Avaliação: Renault Mégane E-Tech é tudo que o Duster queria ser

Crossover elétrico chega como novo modelo aspiracional da marca e querendo brigar com Volvo EX30 e BYD Yuan Plus
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21.09.2023 às 10:00 • Atualizado em 29.09.2023
Crossover elétrico chega como novo modelo aspiracional da marca e querendo brigar com Volvo EX30 e BYD Yuan Plus

Dirigibilidade quase impecável. Estilo de fazer inveja a carros de luxo. Bom nível de equipamentos. Em resumo, o melhor Renault já oferecido no Brasil. Poderíamos estar falando do Captur ou do Duster. Bem que eles gostariam... Mas estamos falando do Megane E-Tech, crossover elétrico que chega após longa espera.

Afinal, a Renault já vinha prometendo o Megane E-Tech para nosso mercado há mais de um ano. E quem lê a Mobiauto sabe que havíamos antecipado sua chegada em primeiríssima mão em janeiro de 2022, 18 meses atrás. Agora, seu lançamento enfim se concretizou, e com a missão de ser o novo “carro-chefe” da marca em termos de estilo e tecnologia.

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O Megane E-Tech cumpre bem esse papel. Tem muito estilo e uma dinâmica exemplar. Porém, sua missão não será fácil: competir contra Volvo EX30, BYD Yuan Plus e Peugeot e-2008 no segmento de crossovers elétricos entre R$ 200.000 e R$ 300.000. Digo crossover porque nem a Renault chama o Megane E-Tech de SUV.

Embora tenha músculos e largura dignos de utilitário esportivo, o modelo é baixo demais. Sua linha de cintura é tão elevada em relação à altura geral que os vidros parecem de brinquedo, ou miniaturas. O nome, conforme você já deve ter percebido, resgata a antiga família Mégane, já vendida antes aqui como sedan e perua.

Sem mais delongas, confira em nossa avaliação em vídeo e na continuação deste artigo os principais atributos e vacilos do Megane E-Tech, que estreia o novo logotipo da marca no País e já está disponível nas concessionárias. O modelo vem importado da Espanha.

Renault Megane E-Tech - Preço: R$ 279.900

Renault Megane E-Tech – 13 Pontos positivos

1)     Visual

Dificilmente alguém haverá de discordar que o Renault Megane E-Tech é um carro bonito. Suas linhas são arrojadas, mas ao mesmo tempo proporcionais. Destaque para as maçanetas escamoteáveis. Os balanços curtos e os vidros pequenos até poderiam incomodar, mas estão tão bem engendrados dentro de sua proposta visual que passam a ser um charme.

Detalhe: suas rodas são de 18 polegadas, mesmo diâmetro de um Fiat Fastback de topo. Porém, enquanto neste o jogo parece pequeno demais, no crossover elétrico da marca francesa ele fica muito bem proporcionado e parece ser até maior. É tudo uma questão de impressão visual.

2)     Sistema de iluminação

Os faróis e lanternas de LED merecem um tópico à parte. Não apenas por serem bonitos, por terem luzes de neblina integradas ao conjunto óptico dianteiro ou trazerem luzes de seta dinâmicas, mas sim porque os faróis possuem um sistema inteligente de iluminação, capaz de ajustar o alcance e a intensidade do facho automaticamente de acordo com a luminosidade externa e a presença de outros veículos ao redor.

3)     Desempenho

Diferentemente de outros elétricos, o Megane E-Tech possui uma motorização simples: um propulsor único, postado sobre o eixo dianteiro, como quase todo carro a combustão. Apesar disso, oferece bons 220 cv de potência e 30,6 kgfm de torque. Mais do que isso, é relativamente leve para um elétrico e muito eficiente do ponto de vista aerodinâmico.

São 1.680 kg em ordem de marcha, sendo apenas 395 kg de baterias – e acredite, é um número baixo –, e um Cx que deve ficar na casa de 0,30 – na Europa, ele alcança 0,29, mas sua suspensão é mais baixa que a da especificação trazida para o mercado brasileiro.

Como o torque de um motor elétrico é entregue quase instantaneamente, suas arrancadas e retomadas são espertas. Não fulminantes, mas boas o suficiente para empolgar o motorista e gerar um 0 a 100 km/h em 7,4 segundos, o mesmo de uma VW Amarok V6.

4)     Dinâmica

Com um centro de gravidade muito baixo e um banco de baterias prensado no assoalho do chassi, o Megane E-Tech demonstra muita estabilidade nas curvas, mesmo sem precisar de um conjunto tão duro de suspensões. Para melhorar, o volante tem relação de direção curta, respostas muito diretas e vai de batente a batente em pouco mais de um giro.

Ou seja, basta apontar o volante um pouco para o lado que o carro responde e contorna curvas com boa dose de maestria. E como o carro é assentado, a sensação é a de estar dirigindo um hatch gigante. E olha que a Renault aumentou o vão livre do solo do Megane E-Tech vendido no Brasil em 2 cm em relação à configuração vendida na Europa. O deleite poderia ser ainda maior.

5)     Autonomia e recarga

Falando em baterias, o conjunto do Megane E-Tech é composto por 12 módulos de 24 células cada, alcançando 60 kWh de capacidade. Não é tanto, mas o nível de densidade das baterias de íons de lítio permite uma autonomia de 495 km em ciclo urbano e 463 km em rodoviário, segundo a norma SAE J 2990 de homologação. Combinados, temos 485 km.

Aplicando-se os 30% de penalidade do PBEV (Programa de Etiquetagem Veicular) do Inmetro, que considera o uso extremamente severo, temos 337 km. São números condizentes com a realidade de carros elétricos vendidos no Brasil hoje, com a vantagem de ter um banco de baterias com menos de 400 kg prensado ao assoalho do chassi.

Por fim, o crossover conta com um criativo sistema hidráulico que aproveita o calor dissipado pelas baterias e pelo motor elétrico para ajudar no aquecimento da cabine e, assim, poupar o sistema de ar-condicionado e economizar energia. Nas regiões mais quentes do Brasil, não chega a fazer tanta diferença, mas no Sul do País este pode ser um bom aliado.

Já a capacidade de recarga é de até 130 kW em corrente contínua (DC), permitindo uma recuperação entre 15% e 80% das baterias em apenas 36 minutos. Em corrente alternada (AC), são até 22 kW em wallbox trifásico, garantindo o carregamento nos mesmos percentuais em 1 hora e 50 minutos.

Renault Megane E-Tech – Tipos de recarga lenta

  • Tomada doméstica de 10A/2,2 kW (mono e bifásico)
  • Terminal doméstico de 32A/7,4 kW (mono e bifásico)
  • Terminal doméstico ou público de 16A/11 kW (trifásico)
  • Terminal público de 32A/22 kW (trifásico) 

6)     Freios regenerativos

O Megane E-Tech oferece quatro níveis de frenagem regenerativa. Assim como no Audi e-tron, eles são facilmente selecionáveis através de shift paddles atrás do volante. Na aleta da esquerda, aumenta-se a intensidade. Na da direita, reduz-se. Na prática, ganha-se um aliado prático para aprimorar o freio-motor sem sobrecarregar os freios e, de quebra, recuperar energia e estender a autonomia do veículo.

7)     Capacidade de manobra

Lembra que falamos que a direção do Megane E-Tech dá pouco mais de duas voltas de batente a batente? Isso é ótimo para manobrar. Para melhorar, seu diâmetro de giro de apenas 10,4 metros é o mesmo de um Chevrolet Onix, apesar de o comprimento e a largura serem de um VW T-Cross (veja dimensões mais abaixo).

8)     Conforto

Mesmo sendo um carro muito bem assentado, o Megane E-Tech proporciona uma boa dose de conforto a bordo. As suspensões são relativamente macias e silenciosas, e não acusam batente ou fim de curso com tanta facilidade. E os 2 cm extras de vão livre do solo ajudam a transpor obstáculos sem sofrimento.

9)     Telas digitais

A dupla de telas digitais do Megane E-Tech não é formado por aquelas telas gigantes que nos acostumamos a ver em carros elétricos mais novos, mas cumprem bem seus papéis. As telas são de boa resolução e fáceis de configurar. No quadro de instrumentos de 12,3 polegadas, temos três modos de visualização: Condução, Zen e Visualização de Bateria.

Já a multimídia de 9 polegadas conta com tela antirreflexo, muito bem-vinda em dias de sol. Além do volante multifuncional, parte dos comandos é feita, adivinhe só, por controles satélites na coluna de direção. Critique o quanto quiser, mas se não fosse assim, não seria um Renault.

10)  Aproveitamento de materiais

Legal por parte da Renault aproveitar materiais recicláveis para compor o acabamento interno. A cada unidade, são mais de 20 kg de plástico reciclado formando, em especial, partes não visíveis dos painéis. Nos bancos, vão outros 2 kg de tecido reciclado nas faixas centrais.

11)  Segurança e ADAS

O pacote de segurança do Megane E-Tech é robusto. Além de sete airbags, o elétrico conta com o pacote completo de assistências semiautônomas de condução, incluindo ACC com função Stop&Go, frenagem autônoma emergencial dianteira e traseira a baixas velocidades – entre 3 e 10 km/h –, assistente ativo de permanência em faixa (que funciona muitíssimo bem).

No cluster, há informações em tempo real sobre os veículos que trafegam nas três faixas de rolagem mais próximas do carro, com direito a distinção entre moto, automóvel e caminhão nos desenhos. E há, por fim, um alerta dinâmico de proximidade para o veículo à frente, que avisa em tempo real a distância em segundos para uma possível colisão.

Testamos todos esses sistemas no vídeo. Assista e confira.

12)  Porta-malas e porta-objetos

Surpreendente o volume do porta-malas do Megane E-Tech. Apesar de ter altura de hatch, comprimento e largura de SUV compacto, ele oferece 440 litros no bagageiro, mesmo número de um Toyota Corolla Cross. E o espaço ainda traz uma divisória extra para guardar o cabo de carregamento. Obrigado, Renault!

Os porta-objetos também São abundantes na cabine, com direito a um porta-trecos gigante sob o console central suspenso, e um carregador de celular por indução também suspenso, abaixo da tela multimídia.

Renault Megane E-Tech – 7 Pontos que poderiam ser melhores

1)     Preço

Ok, o Megane E-Tech é muito estiloso e, dinamicamente, o melhor Renault que já tivemos no Brasil. Mas tinha que custar mais barato, especialmente em um cenário no qual as chinesas GWM e BYD, e até a Volvo, estão apostando em preços agressivos para modelos elétricos tão estilosos quanto e até mais equipados e fortes do que este.

2)     Acabamento

Louvável o uso de materiais recicláveis na construção da cabine, mas não justifica a simplicidade do acabamento, tanto pelo excesso de plástico rígido no interior quanto pela ausência de uma cobertura para os componentes do conjunto elétrico no capô, que outros modelos do segmento trazem. Nem mesmo a iluminação ambiente com 48 cores diferentes reduz a sensação de relativa simplicidade a bordo.

Detalhe: mesmo custando mais que o dobro do preço, o Megane E-Tech traz um capô por abertura manual, e que precisa ser travado usando a velha vareta metálica. Um Duster, um Captur e até um Sandero possuem abertura amortecida por amortecedores pneumáticos.

3)     Isolamento acústico

Um dos maiores pecados deste modelo. Ouvimos muito o barulho de vento e de rolagem dos pneus a bordo. Tudo bem que o Megane E-Tech não possui ronco de motor – aliás, felizmente a Renault não cria um ruído falso de nave espacial para reforçar que se trata de um elétrico –, mas outros modelos do tipo também não têm e isolam melhor os barulhos externos.

4)     Espaço interno

Não chega a ser ruim, mas para um carro que tem entre-eixos maior que o do próprio Duster, esperava-se um vão mais generoso para as pernas na fileira traseira. O assoalho plano ajuda, mas o console central invade o espaço que seria para as pernas do ocupante traseiro central. Para a cabeça, como seria de se esperar, o Megane E-Tech também fica devendo, visto que é um carro relativamente baixo em relação às suas demais dimensões.

5)     Equipamentos de conforto

Para seu preço, o Megane E-Tech deveria oferecer regulagem elétrica dos bancos dianteiros, uma central multimídia maior – conforme o mesmo modelo oferece em versões de topo na Europa –, um porta-malas com abertura elétrica e um porta-luvas com abertura amortecida. Faltou, inclusive, um teto solar. Aliás, um carro estiloso como este clama por um item assim.

6)     Cabo de carregamento

Segundo a Renault, o Megane E-Tech vem de série apenas com um carregador simples do Tipo 2 (Modo 3). Pelo preço, poderiam mandar um wallbox como cortesia aos compradores.

7)     Visibilidade traseira

Como se esperaria de um carro com um vidro traseiro tão pequeno, ela é limitada. Não apenas isso: os retrovisores externos possuem imagem espelhada em zoom, o que atrapalha a noção de profundidade. Surpreendentemente, a câmera no retrovisor interno (que não é a câmera de ré) acaba sendo bem-vinda para ampliar o campo de visão e minimizar os pontos cegos.

Renault Megane E-Tech – Ficha técnica

Motor: elétrico, dianteiro, transversal, síncrono de ímãs permanentes
Potência: 220 cv
Torque: 30,6 kgfm
Peso/potência: 7,64 kg/cv
Peso/torque: 54,9 kg/kgfm
Câmbio: automático, marcha única
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: 
7,4 s
Velocidade máxima: 160 km/h (limitada eletronicamente)

Bateria: íons de lítio, 12 módulos de 24 células cada, prensados no assoalho do veículo
Capacidade: 60 kWh
Recarga:
Até 130 kW rápida DC: 15% a 80% em 36 minutos
Até 22 kW trifásico com wallbox AC: 15% a 80% em 1h50
Autonomia PBEV: 495 km urbano; 463 km rodoviário; 485 km combinados; 337 km com penalidade de 30%

Dimensões e capacidades: 4.200 mm de comprimento, 2.685 mm de entre-eixos, 1.768 mm de largura, 1.519 mm de altura, 440 litros de porta-malas, carga útil não divulgada, 1.680 kg de peso em ordem de marcha

Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensão McPherson (dianteira) e MultiLink (traseira); freios a discos ventilados (dianteira e traseira); diâmetro de giro, 10,4 m; coeficiente aerodinâmico não divulgado; vão livre do solo, 15,5 cm; ângulos de ataque, saída e central não divulgados; pneus 195/60 R18; estepe por kit de reparo emergencial.

Renault Megane E-Tech 2024 - Itens de série

  • Faróis full-LED dinâmicos com DRL, regulagem automática de facho, farol alto automático e luzes de neblina integrados
  • Lanternas e Luzes de neblina traseiras em LED
  • Luzes indicadoras de direção dinâmicas/sequencial
  • Maçanetas externas ocultas e rebatíveis automaticamente
  • Rodas de liga leve Oston 18"
  • Teto bicolor e retrovisores na cor preto Etoilé
  • Sete airbags (2 frontais | 2 laterais | 2 cortina | 1 entre os bancos dianteiros "Far side Airbag")
  • Alerta e frenagem de tráfego cruzado traseiro
  • Alerta e intervenção de ponto cego
  • Assistente de partida em rampa
  • Alerta de colisão frontal
  • Alerta de distância segura
  • Alerta de saída segura dos ocupantes
  • Alerta e assistente de permanência em faixa
  • Retrovisor interno com câmera
  • Controle de velocidade adaptativo (ACC) com Stop&Go
  • Controles eletrônicos de estabilidade e tração
  • Detector de fadiga do motorista
  • Frenagem automática de emergência com detecção de pedestres e ciclistas
  • Monitoramento da pressão dos pneus
  • Sistema Multi-sense com modos de condução Eco, Sport, Comfort e Perso
  • Reconhecimentos de placas de velocidade
  • Alerta de excesso de velocidade
  • Regulagem automática de altura dos faróis
  • QR Code para auxílio em emergências
  • Retrovisores externos elétricos com rebatimento automático, aquecimento e indicador de direção dinâmico
  • Sensores crepuscular e de chuva
  • Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros
  • Câmera de ré
  • Aviso Sonoro para Pedestres
  • Cluster Digital LED de 12,3"
  • Seis alto falantes Arkamys Auditorium
  • Cabo de carregamento Tipo 2 - Modo 3
  • Frenagem regenerativa em quatro níveis
  • Função eco-coaching
  • Central multimídia OpenR 9" com Android Auto e Apple CarPlay sem fio
  • Sistema de aquecimento de baterias
  • Iluminação dinâmica e personalizável no interior
  • Porta-malas com trava elétrica
  • Ar-condicionado automático digital de duas zonas dual-zone com saída traseira
  • Chave presencial do tipo cartão
  • 4 portas USB-C
  • Volante e retrovisores com aquecimento

Vale a pena comprar o Renault Megane E-Tech

Pelo estilo, desempenho, dinâmica e pela experiência do pacote ADAS, certamente. O Megane E-Tech é o melhor Renault já vendido pela marca no Brasil, o que não é pouca coisa. Tem a questão do preço: um Volvo EX30 está aí dando sopa custando menos. Aí só a capilaridade da rede Renault e a expertise da marca no assunto carro elétrico – ela foi a primeira a entrar nesse mercado, em 2018 – servem de justificativa.

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