O que acontece se pararmos em uma praça de pedágio sem dinheiro?

Enquanto o mundo se aproxima cada vez mais da digitalização de pagamentos, cobrança de pedágio ainda é arcaica
Camila Torres
Por
10.08.2021 às 08:00 • Atualizado em 11.08.2021
Enquanto o mundo se aproxima cada vez mais da digitalização de pagamentos, cobrança de pedágio ainda é arcaica

É cada vez mais comum ouvir a pergunta “débito ou crédito?” do que “dinheiro ou cartão?”. Mais recentemente, tem se tornado habitual uma outra questão ainda mais moderna: “É por aproximação?”.

Só que essa realidade digital é bem diferente (e distante) da maioria dos pedágios no Brasil. Nelas, você só consegue efetuar pagamentos usando suas cédulas coloridas ou via tag. Mas e se, ao chegar numa praça de pedágio, eu perceber que estou sem dinheiro, o que acontece?

O processo de digitalização de pagamentos via PIX, QR Code, cartão por aproximação e até por relógios ou celulares inteligentes engatou a quinta marcha quando a pandemia causada pela Covid-19 estourou no Brasil e no mundo. Com tantos protocolos de higiene, evitar o manuseio de dinheiro é mais uma forma de evitar a contaminação pelo coronavírus.

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Contudo, enquanto bancos e instituições escrevem artigos discorrendo se o papel moeda está próximo da extinção, pedágios ainda têm como principal forma de cobrança um dos meios mais arcaicos.

Com todos esses meios de pagamento, por que os pedágios ainda precisam ser pagos em dinheiro? Qual a dificuldade de implantar um sistema que ofereça um meio mais moderno e que não obrigue as pessoas a terem que usar dinheiro vivo? Não é necessário excluir a cobrança com moeda, apenas se atualizar para aceitar outras formas. 

Enquanto o mundo se aproxima cada vez mais da digitalização de pagamentos, cobrança de pedágio ainda é arcaica

É claro que temos as tags automáticas. Basta assinar um plano do Sem Parar, Veloe, ConnectCar ou afins. Mas e se eu não quiser pagar mensalidade ou estiver com outro carro que não o que está cadastrado no sistema?

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Mesmo com tudo isso que eu citei, antes de viajarmos temos que passar em algum caixa eletrônico. Porém, em um mundo tão corrido e no qual estamos cada vez menos acostumados a lidar com dinheiro vivo, a chance de só lembrarmos que devíamos ter sacado o dinheiro quando já estamos olhando para o atendente do pedágio é grande.

E aí, com um sorriso amarelo no rosto, perguntamos (já esperando uma resposta negativa): vocês aceitam cartão, PIX ou transferência? Não, não aceitamos. Aceitar uma multa de evasão do pedágio é uma notícia dura para se aceitar de supetão.

Assim, começam as negociações: não é possível emitir boleto, uma guia de pagamento pendente, enviar um e-mail? Com sorte, o pedágio terá uma dessas alternativas, mas se não tiver, é voltar de ré até o retorno (o que é proibido por lei e pode te render outra infração...) ou aceitar a multa.

Esta pessoa que vos escreve tem propriedade para listar as alternativas possíveis, pois já passei algumas vezes por uma situação parecida. Tanto que decidi aderir à TAG e a uma taxa de R$ 16,90 por mês. O problema é que, quando se é jornalista automotiva, você nem sempre está com o seu carro. Vamos aos fatos. 

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Não ter dinheiro para o pedágio é pior que faltar gasolina no carro

Enquanto o mundo se aproxima cada vez mais da digitalização de pagamentos, cobrança de pedágio ainda é arcaica

Por mais absurdo que pareça, a multa por pane seca é classificada como infração média, com penalidade de quatro pontos na carteira e multa de R$ 130,16. Já evadir um pedágio é uma infração grave, que custa cinco pontos na CNH e R$ 195,23 ao bolso.

Mesmo no Estado de São Paulo, são poucos os pedágios que aceitam realizar a cobrança com cartão. A concessionária Ecovias é uma delas. 

Outras emitem boleto depois de checarem se não há nenhuma pendência de pagamento de pedágio no seu nome, mas o processo pode levar até uma hora. Outras te dão uma via para você pagar em outra praça, mas o prazo varia de concessionária para concessionária.

Era 22 de maio, véspera do meu aniversário. Eu estava com visitas em casa desde a quinta-feira anterior. Meu marido falou para fazer as malas para passarmos o final de semana em uma casa em Juquitiba. Estava com um Ford Bronco Sport, recém-lançado (e já avaliado por nós). 

Não nos lembramos de pegar dinheiro, afinal, temos Sem Parar. Só que a tag está no meu carro, não no veículo emprestado da fabricante que está em nossa garagem para avaliação. Claro que iria dar confusão.

Quando avistamos a praça de pedágio, o coração já disparou. Levar uma multa por evasão de pedágio com um carro emprestado era o pior dos cenários.

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A inacreditável saga para pagar um pedágio pendente 

Chegando ao guichê da CCR, perguntamos quais as opções tínhamos e me deram uma guia amarela que me permitia fazer o pagamento em até três dias úteis, em outra praça de pedágio da própria CCR. Não havia opção. Não dava para pagar pelo celular, em banco ou em lotérica, pois não era um boleto.

A opção não parecia tão ruim, pois iríamos fazer o caminho de volta no dia seguinte. Mas a situação se embolou ainda mais, pois fizemos outro caminho indicado pelo GPS para fugir do trânsito e não havia nenhum pedágio no caminho, muito menos da CCR. Nunca pensei que rodar na estrada sem passar por pedágio pudesse ser motivo de tristeza.

Liguei na CCR para explicar a situação e me reforçaram que aquela era a única forma de quitar a guia. Disseram que eu poderia até enviar um e-mail explicando meu caso, mas o prazo de resposta seria de sete dias. Se, nesse meio tempo, registrassem a evasão por falta de pagamento, eu não poderia fazer nada.

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Não quis pagar para ver: mesmo estando dentro da cidade de São Paulo, consultei qual era a praça da CCR mais próxima, peguei a estrada e fui pagar o pedágio. Tinha R$ 20 na gaveta. Ótimo! Nem precisaria passar no banco, pois o valor seria mais que suficiente para pagar os pedágios de ida e volta, mais a guia pendente. 

Porém, quando cheguei lá, fui informada que a cobrança não poderia ser feita naquela praça. A atendente me informou que só o pedágio à frente aceitaria. Detalhe: tive que pagar o pedágio para ela também. 

O segundo pedágio também não aceitou, pois não fazia parte da concessão da rodovia Castelo Branco. Ela me indicou o retorno. Tive que pegar o pedágio de novo. De nervosismo, errei o retorno. Outro pedágio. Só faltava acabar o dinheiro e eu ter duas multas por evasão...

Enquanto o mundo se aproxima cada vez mais da digitalização de pagamentos, cobrança de pedágio ainda é arcaica

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Só sei que decidi não seguir mais o GPS e resgatei um dos modos mais tradicionais de se chegar a qualquer lugar: perguntando. Parei no posto e questionei onde ficava o tal pedágio. Parecia a pergunta mais estranha do mundo, pois ninguém quer passar por um pedágio. 

Enfim, deu certo, cheguei no pedágio que aceitaria meu pagamento. Paguei o pedágio do final de semana e ainda tive que pagar o pedágio por ir até lá. No final, o dinheiro deu. Na risca, mas deu. Agora eu ando sempre com R$ 50 na capa do celular para não passar perrengue chique por falta de formas de pagamento na praça de concessionárias...

SC tem lei que dá passagem livre em pedágios que não aceitam cartão 

Em julgo deste ano, o governo de Santa Catarina sancionou um Projeto de Lei que torna obrigatório a todas as concessionárias do Estado aceitar pagamento via cartão de débito ou crédito, de todas as bandeiras existentes no território nacional. A recusa da cobrança via cartão dá ao usuário o direito de passagem livre.

Em São Paulo, o grupo EcoRodovias coloca em teste o pagamento por aproximação nas concessionárias da Ecovias, conforme citado acima. 

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O tempo gasto nessa forma de pagamento é de 8 segundos, abaixo do limite estabelecido de 12 segundos pela Artesp (Agência de Transporte do Estado de SP). Sendo assim, a nova forma de cobrança, além de ser mais uma opção que atende melhor a milhares de pessoas, não prejudica em nada os adeptos de pagar em dinheiro.

A Mobiauto procurou a assessoria da CCR para esclarecer a questão de o pagamento de pedágios pendentes não ser aceito em todas as praças, mesmo contrariando a orientação do funcionário que emitiu a guia. Segue abaixo resposta na íntegra do grupo CCR.

"Nas rodovias estaduais de São Paulo administradas pelo Grupo CCR, caso o cliente não consiga realizar o pagamento da tarifa de pedágio pelos meios já disponibilizados, a concessionária emite uma guia de tarifa pendente para pagamento posterior em qualquer praça de pedágio da mesma concessão".

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