A dura verdade sobre as vendas de carro zero no Brasil em 2022

Em cenário de renda baixa, população endividada e financiamento restrito, indústria está cada vez mais dependente das vendas diretas
LF
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04.11.2022 às 15:30
Em cenário de renda baixa, população endividada e financiamento restrito, indústria está cada vez mais dependente das vendas diretas

 Foi-se o tempo, há tempos, em que a indústria automobilística brasileira vivia a esperança de uma expansão que posicionasse nosso país, de modo perpétuo, entre os maiores mercados mundiais do setor. Tal otimismo foi soterrado quase uma década atrás, e ainda não se sabe se um dia será retomado.

Desde então, o que vivemos é uma espécie de contínua e perene ressaca, temperada a crises econômicas, fanatismo que remete ao movimento integralista dos anos 1930, população empobrecida e anúncios constantes de fábricas fechando. Nosso mercado recebe foco cada vez menor das matrizes quando se trata de soluções desenvolvidas para nossa realidade.

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Com a inflação alta dos últimos dois anos, a perda do poder de compra da população e um índice de endividamento que já atinge quase 80% dos brasileiros, chegamos a um cenário no qual basicamente só as classes A e B são capazes de comprar carro zero-quilômetro.

Tudo isso se reflete nos financiamentos de veículos novos, que caíram cerca de 10% nos primeiros dez meses de 2022 em relação ao ano anterior, que já não foi o melhor dos períodos nesse sentido. E isso impacta sobremodo o volume de vendas.

O resultado desta equação aparece cristalino no relatório de emplacamentos da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) de outubro: 53,25% ou mais da metade dos menos de 170.000 automóveis e comerciais leves emplacados no período foram vendidos na modalidade “venda direta”.

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Estamos falando de negócios feitos com empresas, frotas, pessoas físicas que compram com CNPJ para obter desconto e, principalmente, locadoras. Ou seja, o mercado brasileiro está cada vez mais dependente das vendas de veículos para outras empresas, e não para o consumidor final.

Nada contra as vendas diretas, que possuem um papel importante no mercado. Tudo bem que elas cresçam, desde que aconteçam como um complemento do mercado de varejo. É aqui que está o problema, pois, em vez de operara de modo saudável, vem definhando no Brasil.

Um varejo enfraquecido significa uma rede de concessionárias e atendimento a clientes empobrecida, e montadoras tendo que trabalhar com margens apertadíssimas para não perder volume nem colapsar a produção nas fábricas. O que, por sua vez, provoca fortes impactos entre os fornecedores de componentes.

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Não há solução mirabolante para o tema. A classe média brasileira voltará a comprar ou assinar ou financiar carro novo quando tiver condições financeiras para tal. Para isso, precisa ter uma renda melhor, inflação controlada e estar menos endividada. 

A receita é simples, mas ao mesmo tempo desafiadora para um novo governo que se formará. Apenas aumentar o acesso ao crédito sem os fatores listados acima não será solução para ninguém. Será preciso uma ação orquestrada de recuperação do poder de compra da população em várias frentes.

É hora de deixarmos as ideologias de lado e abraçarmos um plano pragmático de recuperação econômica e da renda de nossa população. Só assim o mercado brasileiro de carros será capaz de sair dessa ressaca e voltar ao otimismo que já experimentamos um dia. 

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto. 

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