Avaliação: Ram Rampage 2.0 turbo em 10 qualidades incríveis e 8 vacilos
A Ram Rampage é mais uma daquelas mostras de que a Stellantis, muitas vezes, consegue enxergar lacunas que suas rivais no Brasil ignoram. Enquanto Chevrolet e Volkswagen passaram anos tentando entender como encarar a Fiat Toro, o conglomerado que agrupou as antigas FCA e PSA já pensava em como subsegmentar a categoria de picapes intermediárias.
Veio a Ram Rampage. Que tem a mesma plataforma, base mecânica e quase o mesmo entre-eixos da Toro, mas com uma casca diferente, acabamento mais sofisticado, herdado do Jeep Commander, status que só a marca do carneiro pode dar e uma boa dose de pimenta proporciona pelo motor Hurricane 4 turbo a gasolina de 272 cv nas versões de topo.
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Resultado: enquanto a Toro é comercializada entre R$ 150.000 e R$ 210.000, a Ram Rampage custa entre R$ 245.000 e R$ 280.000. Muito mais rentável para sua fabricante. E se você acha que os consumidores estão ligando para o preço mais alto, basta observar que houve 3.026 emplacamentos dela em novembro de 2023, mais do que a Chevrolet Montana.
Está pensando em comprar uma Ram Rampage? A Mobiauto passou alguns dias com uma unidade da versão R/T, a topo de linha, para te ajudar na decisão de compra. Sim, é a versão que se inspira na icônica Dodge Dakota R/T. O exemplar que testamos, inclusive, vinha pintado de vermelho nos mesmos moldes de sua avó. Listamos dez pontos excelentes e oito que poderiam ser melhores na picape estreante. Confira:
Ram Rampage R/T Hurricane 4 2.0 Turbo 2024 – Preço: R$ 277.490. Pintura Vermelho Flame com teto preto: sem custo adicional. Pack Elite (banco dianteiro do passageiro elétrico, som Harman Kardon de 10 alto-falantes e luzes ambientes de LED): R$ 6.000. Total: R$ 283.490
Ram Rampage R/T – 11 qualidades incríveis
1. Porte e estilo
Há quem estranhe as proporções da Rampage, considerando seu balanço dianteiro comprido demais e sua linha de cintura muito. Mas a verdade é que a Stellantis conseguiu transformar a base da Toro em uma picape muito mais parruda. Colocando as duas lado a lado, a sensação é de que a irmã da Ram tem porte muito maior. E isso é mérito.
O segredo está justamente no quase exagero do aumento tanto de altura da carroceria quanto de suas linhas de cintura e ombros, além da adoção de portas laterais dianteiras do Commander e para-lamas mais abaulados. Resultado: 8,3 cm de ganho em comprimento, 4,1 cm a mais de largura e 10,7 cm extras em altura na comparação com a Toro.
Nesta versão, a grade em preto brilhante contrastando com a pintura vermelha, os faróis de LED com projetores afilados, a inscrição R/T nos para-lamas traseiros e as lanternas de LED formam uma combinação charmosa e imponente. Só não entendemos por que desenhar a bandeira dos Estados Unidos nas lanternas, se o projeto da Rampage é brasileiro.
2. Desempenho
Como já se esperaria, a Rampage com motor 2.0 Hurricane 4 anda muito. As acelerações são fortes e vigorosas. Além disso, o câmbio automático da ZF nunca esteve tão à vontade quanto aqui: afinal, uma caixa de nove marchas clama por este nível de linearidade e elasticidade. O casamento agrada mais do que com o motor 2.0 turbodiesel Multijet.
3. Dinâmica
Outra questão é que a Rampage tem muito “chão”. A suspensão é firme na medida certa e segura bem as inclinações da carroceria, tanto laterais quanto longitudinais. A direção elétrica tem suas limitações (já falaremos sobre elas), mas oferece respostas relativamente diretas e agradáveis. O prazer de dirigir está garantido.
Além disso, sua capacidade de manobra é melhor que a da Toro, com 12 metros de diâmetro de giro, câmera de ré e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros.
4. Robustez
Uma das vantagens de a Rampage nascer sobre a base da Toro, herdando dela o underbody e todo o conjunto de suspensão, está em sua robustez, já atestada em outros modelos da plataforma Small Wide 4x4 usada pela Stellantis no Brasil há alguns anos (e que também dá origem aos Jeep Renegade, Compass e Commander).
Sente-se um pouco das transferências de impacto na cabine, mas em um nível muito aceitável. Além disso, sabe-se que os produtos dessa matriz conseguem aguentar o tranco de nossa complicada malha viária.
5. Ângulos
Por ter tido sua carroceria elevada, a Rampage oferece ângulos de ataque, transposição de rampas e saída superiores aos de uma picape grande como a Chevrolet Silverado, e muito acima da média das picapes compactas-médias. São 25,7 cm de vão livre do solo, 25° de ângulo de ataque, 24,5° de saída e 23,1° de ângulo de transposição de rampas.
6. Versatilidade
Não, a tração 4x4 da Ram Rampage não é completa como o de picapes médias. Falta o bloqueio de diferencial e o modo Auto, presente em seus irmãos de plataforma da Jeep. Além disso, a construção monobloco da carroceria limita sua capacidade torcional no uso fora-de-estrada (embora seja um trunfo para uso no asfalto).
Só que a verdade é que a novata consegue um interessante equilíbrio entre conforto para uso urbano e capacidade off-road mais aguçada para encarar uma trilha no barro de vez em quando.
7. Acabamento
Picapes costumam ter seu acabamento negligenciado pelas fabricantes, sob a premissa de manterem sua aura “raiz” e “voltada para uso a trabalho”. A Rampage consegue romper um pouco dessa lógica com o painel herdado do Commander, as faixas em suede espalhadas pelos painéis e bancos, os materiais suaves ao toque e o console central estilo duplo deque. Já o isolamento acústico é decente para o segmento, embora longe de ser perfeito.
8. Conectividade
Em termos de conectividade, a Ram Rampage está servida adequadamente para os padrões atuais: central multimídia com tela de toque grande e completa em funções, apesar de seu sistema operacional não ser o mais intuitivo do mercado; possibilidade de Wi-Fi a bordo; comandos remotos via aplicativo de celular ou até na chave.
Cluster digital de 12 polegadas facilmente manipulável e seis tomadas USB espalhadas pela cabine, além de um carregador de celular por indução, completam o pacote. Pena que o sistema de som Harman Kardon, com dez alto-falantes e presente na unidade que testamos, seja opcional.
9. Caçamba
Muito criticada nos flagras da picape antes de seu lançamento, pelo aparente espaço apertado, a caçamba da Ram Rampage compensa suas limitações dimensionais com um interessante volume de 980 litros, graças aos para-lamas traseiros e à tampa de caçambas generosamente altos.
A capacidade de carga de 750 kg nesta versão é honesta, nada mais que isso, para uma picape movida a gasolina. A abertura elétrica e amortecida da tampa de caçamba é um mimo bem-vindos, apesar de o fechamento ainda ter que ser feito de modo manual. O único vacilo relacionado nesta área do projeto será relatado mais abaixo.
10. Ronco do motor
Incrível como a Stellantis conseguiu fazer a Rampage Hurricane 4 ter um ronco de motor mais legal do que os Fiat Pulse Abarth e Fastback Abarth, especialmente quando se aperta o botão do modo R/T no painel. O ruído que sai pela dupla saída de escape, cheio de pipocos nos kickdowns, é uma sinfonia para os ouvidos de quem ama carros esportivos.
11. ACC
Dotado da função Stop & Go, ele é capaz de voltar a fazer o veículo andar a partir da imobilidade em paradas breves de até 3 segundos. A detecção de veículos à frente não chega a ser precisa como nos carros de luxo, mas funciona bem e aumenta o conforto em situações de trânsito mais intenso numa rodovia ou via expressa como as Marginais de São Paulo (SP).
Ram Rampage R/T – 8 pontos que poderiam ser melhores
1. Preço
A Rampage é um produto cheio de estilo, mas caro. Cobra o preço do status da marca e, em troca, entrega uma lista de equipamentos pouca coisa acima de outros produtos da base Small Wide (incluindo a própria Toro).
Mesmo itens como o sistema de som Harman Kardon, a iluminação interna em LED e o banco do passageiro dianteiro elétrico vêm em um pacote opcional chamado Pack Elite, que encarece o veículo em R$ 6.000.
2. Espaço interno
A Stellantis não esticou o monobloco da Toro para criar a Rampage. Em vez disso, conseguiu criar um produto de dimensões maiores trabalhando apenas suas extremidades e agregados. Deu muito certo do ponto de vista de porte e estilo, como falamos acima. Por outro lado, o espaço interno é basicamente o mesmo de sua irmã, o que não é boa notícia.
Além dos vãos não muito amplos para as pernas na segunda fileira, as portas laterais traseiras são um bocado estreitas e não facilitam a inclusão de cadeirinhas infantis, por exemplo. À frente, o apoio de braço central é curto.
3. Consumo
Não se poderia esperar que o consumo de uma picape desse porte, com mais de 25 cm de vão livre do solo e um motor 2.0 turbo a gasolina fosse econômica. O consumo da Rampage não chega a ser absurdo como o de uma Ram 1500 V8. Em nosso teste, obtivemos 8,8 km/l em uso totalmente urbano. É ok para sua proposta. Mas esteja preparado para virar amigo do frentista do posto.
4. Direção
A caixa de direção elétrica da Rampage é a mesma de outros produtos Small Wide da Stellantis feitos no Brasil. Carrega, assim, todas as suas qualidades e limitações. A mais latente delas é a transferência excessiva de rebotes ao passar por vias mais esburacadas, característica que outros modelos dotados de assistência elétrica já conseguiram superar há algum tempo.
5. Itens que fazem falta
Um produto que acabou de ser lançado e chega a superar os R$ 280.000 já deveria oferecer de série um teto solar (que chegou a existir na Toro, o que significa que pode ser aplicado ao projeto) e uma câmera em 360 graus para auxílio a manobras. Mas o principal vacilo é não ter capota marítima de série, apenas como acessório.
6. Assistente de faixa
O assistente ativo de permanência em faixa da Rampage é o mesmo de outros produtos da Stellantis. De geração mais antiga, ainda é daqueles que fazem o veículo ziguezaguear de uma extremidade à outra da faixa de rolagem, como se o motorista estivesse bêbado.
7. Área dos pedais
O padrão de acabamento da Rampage contrasta totalmente com a área da cabine onde ficam os pedais de acelerador e freio. Ali, a fabricante esqueceu o esmero e deixa à mostra parafusos, coluna de direção, entrada OBD2 e fios elétricos.
8. Capacidade de reboque
Apenas 400 kg. Pelo menos é melhor que o da Montana, que sequer pode ter engate.
Ram Rampage R/T 2024 – Ficha técnica
Motor: 2.0,
dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, gasolina,
injeção direta, duplo comando de válvulas
Taxa de compressão: 10:1
Potência: 272 cv a 5.200 rpm
Torque: 40,8 kgfm a 3.000 rpm
Câmbio: automático, 9 marchas
Tração:4x4 com função Auto e reduzida
0 a 100 km/h: 6,9 segundos
Velocidade máxima: 220 km/h (limitados eletronicamente)
Consumo (Inmetro): 8 km/l na cidade e 10
km/l na estrada
Consumo Mobiauto: 8,8 km/l na cidade
Dimensões: 5.028 mm de comprimento, 2.994 mm de entre-eixos, 1.886 mm de largura, 1.760 mm de altura, 55 litros de tanque de combustível; capacidade de carga, 750 kg; volume da caçamba, 980 litros; capacidade de reboque, 400 kg; peso em ordem de marcha, 1.917 kg.
Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensão McPherson com molas helicoidais (dianteira) e multilink com molas helicoidais (traseira); freios a discos ventilados (dianteira e traseira); diâmetro de giro, 12 m; coeficiente aerodinâmico não divulgado; vão livre do solo, 25,7 cm; ângulo de ataque, 25°; ângulo de saída, 24,5°; ângulo central, 23,1°; pneus 235/55 R19; estepe temporário 145/70 R17.
Ram Rampage R/T 2024 – Itens de série
- Rodas de liga leve de 19 polegadas
- Escapamento duplo
- Faróis full-LED com projetores de dupla função
- Faróis de neblina de LED com auxílio dinâmico de direção em curvas
- Lanternas traseiras de LED
- Retrovisores com ajuste e rebatimento elétrico
- Caçamba com revestimento protetor e abertura de tampa elétrica e amortecida
- Banco com ajuste elétrico para motorista
- Revestimento interno em couro e suede para bancos, volante e painel
- Porta-óculos
- Ar-condicionado automático, digital e de duas zonas com dutos para segunda fileira
- Central multimídia de 12,3 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio
- Carregador de celular por indução
- Câmera de ré
- Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros
- Freio de estacionamento eletrônico
- Sensor de chuva
- Retrovisor interno eletrocrômico
- Comutação automática dos faróis
- Partida remota pela chave
- Seis portas USB
- Desembaçador da janela traseira
- Start-stop
- Assistente de partida em rampa
- Acendimento automático dos faróis
- Controle de cruzeiro adaptativo com função anda e para
- Alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência e detecção de pedestres
- Monitoramento de pontos cegos
- Detecção de tráfego cruzado traseiro
- Assistente de permanência em faixa
- Sete airbags
- Monitoramento de pressão dos pneus
- Sistema eletrônico de mitigação de rolagem da carroceria
- Limitador de velocidade
Ram Rampage R/T vale a pena?
Pelo estilo, desempenho e nível de conforto e dirigibilidade, certamente. Até pelo ronco do motor. A Rampage entrega um prazer de dirigir similar ao de um SUV esportivo, o que não é pouco para uma picape com mais de 5 metros de comprimento.
Carrega consigo as limitações de uma plataforma que está ficando envelhecida e custa caro, o que faz com que sua compra seja mais emocional. E a julgar pelo número de emplacamentos, podemos dizer que temos um bom número de brasileiros emocionados com a Ram Rampage R/T Hurricane 4 2.0 turbo. Bem... Emoção parece ser mesmo o forte dela.