Por que os brasileiros ainda abominam os carros elétricos?

Carros elétricos são o futuro (e também o presente) e têm uma série de haters em redes sociais
RM
Por
22.02.2024 às 20:55
Carros elétricos são o futuro (e também o presente) e têm uma série de haters em redes sociais

Desde que as redes sociais se alastraram pelo mundo afora como “formadoras de opinião”, confundindo a gosto dos autores com o trabalho dos jornalistas, o mundo automotivo virou de rodas para o ar. Ter o microfone (ou o teclado) às mãos virou sinônimo de poder. E, muitas vezes, de lacração.

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Você já leu postagens, ou viu alguns vídeos, seguramente, de personagens que odeiam, simplesmente abominam, a ideia de ter energia elétrica como fonte de combustível para um automóvel. Há quem caia no ridículo de garantir que, em toda a cadeia energética de produção do veículo ou de extração da fonte de energia, o carro elétrico até polui mais.

Gente.

Tenho visto alguns desses influenciadores com um empenho fora do comum para derrubar a atratividade dos veículos eletrificados. Já vi muitos comentários de leitores que chegam a questionar o motivo de tanta ira contra os elétricos, suspeitando que haveria algum benefício financeiro vindo de quem produz veículos a combustão. Vou te dizer: trabalho há mais de 30 anos nesse meio. E nunca vi esse tipo de tramoia. O cara quer aniquilar carro elétrico porque não gosta. O escritor Umberto Eco dizia que “a internet deu voz aos imbecis”. Diria que “também” aos imbecis.

Repare. Está cheio de influencers por aí que vociferam impropérios contra carros híbridos e elétricos, como se a diversidade, desde os tempos do Ford Modelo T, não fosse algo inerente ao mercado automotivo mundial.

Resposta para eles: Calma, cabe todo mundo.

Em outras palavras: todos os carros tinham uma carroceria tipo “calhambeque” e saíam pintados de preto das linhas de montagem de Henry Ford. Alguém lá atrás descobriu que “podia ser que alguém gostasse de branco”. Outro gênio percebeu que um carro não precisava ter só quatro portas. Podia ter duas. Ou três. E as décadas seguintes comprovaram que carros poderiam continuar sendo carros, fossem eles sedãs, cupês, peruas, roadsters, minivans, picapes... até SUV é carro!

Qual o problema, então, de ter uma “alternativa energética” aos modelos a combustão?

Eu, por exemplo, a despeito de reconhecer a valia dos utilitários-esportivos, que dominam quase 50% das vendas de carros novos no Brasil, decidi que nunca terei um. Não gosto. Não vou comprar. Nem que, para isso, eu continue insistindo em rodar com carros usados até o fim da vida. Mas não é porque eu não gosto... que eu tenho o direito de crucificar aquela categoria de veículos.

Veículos elétricos puros sempre terão um impeditivo natural de se tornarem únicos no mercado mundial: a autonomia. Você pode encher as rodovias de carregadores, criar baterias sólidas e aprimorar cada vez mais a densidade energética para incrementar o desempenho – ainda assim, as viagens longas continuarão sendo um risco. “Ah, mas o mesmo pode acontecer com carro a gasolina: você fica sem uma gota no meio da estrada e o carro para”. Verdade. Só que aí você pega uma carona, para num posto, compra um recipiente de 5 litros de gasolina, retorna ao carro, usa o funil e... problema resolvido. Energia elétrica engarrafada... parece que não temos.

Ao contrário de rodovias, entretanto, a experiência de rodar no dia a dia das cidades com um carro elétrico é excepcional. Além de muito mais econômico, você ganha um carro mais silencioso, que não tem ruídos ou vibrações. Nessa circunstância, ele se torna imbatível, principalmente para quem possui pontos particulares de recarga, seja em casa ou no trabalho, e não depende de recargas de postos públicos. É o melhor dos mundos. E repito: essa é só mais uma alternativa.

Quanto aos híbridos, há outro pênalti aparentemente insolúvel. O funcionamento desse tipo de veículo é genuinamente complexo. Você possui um motor a combustão, outro elétrico e uma eletrônica complicadíssima para gerenciar o funcionamento dos dois sistemas.

Vamos lembrar que a frota brasileira é composta de milhões de veículos com idade média acima de 10 anos. Se a média é de 10, isso quer dizer que há muitos carros com 15 ou 20 rodando normalmente, certo? Adivinhe o que vai acontecer quando um híbrido, daqui a 15 ou 20 anos, pifar algum módulo eletrônico? Qual será o custo disso e a viabilidade de se fazer a manutenção adequada, considerando o valor de mercado de um carro com duas décadas de uso?

O medo de ficar com um carro elétrico parado no meio da estrada, bem como o de ver um híbrido se desvalorizar muito rápido no mercado de usados em razão do alto custo de manutenção são dois ingredientes que, por si só, prometem a continuidade por longos anos de modelos a combustão. Bem diferente do que ocorreu com as peruas, que eu perdi a chance de adquiri-las porque não existem mais, o cara que gosta de motor a gasolina continuará sendo “abastecido” com opções de mercado no futuro.

Não precisa achincalhar os eletrificados para defender o que você gosta. A não ser que você seja bobo mesmo

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