Toyota Etios: patinho feio da marca morre no Brasil sem virar cisne

Família de hatch e sedan compactos deixará de ser vendida no país a partir de abril, mas produção não será totalmente encerrada. Ainda
Renan Bandeira
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03.03.2021 às 16:44
Família de hatch e sedan compactos deixará de ser vendida no país a partir de abril, mas produção não será totalmente encerrada. Ainda

Em uma movimentação já esperada e que, por isso mesmo, pegou um total de zero pessoas de surpresa, a Toyota afirmou em comunicado publicado na última terça-feira (2) que os irmãos Etios hatch e Etios Sedan deixarão de ser vendidos no Brasil a partir de abril.

O fim da linha faz parte da estratégia da marca japonesa em liberar espaço na fábrica de Sorocaba (SP) para a produção do novo Corolla Cross, onde já são produzidos Yaris hatch e sedan.

Embora tenha sido comunicado o fim das vendas no Brasil, os modelos seguirão em produção, mas com volume mais enxuto, que será destinado à exportação a outros países da América Latina onde os compactos sobreviverão por mais algum tempo.

Com a decisão, o veículo de entrada da Toyota para o mercado nacional passa a ser o Yaris hatch, que parte de R$ 76.990. O Etios, seja hatch ou sedan, nem aparece mais como opção no catálogo online da marca.

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Pouco mais de oito anos de linha de produção

Família de hatch e sedan compactos deixará de ser vendida no país a partir de abril, mas produção não será totalmente encerrada. Ainda

A estreia da linha Etios no Brasil aconteceu em setembro de 2012, quando a Toyota apostava em sua reputação, conquistada por Corolla e Hilux, para dominar o segmento de hatches de entrada. Foi para produzi-lo que a marca construiu o complexo de Sorocaba. 

O projeto indiano foi o primeiro de baixo custo da Toyota no Brasil, e abriu as portas do mercado de compactos para a marca japonesa. No entanto, não teve muito sucesso frente às famílias Ka, Gol-Voyage, HB20, Onix-Prisma e Palio-Siena.

O design externo não agradava e era considerado feio por muitos, seja falando de hatch, sedan ou até a opção Cross, que não teve muito apelo e morreu cedo. A frente era simplória, a traseira do hatch trazia lanternas enormes e a do sedan, muito alta, formava uma silhueta desproporcional em relação ao balanço frontal.

Para tornar a vida da família Etios ainda mais complicada, a marca posicionou o quadro de instrumentos do veículo de forma controversa no centro do painel - fato que é sempre lembrado por memes na internet.

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Família de hatch e sedan compactos deixará de ser vendida no país a partir de abril, mas produção não será totalmente encerrada. Ainda

Apesar dessas polêmicas, o modelo merecia elogios pela dirigibilidade e pelo fôlego dos motores flex. O 1.3, por exemplo, gerava 88/98 cv de potência (gasolina/etanol) e 12,5/13,3 kgfm de torque, enquanto o 1.5 tinha 102/107 cv e 14,3/14,7 kgfm, respectivamente. 

Ambas as opções podiam ser encontradas com câmbio manual de seis marchas ou automático de quatro marchas, e proporcionavam um desempenho superior ao que os números puros de potência e torque nos faziam imaginar.

Com consumo de combustível baixo e boa resposta, os propulsores se tornaram uma das principais características positivas do Etios. O sucesso do motor, inclusive, fez a Toyota adotar os 1.3 e 1.5 na linha Yaris, a família remanescente de compactos da marca.

Outro ponto positivo era o bom espaço interno do três-volumes, que aproveitava bem os 2.550 mm de entre-eixos (9 cm a mais que o do hatch, este um veículo apertado) e o generoso porta-malas de 562 litros. Não à toa o Etios Sedan virou queridinho de taxistas e, mais adiante, motoristas de aplicativo.

Além disso, sustentou a boa fama de carro confiável e durável, típica de todos os modelos da marca. Teve consumidor, inclusive, que já rodou mais de 1 milhão de km com ele sem sofrer nenhum problema grave. Afinal, podia ser um Toyota indiano, mas ainda era um Toyota.

Família de hatch e sedan compactos deixará de ser vendida no país a partir de abril, mas produção não será totalmente encerrada. Ainda

O modelo chegou a ganhar um facelift de meia vida em 2017, que tornou sua frente um pouco mais aprazível e aplicou itens como painel digital e central multimídia. No entanto, a chegada da família Yaris, que por sinal utiliza a mesma plataforma do Etios, incluindo a distância entre eixos do sedan, iniciou o seu processo de aposentadoria.

A tendência do mercado nos últimos anos tem sido de preferência por hatches e sedans premium, deixando aos veículos de entrada uma única fonte de apelo, a das vendas diretas para frotistas. 

Como o Toyota tem valor mais elevado que seus concorrentes, o número de emplacamentos foi reduzindo ano a ano até, enfim, levar à sua descontinuação. Veja o histórico de vendas do modelo, nas duas carrocerias, de 2012 até o ano passado:

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- 2012: 4.353 unidades (hatch) / 2.615 unidades (sedan)

- 2013: 34.801 / 27.236

- 2014: 38.809 / 27.604

- 2015: 35.313 / 26.052

- 2016: 37.974 / 29.791

- 2017: 41.986 / 31.395

- 2018: 27.847 / 21.207

- 2019: 18.963 / 13.305

- 2020: 8.699 / 5.308

Família de hatch e sedan compactos deixará de ser vendida no país a partir de abril, mas produção não será totalmente encerrada. Ainda

De acordo com a Toyota, foram produzidas cerca de 620 mil unidades de Etios e Etios Sedan durante os oito anos de linha, sendo que 180 mil delas foram exportadas para países da América do Sul a partir de 2013.

Apesar das polêmicas, o Etios foi um modelo que cumpriu seu ciclo no mercado nacional com dignidade. Sai do mercado com reputação de carro confiável e bom de dirigir. Só não conseguiu reverter a fama de feio. Neste caso, o patinho feio morreu antes de virar cisne.

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