Por que a BYD Shark pode ser primeiro “escorregão” da marca no Brasil
A BYD tem uma estratégia agressiva em nosso mercado desde quando chegou por aqui para brigar entre automóveis. Carros com boa construção, acabamento e lista de equipamentos completa, e que mantêm um preço competitivo. No entanto, a nova Shark, picape média apresentada nos últimos dias, veio um pouco fora dessa proposta. Mobiauto explica.
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A BYD sempre se posicionou como uma marca de custo-benefício entregando produtos eletrificados por baixo preço. Um bom exemplo são os irmãos Dolphin e Dolphin Mini, dois dos elétricos mais baratos do Brasil. O primeiro não tem concorrente a combustão, mas o segundo tem o mesmo preço de hatches compactos.
Song Plus, Yuan Plus, Yuan Pro, King, Song Pro e Seal são outros exemplos. O primeiro chegou para um segmento que nem existia no mercado, dos SUVs médios híbridos com preço mais baixo que das marcas premium. O Yuan Plus foi um dos primeiros SUVs elétricos acessíveis do Brasil, e o Pro é o mais barato do nosso mercado atualmente.
King e Song Pro formam a dupla rival da família Corolla. Ambos foram lançados neste ano e usam praticamente o mesmo sistema híbrido contra os modelos da Toyota. O último é o carro esportivo premium mais barato do Brasil, tendo 0 a 100 km/h em menos de 4 segundos e custando R$ 299.800.
Comparando preços com os concorrentes próximos, temos Dolphin Mini de R$ 115.800 contra Honda City Touring de R$ 138.000, por exemplo. O Dolphin, que foi o primeiro elétrico próximo dos R$ 100 mil, custa agora R$ 159.800, sendo pouco mais caro que um GWM Ora 03 Skin, que parte de R$ 150.000 - meses atrás, eles custavam o mesmo preço.
O BYD Song Plus parte de R$ 239.800 e tem o GWM Haval H6 PHEV19, de R$ 241.000, como principal rival. O Yuan Plus, de R$ 235.800, concorre com o Volvo EX30, que em sua versão mais básica, parte de R$ 229.950. Um Yuan Pro recém-lançado, custa R$ 182.800, bem próximo dos R$ 180.690 de um VW T-Cross Highline.
Um King que parte de R$ 175.800 é bem mais vantajoso que um Corolla Altis Hybrid de R$ 187.790, quando o assunto é preço. E a mesma estratégia é aplicada com o Song Pro, que parte de R$ 189.800, e tem o Corolla Cross XRV Hybrid, de R$ 202,690, como concorrente.
E não podemos esquecer do BYD Seal, de R$ 299.800, que pode ser tranquilamente rival de qualquer Porsche ou Mercedes, Audi e BMW esportivos, por causa de seus 0 a 100 km/h abaixo dos 4 segundos. E, obviamente, ele custa bem menos que os modelos das marcas premium.
No entanto, a BYD Shark tem proposta diferente. Isso porque, como vemos acima, os modelos da marca chinesa sempre chegaram ao Brasil com preços mais baixos que de seus concorrentes a combustão, e inaugurando segmentos. O último desses pontos pode ser “ticado” por ser a primeira picape média híbrida do Brasil.
Mas quando o assunto é valores, a Shark tem desvantagens. Enquanto a picape chinesa parte de R$ 379.800, as rivais da marca são mais baratas, mesmo em suas versões mais completas:
- Toyota Hilux GR-Sport – R$ 371.390
- VW Amarok Extreme – R$ 354.990
- Ford Ranger Limited Plus – R$ R$ 351.990
- Nissan Frontier Pro-4X – R$ 312.590
- Chevrolet S10 High Country – R$ 311.990
- Mitsubishi L200 HPE-S – R$ 306.990
- Fiat Titano Ranch – R$ 259.990
Diferente do que aconteceu em todos os outros movimentos da BYD no mercado, com a Shark não houve uma vantagem financeira contra as rivais. E o mercado de picapes tem o agravante de ser conservador - basta analisar o volume de vendas da Toyota Hilux, líder de emplacamentos da categoria, que não tem atualizações visuais há pelos menos quatro anos. Mesmo a nova geração da Ford Ranger não conseguiu ameaçar o modelo da marca japonesa.
Embora seja bem mais rápida que todas as concorrentes, com 0 a 100 km/h 5,7 segundos, leva menos carga: 790 kg contra 1.000 kg de todas as rivais citadas acima. A picape ainda leva vantagem nas dimensões:
5,46 metros de comprimento, 1,97 m de largura, 1,92 m de altura e 3,26 m de entre-eixos. Uma Hilux mede 5,32 m de comprimento, 1,85 m de largura, 1,81 de altura e 3,08 m de entre-eixos
E o consumo prometido pela BYD é de 24,6 km/l na cidade com gasolina e 19,9 km/l na estrada com o mesmo combustível - embora a autonomia dividida pelo volume do tanque de números mais pessimistas, como 14,6 km/l. As picapes médias citadas acima têm consumo na casa dos 10 km/l na cidade usando sempre diesel, com exceção da Amarok que é mais “gastona”.
Até aí são quatro pontos de vantagem para a Shark (consumo, desempenho, dimensões e emissão de poluentes), mas as marcas tradicionais levam vantagem por oferecerem tração 4x4 mais robusta com bloqueio de diferencial, câmbio com mais de uma marcha, capacidade de carga superior e maior volume de concessionárias para serviços. Fora a personalidade visual, já que a Shark tem linhas bem parecidas com as da F-150, e a durabilidade já comprovada – o modelo da BYD ainda terá de passar nessa prova.
Embora a Shark tenha consumo melhor, seu tanque é menor com 57 litros. A autonomia total é de 840 km com um tanque, basicamente o mesmo que vai entregar uma picape média a diesel, por causa dos comuns 80 litros de capacidade do tanque de combustível.
Dito isso, a Shark não é tão mais vantajosa no segmento de picapes médias que os outros modelos vendidos pela marca chinesa por aqui, mesmo sendo híbrida. Afinal, para convencer o proprietário de uma Toyota Hilux, Chevrolet S10 ou Ford Ranger para deixar de lado seus respectivos modelos e marcas preferidos para trocar por uma Shark, a picape média híbrida não oferece vantagens significantes – como seria o valor, se caso fosse mais barata.
Ou seja, se a ideia da BYD é batalhar entre as mais vendidas do segmento, como acontece nas outras categorias que atua, a Shark pode ser o primeiro escorregão da marca chinesa no Brasil. Contra as demais rivais, que tem vendido menos, a picape pode ter mais chances, mas precisará vender pelo menos 600 unidades mês para superar o modelo que menos vende na categoria, que é a Fiat Titano.
Por Renan Bandeira
Gerente de conteúdo
Formado em mecânica pelo Senai e jornalismo pela Metodista, está no setor há 5 anos. Tem passagens por Quatro Rodas e Autoesporte, e já conquistou três prêmios SAE Brasil de Jornalismo. Na garagem, um Gol 1993 é seu xodó.