Chineses preparam plataforma global para uso em qualquer carro elétrico

Xpeng Motors desenvolve base que promete revolucionar mercado, servindo a modelos de diferentes marcas, tamanhos e segmentos, a custo baixo e com condução autônoma
JC
Por
15.07.2021 às 11:32
Xpeng Motors desenvolve base que promete revolucionar mercado, servindo a modelos de diferentes marcas, tamanhos e segmentos, a custo baixo e com condução autônoma

Por Homero Gottardello 

O preconceito dos brasileiros em relação aos automóveis chineses é um fato que não se pode negar e, independentemente de suas razões, a participação de marcas como a Caoa Chery ainda é pequena no país. 

Todavia, a fatia de quase 2% que a própria Caoa Chery abocanhou no primeiro semestre deste ano em nosso mercado entre os modelos de passeio, à frente de Ford, Peugeot e Citroën, mostra que o consumidor está revendo seus conceitos. 

O que pouca gente se dá conta é que, se os ventos que impulsionam o setor automotivo em nível global mantiverem o mesmo sentido, será praticamente impossível declinar de um veículo made in China nos próximos 20 anos.

Confira o valor do seu carro na Tabela Fipe 

Além de cercar a cadeia produtiva de maior sinergia, neste momento, a Grande Muralha esconde os segredos industriais mais valiosos quando se trata de veículos elétricos. De modo que, num futuro bastante próximo, espera-se que ocorra um fenômeno idêntico ao visto entre os smartphones.

Isso porque, na prática, é bem possível que questões econômicas obriguem quase todas as marcas a usarem plataformas elétricas provenientes de fabricantes chineses para a montagem de seus carros. 

Da mesma forma que a matriz MQB, do Grupo Volkswagen, dá vida a dezenas de modelos de marcas diferentes (VW, Seat, Skoda, Audi, Cupra, Jetta...), plataformas como a que já está em desenvolvimento pela Xpeng Motors vão servir para modelos de diferentes tamanhos e segmentações. 

Xpeng Motors desenvolve base que promete revolucionar mercado, servindo a modelos de diferentes marcas, tamanhos e segmentos, a custo baixo e com condução autônoma

“Esta base, que será lançada daqui a dois anos, atenderá o mercado global, considerando todas as regulações regionais”, disse à agência Reuters o chairman da empresa e ex-executivo da gigante do e-commerce Alibaba, He Xiaopeng. A companhia, sediada em Guangzhou, já possui duas fábricas e está construindo outras duas.

Leia também: VW e-Delivery tem potência de Audi e-tron e preço de Porsche Taycan 

A Xpeng ainda é dona da XMotors, que, na verdade, é sua subsidiária norte-americana. Desde 2018, e apesar de uma queda de braços com o governo do Tio Sam, ela desenvolve sistemas veiculares autônomos no Vale do Silício, Califórnia.

É esta combinação entre inteligência artificial e eletrificação que pode tornar a marca em um megafornecedor global. 

Domínio dos carros autônomos 

Para fazer frente à Tesla, os chineses apostam no LiDAR – que é um sistema óptico de detecção com base em radares, considerado por Elon Musk como “fadado ao fracasso”.

De acordo com o vice-presidente de Direção Autônoma da Xpeng, Xinzhou Wu, esta tecnologia apresenta os melhores níveis de segurança em relação a crianças e pequenos animais, bem como pedestres e motocicletas.

“Estes são os verdadeiros desafios para quem desenvolve sistemas de condução autônoma, e somos uma das duas únicas empresas capazes de desenvolvê-lo [o sistema] de ponta a ponta”, ressalta. 

O LiDAR combina seu sistema de radares e câmeras a mapas de alta precisão fornecidos pela Alibaba – que, mais do que um gigante do e-commerce, é um grupo de tecnologia e quinta maior desenvolvedora de inteligência artificial do mundo.

Leia também: Este carro elétrico pode ser montado em casa como Lego em menos de 1 hora

Quando embarcado em seu novo sedan, o P3, o chamado NGP (assistente autônomo de navegação guiada) ganha o sugestivo nome de XPilot 3.0 – denominação não muito distante do AutoPilot, da Tesla. 

Xpeng Motors desenvolve base que promete revolucionar mercado, servindo a modelos de diferentes marcas, tamanhos e segmentos, a custo baixo e com condução autônoma

“Trata-se de uma tecnologia para as grandes cidades, na qual a condução autônoma é mais complexa e requer maior precisão do que nas rodovias. Temos três níveis de redundância e funções bem superiores às atuais mudanças de faixa, entradas ou saídas de garagens, ultrapassagens ou desvios de outros veículos, para evitar uma colisão”, explica Wu. 

Por enquanto, o XPilot 3.0 é um sistema avançado de assistência, mas o objetivo é, dentro de quatro anos, substituir o condutor por completo na próxima versão.

A descrença de Musk sobre o LiDAR tem uma explicação simples: no início de seu desenvolvimento, uma unidade chegava a custar US$ 100 mil, o equivalente a mais de R$ 500 mil. 

Hoje, empresas de drones como a DJI já anunciam um kit com preço inicial de US$ 13.100 (o equivalente a R$ 67.500). O sistema usado pela Xpeng é fornecido pela Livox e, mesmo sem entrar em detalhes sobre seu custo atual, Wu deixa claro que competitividade será o forte da marca chinesa para enfrentar a Tesla neste quesito.

“Nosso próximo lançamento será um veículo autônomo posicionado em uma gama intermediária de preços”, adianta. Nos Estados Unidos, o AutoPilot não sai por menos de o equivalente a R$ 51.560.

Leia também: “Elon Musk chinês” quer criar grife de carros elétricos maior que a Tesla 

Valor de mercado

De volta à plataforma elétrica e de olho no mercado europeu, a Xpeng já iniciou as exportações do SUV elétrico G3 para a Noruega, que tem uma das mais efetivas políticas governamentais de incentivo para os EVs. Já o sedan P3 desembarca na Europa em 2022. 

“Acredito que, entre 2025 e 2030, a indústria automotiva chinesa vai tomar a mesma forma que o segmento de smartphones tem hoje no país, com poucas empresas dominando o mercado”, avalia o chairman da marca, He Xiaopeng. 

“Os governos estão intensificando seus esforços por emissão zero, ao mesmo tempo em que os consumidores buscam um transporte pessoal mais sustentável”, pontua o executivo. 

Só no ano passado, as vendas de modelos elétricos dobraram na Europa em relação a 2019. Nesse cenário, o ingresso da marca no continente será reforçado com outro sedan, o P7.

Em plena crise dos semicondutores, as vendas da Xpeng no mercado chinês subiram 15% no mês passado, enquanto suas ações na Bolsa de Nova Iorque valorizaram quase 58% no mesmo período.

Xpeng Motors desenvolve base que promete revolucionar mercado, servindo a modelos de diferentes marcas, tamanhos e segmentos, a custo baixo e com condução autônoma

Leia também: Primeiro carro-forte elétrico no mundo é brasileiro, e bota forte nisso

A expectativa dos analistas da “Forbes” é de que “as coisas ainda vão melhorar, já que os investidores têm apostado na empresa em função de seu avanço em direção autônoma e há uma estimativa de alta de 150% nas comercializações para o fechamento deste ano”. 

Nunca é demais lembrar que, hoje, as montadoras chinesas respondem por 50% do mercado global de elétricos e que só o faturamento da Xpeng deve crescer 120%, em 2021. Todavia, trata-se ainda de um fabricante deficitário, cuja margem líquida ficou em -160% no ano passado.

O valor de mercado da Xpeng, de US$ 33,9 bilhões, ainda representa uma ínfima fatia de 4% do valor da Tesla, mas se somarmos só as sete maiores marcas chinesas, este montante sobe para US$ 345 bilhões e supera em 10% os valores das cinco gigantes japonesas (Toyota, Honda, Nissan, Subaru e Suzuki) juntas. 

“Temos indicativos de que o setor automotivo não receberá os mesmos volumes de investimentos de 2019 e 2020”, avaliou o analista Mio Kato, da LighStream Reserarch, para a agência Reuters.

Leia também: Motor universal faz qualquer carro virar elétrico pelo preço de um Kwid

Ou seja, em um momento no qual os investimentos privados se retraem, o apoio do governo chinês pode fazer toda a diferença na parte industrial. 

“Temos muito respeito por Elon Musk e pela Tesla. Desejamo-lhes tudo de melhor, mas sabemos produzir em massa uma tecnologia à altura dos mais exigentes requisitos de segurança. Então, iremos competir não só na China, mas no resto do mundo”, avisa Xinzhou Wu, da Xpeng.

Você também pode se interessar por:

Carro movido a vento quebra teoria e faz físico perder aposta de R$ 50 mil

Great Wall, a chinesa que faz de SUVs de luxo a cópia elétrica do Fusca

Caminhão elétrico da JAC leva carga sem poluir a cidade, mas cobra caro

Avaliação: como anda o carro elétrico mais acessível no Brasil


Comentários