Como Stellantis atrasou o Fiat Argo e deu chances para novo SUV da Peugeot

Plataforma pronta para a eletrificação fizeram a marca italiana segurar as mudanças necessárias

Renan Rodrigues
Por
30.04.2024 às 09:41

O Fiat Argo foi lançado em 2017 e, desde então, é praticamente o mesmo carro, ao menos visualmente. É bem verdade que teve uma leve reestilização e até mesmo perdeu o motor 1.8 E.torQ presente no lançamento. No entanto, olhando de fora, é o mesmo carro há sete anos.

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Esse é um prazo um tanto incomum na indústria brasileira para um produto relevante ficar sem novidades mais profundas. Para se ter uma ideia, nesse período, o Hyundai HB20 teve dois profundos facelifts, o Chevrolet Onix trocou de geração, o Volkswagen Polo foi lançado e reestilizado, enquanto o primo distante, o Peugeot 208, ganhou a nova geração e está próximo da sua reestilização.

E não dá nem para dizer que esse atraso fez o modelo perder espaço. Em 2023, por exemplo, o Fiat Argo ficou na oitava colocação entre os mais vendidos. Foram 66.717 emplacamentos. É bem verdade que mais da metade foram vendas diretas, mas ainda é um feito muito relevante.

Ao todo, o Fiat Argo se aproxima da marca de 500 mil unidades vendidas no Brasil. No entanto, será que a Fiat não poderia ter retomado o seu antigo sucesso e liderar as vendas de carros de passeio caso o Argo seguisse o cronograma convencional?

É difícil dizer, mas dá para entender melhor as motivações da Fiat e os motivos por trás desse atraso no cronograma do hatch, bem como sua relação com o novo Peugeot 2008.

Fiat Argo foi 3 por 1

Sabe aquelas promoções de compre três e pague um? O Argo tem um conceito similar, mas de substituir três carros de uma vez só: Palio, Punto e Bravo. Para isso, desde que nasceu, contava com versões 1.0, visando o ocupar a lacuna do Palio, 1.3 para suprir a ausência do Punto como “hatch premium”, e 1.8 automático, o mesmo motor do Bravo, que nunca ofereceu uma transmissão automática de fato – apenas automatizada.

Como foi lançado em 2017, seu projeto se tornou conhecido em 2015, mas seu desenvolvimento certamente começou anos antes, por volta de 2013. Naquela época, não havia nem sonho de criar-se a Stellantis. E isso é fundamental para chegarmos aonde estamos agora.

Até então, ainda como Fiat Chrysler Automobiles, a Fiat Brasil era a principal responsável pelos lucros do grupo. Dessa forma, aproveitando as baixas exigências do mercado local, a Fiat fazia o que podia com o que tinha em mãos, aumentando seu lucro e viabilizando a operação mundo afora.

Mudança em 2015

As coisas começaram a mudar um pouco em 2015, graças ao sucesso da dupla Jeep Compass e Renegade. Os SUVs possuem maior valor percebido no mercado e margem de lucro superior aos modelos da Fiat na época.

E isso é o que ajuda a FCA a crescer em faturamento, lucro e começar a pensar em projetos mais requintados para o Brasil. É a partir do sucesso dos Jeep – e da “grana”, que surgem projetos com a Fiat Toro e JeepCommander, desenvolvidos localmente.

O ápice do sucesso dessa estratégia foi revelado no ano passado com a Ram Rampage. Primeira picape da Ram desenhada, projetada e fabricada fora da América do Norte.

Obviamente, desde o começo do projeto do Argo, a Fiat tinha planos para suas mudanças. No entanto, no meio do caminho surge a possibilidade de fusão com o grupo PSA, formado pela Peugeot e Citroën. Esse caminho aumentaria as possibilidades para todas as marcas, seja para os franceses na América, seja para Fiat e Jeep na Europa. E tem relação direta com o “cancelamento” de todas as mudanças nos compactos da Fiat.

Os SUvs compactos

Você certamente vai dizer que ainda assim a Fiat produziu novos compactos, com os SUVs Pulse e Fastback. De fato, mas foram criados para atender justamente uma demanda dos concessionários da marca em um mercado cada vez mais disputado.

Não à toa, os projetos se envolveram em algumas polêmicas. O Pulse por ser muito similar ao Argo, enquanto o Fastback é criticado pela expectativa criada em 2016, quando o nome foi utilizado em um SUV-cupê derivado da Fiat Toro e não do Pulse/Argo. Essa foi uma forma que a Fiat encontrou para economizar, uma vez que o grande pulo do gato para marca estava a caminho.

Plataforma moderna

O pulo do gato em questão é a plataforma CMP da Peugeot. A mesma que equipa o atual 208, além do Citroën C3 e a nova geração do 2008, que deixou de ser feito no Brasil para ser produzido na Argentina.

Essa é uma base mais tecnológica do que a usada pela Fiat. Ela está pronta para a eletrificação e é validada com o sucesso de vários modelos da Peugeot na França. E é ela quem será responsável por finalmente dar ao Argo uma nova geração.

Em abril do ano passado, em apuração conjunta com o jornalista Marlos Ney Vidal, do site , a Mobiauto antecipou o código F1H, que dará vida justamente ao “Next Argo”, como é conhecido na fábrica.

A plataforma da Peugeot também estará presente nos Fiat feitos na Itália, como a próxima geração do Panda, um hatch compacto que por muitos anos dividiu o projeto de vida com o Fiat Uno.

Por fim, o novo Peugeot 2008 é quase um pontapé inicial na história da Stellantis. Apesar dos lançamentos já ocorridos desde a criação do conglomerado, todos eram projetos já definidos e que passaram por ajustes.

Já o novo 2008 foi, durante anos, negado pela marca francesa para o nosso mercado, uma vez que não tinha capacidade financeira para trazê-lo ou o venderia muito caro, não alcançando o potencial sucesso do SUV.

Agora, com a fusão, além do colchão financeiro, a Peugeot tem a confiabilidade mecânica dos motores da Fiat, uma rede maior de concessionários e um caminho pavimentado para seguir crescendo.

 Projeção: @kdesignag

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Prefere os hatches com vocação esportiva, ainda que com um Renegade na garagem. Formado em jornalismo na Fiam-Faam, há 10 anos trabalha no setor automotivo com passagens pelo pioneiro Carsale, além de Webmotors e KBB.

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