Picapes explodem em vendas na crise e viram queridinhas do mercado

Com modelos que cresceram até 180% em um ano, marcas apostam alto no segmento
JC
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23.10.2020 às 15:18 • Atualizado em 27.10.2023
Com modelos que cresceram até 180% em um ano, marcas apostam alto no segmento

Zeca Chaves, Colunista da Mobiauto

Se o comércio de veículos novos ainda está se recuperando do tombo deste ano, as picapes são a grande surpresa e só têm a comemorar. Elas cresceram 6% em setembro deste ano, comparado ao mesmo mês de 2019. Enquanto isso, o mercado total viu suas vendas despencarem 10,9%. 

As picapes conseguem a façanha de se aproximar do desempenho dos tão desejados SUVs, que subiram 10% no período. Porém, se os SUVs inflaram seus números juntando a chegada de novas versões e a estreia de nomes inéditos (VW Nivus, Ford Territory, Tiggo 8), as picapes explodiram apenas com a renovação dos modelos já existentes. 

Um dos melhores exemplos é a nova Fiat Strada, que vendeu 80,6% a mais em setembro de 2020, de acordo com os números da Fenabrave. Recém-renovada, a Mitsubishi L200 foi outra que teve um belo desempenho nas lojas, com 47,5%. Reestilizada em julho, a nova Chevrolet S10 ficou com um aumento de 6,5%. Até a envelhecida Toyota Hilux, que está às vésperas de uma mudança, subiu bastante: 12,3%. 

De cair o queixo mesmo são os números da Ram 2500, superlativa tanto no tamanho (6,06 metros ou 74 cm maior que uma S10) quanto no preço (R$ 362.000). Com nenhuma picape emplacada em setembro de 2019, ela saltou para 22 unidades este ano. Mérito da nova versão, que estreou no fim do ano passado. 

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Não pense, porém, que ela não vendia quase nada e só passou a existir depois desse lançamento. Analisando o acumulado de janeiro a setembro, teremos 345 vendas em 2019 frente a 969 veículos neste ano, uma variação impressionante de 180%. 

As três razões do sucesso

Onde foi parar a crise para as picapes? Calma, porque há uma explicação lógica para esses modelos caros, grandalhões e de uso mais restrito nas cidades tornarem-se sucesso de público. Na verdade, há três explicações.

A pandemia mostrou que os efeitos negativos no setor foram muito menores para o bolso e o humor dos compradores de veículos mais caros. Como eu já escrevi em outra coluna, o mercado viu neste ano marcas como Porsche, Volvo, BMW e McLaren terem um desempenho invejável no primeiro semestre, período mais agudo da crise. E as picapes seguiram na mesma trilha.

Foi por isso que vimos no ranking de abril a Toyota Hilux em 5º lugar, Fiat Toro em 6º e Chevrolet S10 em 14º, quando o velho normal no início do ano era Toro em 10º, Hilux em 20º e S10 em 28º. 

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A segunda explicação é o perfil desse público, que tem uma relação de consumo muito mais emocional que a média. A pesquisa Segmento Automotivo 2016 da Quatro Rodas, feita com 3.000 entrevistados, mostrava que os critérios de compra racionais eram decisivos para 55% dos donos de automóveis comuns e para 50% dos proprietários de automóveis premium, contra apenas 26% dos picapeiros. Para estes, aplica-se aquele velho ditado “vale mais um gosto do que o dinheiro no bolso”.

Por fim, a terceira razão é o ótimo desempenho do agronegócio brasileiro, que cresceu 1,6% no primeiro semestre frente a uma queda de 5,9% do PIB brasileiro. É daí que sai uma boa parcela dos compradores de picapes, especialmente as maiores e mais caras, que são ao mesmo tempo belos brinquedos para fazendeiros abonados e um termômetro de status social para a turma do campo.

Lucro de US$ 17.000

Mais feliz que os donos com suas picapes, só seus fabricantes. Afinal, esses veículos costumam gerar os maiores lucros por unidade. Não há dados conhecidos para a realidade brasileira, mas números do mercado americano revelam que uma picape full-size (como Ford F-Series e Silverado) deixa até US$ 17.000 (R$ 95.000) de margem positiva para a GM, enquanto seus automóveis de passeio chegam a dar prejuízo

Aliás, é isso o que explica o surpreendente fato de a Ford não vender mais nenhum automóvel de passeio nos EUA desde que o último Fusion deixou de ser produzido em julho (agora só há SUVs e picapes).

Os próximos lançamentos

Portanto, podemos esperar pela frente mais uma boa leva de novidades no Brasil. O ano já começou com as novas Strada, L200 e S10, que terão a companhia da VW Amarok V6 mais potente (em novembro, com 258 cv e acima dos R$ 260.000, tornando-se a mais cara do segmento) e da Toyota Hilux (no último bimestre, com nova grade e motor que sobe de 177 cv para 204 cv). 

No ano que vem tem mais: está praticamente certo o lançamento da Ram 1500 (é 25 cm menor e não exige habilitação de caminhão como a Ram 2500) e possivelmente da sua rival direta Chevrolet Silverado. O vice-presidente de operações da GM América do Sul, Ernesto Ortíz, disse em uma entrevista que o modelo voltará ao Brasil, onde foi fabricado entre 1998 e 2001. Dependendo do valor do dólar e da demanda mundial, a Jeep também deve trazer a Gladiator, versão picape do Wrangler.

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Para 2022, espera-se a chegada da VW Tarok. Como o presidente da VW América do Sul, Pablo Di Si, já confirmou que a fábrica da Argentina terá outro produto feito sobre a plataforma do futuro Taos, é grande a chance de termos por aqui o modelo que ficará entre Saveiro e Amarok.

Tanta empolgação em torno das picapes não é exclusividade do Brasil. O segmento é o queridinho também em outros países pelo mundo afora. Segundo estudo da consultoria Marketsandresearch.biz, o mercado mundial de picapes deve crescer entre 2020 e 2025 a uma taxa anual de 3,1%, bem acima da estimativa para os SUVs, que é de 2,4%.

Entendeu agora por que as picapes são à prova de crise?

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto

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