Entenda a nova lei de emissões que vai matar Fox, Uno e outros dinossauros

Proconve L7 não apenas dará novos limites para a emissão de poluentes nos carros brasileiros, mas também mudará a forma de medir os índices
Renan Bandeira
Por
15.06.2021 às 17:14
Proconve L7 não apenas dará novos limites para a emissão de poluentes nos carros brasileiros, mas também mudará a forma de medir os índices

A indústria automobilística está em constante transformação, seja através da demanda por novidades do mercado ou por determinação de órgãos competentes, que cobram mais segurança e menores níveis de poluição dos veículos.

Essas mudanças, muitas vezes, levam modelos tradicionais a deixar as linhas de montagem. Um dos casos mais famosos é o da Volkswagen Kombi que, em 2014, deixou de ser produzida por causa da obrigatoriedade de airbags e freios ABS em carros zero-quilômetros nacionais, que passou a vigorar naquele ano. 

Outro é o da Fiat Weekend, descontinuada em 2020 quando tornaram-se obrigatórios os cintos de segurança de três pontos e encostos de cabeça em todas as posições de passageiro, além dos sistemas de ancoragem para cadeirinhas infantis do tipo Isofix.

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Assim como os casos citados acima, as fases L7 e L8 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) devem levar alguns modelos bem tradicionais de nosso mercado à extinção. 

A primeira das duas fases mencionadas entra em vigor em janeiro de 2022. Por causa dela, dinossauros como VW Fox, Fiat Uno, Doblò e Grand Siena, entre outros projetos mais antigos ainda vendidos no Brasil, terão sua sentença de morte decretada (ou pelo menos antecipada). 

O prazo para se adequar às novas regras será dezembro de 2021. A partir de janeiro de 22, todos os modelos produzidos nacionalmente terão de cumprir as novas metas. As fabricantes terão até 31 de março para faturar todos os carros de parâmetro antigo nas concessionárias.

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Já a segunda etapa chega apenas em janeiro de 2025, e não devemos ver outros modelos com motores pouco eficientes vivos até lá.

A diretora da área de emissões da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), Raquel Mizoe, explicou à Mobiauto as principais mudanças que serão aplicadas com o Proconve L7, e por que elas hão de acelerar a morte desses modelos em nosso mercado.

Onde o Proconve L7 pode matar carros mais velhos

Proconve L7 não apenas dará novos limites para a emissão de poluentes nos carros brasileiros, mas também mudará a forma de medir os índices

Segundo Mizoe, a fase L7 é “bastante desafiadora por mexer em diversas áreas ao mesmo tempo, já que trabalha novos limites de gases do escapamento - como monóxido de carbono e aldeídos -, a forma de medir hidrocarbonetos, o sistema de diagnose do motor -que cobrará novos sensores - e a durabilidade das emissões, entre outros”.

Mas a mudança que deve gerar mais dor de cabeça às montadoras será a de emissão evaporativa de gases, que será mais rígida nessa etapa e cobrará mudanças significativas nos projetos dos veículos vendidos por aqui. 

É por conta dela, por exemplo, que a nova Fiat Toro Turbo 270 flex teve seu tanque de combustível reduzido de 60 para 55 litros.

“As mudanças não estarão concentradas exatamente no motor, mas as marcas terão de trabalhar melhor seus catalisadores, a calibração do propulsor, e terão de instalar canisters maiores, além de dutos e tanques de combustível com menor permeabilidade”, explicou a diretora da AEA.

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Isso quer dizer que as novas regras serão rígidas desde a entrada do combustível no tanque. O cânister é um filtro de carvão que tem o objetivo de coletar o vapor do combustível gerado no compartimento para tratá-lo, já que essas partículas são prejudiciais à saúde por contarem com substâncias tóxicas.

Na nova fase, o teste será similar ao aplicado em automóveis dos Estados Unidos, exigindo uma maior capacidade desse filtro: em uma câmara hermética, com variação de pressão e temperatura interna por 48 horas, onde a emissão evaporativa não poderá ultrapassar o limite de 0,5 g de combustível por dia. 

O teste é bem mais severo que o atual, que tem um acompanhamento de duas horas e medição limite de 1,5 g.

Para se enquadrar nos novos limites, além dos canisters maiores, os veículos terão de adotar dutos e tanques de combustível feitos de metal ou plásticos multicamadas, menos permeáveis e que jogam menos gases na atmosfera. Atualmente, muitos carros usam plásticos monocamadas de baixo custo.

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É aí que entra o “xis” da questão. Segundo Mizoe, “as plataformas mais antigas podem não ter espaço suficiente para instalação de um cânister de dimensões maiores, ou então o custo de um novo projeto de dutos e armazenamento de combustível pode ser inviável para alguns modelos, por ser caro demais”. 

Ou seja: modelos mais antigos e de baixo custo, com plataformas jurássicas e que não se enquadram nas novas regras, estão com os dias contados caso não sejam atualizados. 

É por isso que, de acordo com apurações mais recentes, a VW já teria decidido parar de produzir o Fox e todas as versões de modelos equipadas com o velho motor 1.6 8V da família EA111 em dezembro deste ano. Da mesma forma, a Fiat encerrará a fabricação de Uno, Doblò e Grand Siena.

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Outras novidades da fase L7

Outro ponto da L7 é que a medição de poluentes será mais rígida, igual ao formato americano, com acompanhamento de emissões de hidrocarbonetos, aldeídos e etanol por NMOG, sigla que, traduzida do inglês, significa “gases orgânicos não metanos”.

O equipamento de medição será calibrado para mensurar precisamente o nível de poluição de cada um dos compostos de forma separada, com adição do etanol no controle, que antes não tinha nível de emissões medido nos carros flex.

Para calcular os índices de poluição de cada veículo, o Ibama, órgão responsável pelo controle, fará a soma do NMOG - que é a junção da emissão de hidrocarbonetos, aldeídos e etanol - com os óxidos de nitrogênio (Nox), o gás gerado na câmara de combustão dos veículos e depois tratado no catalisador.

Em um primeiro momento, o novo mecanismo de medição não deve reduzir tanto a emissão de poluentes que saem do escapamento, mas sim auxiliar no controle de emissões evaporativas. 

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Outra novidade está no período de testes para comprovação da durabilidade das emissões. Para saber se, em longo prazo, um carro apresenta ou não deterioração do motor e mudanças nos parâmetros de poluição, motores com volume de vendas superior a 15 mil unidades anuais passarão por testes de 160.000 km, o dobro dos 80.000 km rodados nas provas do Proconve L4, que valem até a regra atual L6.

Além disso, os veículos terão de passar pela medição de emissões em tempo real. Segundo Raquel, “os testes são realizados fora do laboratório, em condições reais”. 

Eles serão realizados com base nos Regulamentos Europeus EC, mas devem receber adaptações para as condições específicas do Brasil e têm o objetivo de reduzir os riscos de fraudes em emissões, como aconteceu no famoso escândalo do “dieselgate”, da Volkswagen, que afetou milhares de unidades da Amarok no país.

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