E é um carro “disruptivo”, se me permitem o uso de uma palavra cansada de tão na moda que está. SUV, elétrico... Qualquer dono de um Mustang V8 tenderá a torcer o nariz para ele. Mas uma coisa é fato: visualmente, ele faz jus ao nome, com elementos condizentes com o DNA da família – como as lanternas tripartidas – e uma cara malvada, como todo Mustang deve ser.

5.       Espaço interno

Os mais de 2,98 m de entre-eixos não poderiam significar outra coisa que não fosse um espaço interno absurdamente generoso para ombros e pernas em todas as posições. Ao mesmo tempo, o banco de baterias posicionado no assoalho e o estilo cupê, sem tanta altura assim, não comprometem tanto o espaço para a cabeça assim.

O modelo ainda aproveita o uso de motores elétricos pequenos para ter dois compartimentos de carga, o porta-malas convencional de 402 litros e um bagageiro adicional de 139,5 litros. No total, são 541 litros de volume para malas e mochilas.

6.       Teto panorâmico

Todo o acabamento interno do Mustang Mach E GT Performance agrada (com exceção à base dos cintos de segurança dianteiros, cujo cabo fica exposto), mas o grande destaque da cabine vai para o teto panorâmico.

Mais do que ter proteção contra raios ultravioleta e capacidade de reter o calor, a fim de não sobrecarregar o ar-condicionado em dias de frio, ele é enorme e preenche praticamente toda a extensão do teto. Curiosamente, a Ford emoldura o vidro por fora com um material termoplástico, que se estende até o spoiler e passa a impressão de que o SUV cupê tem pintura bicolor, mesmo que não tenha de fato.

7.       Ronco fake

Você provavelmente torcerá o nariz para este tópico, mas é tudo uma questão de perspectiva. Se é para ter um ruído falso na cabine, melhor um ronco híbrido entre carro elétrico e a combustão, agradável aos ouvidos, do que um incômodo som de nave espacial. A sacada é justamente que o barulho executado internamente se assemelha ao de um motor térmico esportivo, mas sem exageros.

8.       Alívio de peso

Lembra do termoplástico no teto que mencionamos logo acima? Além dele, a Ford utiliza plástico poliuretano na formação da tampa do porta-malas, além de alumínio em outros elementos da carroceria. Tudo para aliviar peso. Afinal, só de baterias temos 596 kg, sendo quase 2,2 toneladas de peso em ordem de marcha.

E antes que você torça o nariz, saiba que marcas de luxo, como Porsche e BMW, fazem o mesmo em modelos como Taycan, iX ou até o esportivo a combustão M3. Desde que sejam elementos não estruturais do chassi, ou seja, que não interferem na segurança a bordo, está tudo bem.

Ford Mustang Mach E – 4 pontos que poderiam ser melhores

1.       Quadro de instrumentos

Apesar de digital em tela flutuante de 10,2 polegadas, mudar suas configurações é um exercício que o motorista poderá levar algum tempo para aprender. Eu mesmo fiquei com o carro por cerca de meia hora e não consegui. Talvez o problema seja eu. Talvez seja o cluster mesmo.

2.       Central multimídia

Também não é lá tão amigável ou intuitiva. Difícil encontrar os ajustes mais importantes do veículo, como os quatro modos de condução (Engage (Normal), Whisper (Escorregadio), Unbridle (Sport) e Unbridle extended (Sport+).

O que fica mais à mostra são os comandos do ar-condicionado – 100% digitais, mas pelo menos separados do restante do sistema, na base da tela de 15,5 polegadas – e o acesso a mais de uma dezena de jogos a bordo. Pelo menos o divertimento está garantido.

Destaque para o seletor giratório físico, ao centro e na base da tela, que você pode alternar entre ser um controlador do nível de ventilação do ar-condicionado ou do volume do impressionante sistema de som Bang&Olufsen, com 560 Watts de potência (sendo nove alto-falantes, subwoofer e amplificador de seis canais).

3.       Pós-venda

Todas as 110 concessionárias da Ford estarão aptas a vender o Mustang Mach E. Mas apenas 50 são especializadas em fazer revisões ou manutenções do elétrico, o que pode comprometer o pós-venda.

4.       Recarga

A capacidade de recarga do Mustang Mach E não é um problema. Pelo contrário: suportar até 150 kW de carregamento rápido é basicamente o limite do que um carro elétrico consegue em dias atuais. Porém, como suas baterias são muito grandes, uma recarga lenta em wallbox de 7 kW levará cerca de 14 horas!

Ford Mustang Mach E GT Performance 2023 – Ficha técnica

Motor dianteiro: elétrico, transversal, síncrono de ímãs permanentes
Motor traseiro: elétrico, transversal, síncrono de ímãs permanentes
Potência dianteira: 
250 cv
Torque: 
45 kgfm
Potência traseira: 250 cv
Torque traseiro:
45 kgfm
Potência combinada:
487 cv
Torque combinado: 87,7 kgfm
Peso/potência: 4,43 kg/cv
Peso/torque: 24,6 kg/kgfm
Câmbio: automático, marcha única
Tração: 
integral
0 a 100 km/h: 3,7 s
Velocidade máxima: 200 km/h (limitados eletronicamente)

Bateria: 12 módulos, íons de lítio NMC (níquel-manganês-cobalto)
Capacidade: 91 kWh
Autonomia Inmetro: 379 km
Recarga DC (rápida): 80% em 40 minutos (até 150 kW)
Recarga AC (wallbox): 100% em 14 horas (até 7 kW)

Dimensões e capacidades: 4.743 mm de comprimento, 2.984 mm de entre-eixos, 1.881 mm de largura, 1.623 mm de altura, 402 litros de porta-malas traseiro, 139,5 litros de bagageiro danteiro, 450 kg de carga útil, 2.157 kg de peso em ordem de marcha.

Dados técnicos: direção elétrica; suspensão McPherson (dianteira) e MultiLink (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); diâmetro de giro, 11,6 m; coeficiente aerodinâmico, 0,292 Cx; vão livre do solo, 12,9 cm; ângulo de ataque, não divulgado; ângulo de saída, não divulgado; ângulo de transposição de rampas, não divulgado; pneus, 245/45 R20; estepe por kit de reparo emergencial.

Ford Mustang Mach E vale a pena?

Pelo nível de desempenho e esportividade, sim. O Mustang Mach E é mais rápido do que o convencional Mustang Mach 1 com motor V8 Coyote 5.0, que vai de 0 a 100 km/h em 4,3 s, ou 0,6 s a mais. Com a vantagem de ser (muito) mais espaçoso para rodar com a família toda.

O Ford Mustang Mach E GT Performance também é um carro com presença visual e ótima dose de conforto. E tem um preço relativamente competitivo. Peca, talvez na intuitividade de seus sistemas de conectividade, mas nada que com o tempo não se aprenda.

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