Ex-funcionário da Telesp restaura Fusca que usou no trabalho 30 anos atrás

Antigo técnico em telecomunicações comprou Fusca 1300 a álcool em leilão da empresa nos anos 90, mas só agora conseguiu deixá-lo como em seus dias de glória

JC
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16.12.2021 às 11:25 • Atualizado em 29.05.2024
Antigo técnico em telecomunicações comprou Fusca 1300 a álcool em leilão da empresa nos anos 90, mas só agora conseguiu deixá-lo como em seus dias de glória

Por Fernando Garcia

A Telesp (Telecomunicações de São Paulo S/A) foi a empresa responsável pela operação de telefonia no Estado de São Paulo entre os anos de 1973 e 1998, uma época em que ter um telefone fixo instalado em casa custava caro (muito caro) e era motivo de emoção e status.

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Para prestar serviços de manutenção das linhas, a empresa costumava utilizar veículos simples baratos, que aguentavam o vai-e-vém de inúmeras instalações de telefone nas casas de clientes. Eram verdadeiras ferramentas de trabalho sobre rodas.

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Foi assim que modelos como VW Kombi, Fiat 147 e Fusca com as cores laranja e azul da companhia se tornaram ícones do Estado, assim como é comum hoje vermos vários Renault Kwid e Fiat Mobi nas cores branca e roxa representando a operadora Vivo.

Quem fez parte desses mais de 20 anos da antiga empresa de telefonia paulista foi o colecionador e técnico em telecomunicações Pedro Luiz Camarotto. Além de um Fusca ano-modelo 1973 e outro 1980, Camarotto possui um autêntico exemplar 1983 a álcool que fez parte da empresa para a qual ele se orgulha de ter trabalhado.

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Onze anos de serviço, 24 de espera

Pedro Luiz conta que o exemplar da Telesp foi adquirido em 1994 – o que significa que já havia passado de dez anos de uso em serviço –, através de um leilão que a empresa fez entre os 'telespianos', gíria dada a ex-funcionários da antiga companhia.

"Na década de 1980, este exemplar que hoje está comigo foi exatamente o mesmo que me ajudou a conquistar o meu suado pão de cada dia. Quando fiquei sabendo da preferência que a empresa estava dando a ex-funcionários [para comprar os veículos], arrematei na hora", comemora.

Segundo o técnico em telecomunicações aposentado, seu velho companheiro de trabalho ficou parado em sua garagem por 24 anos. Em 2018, o sonho de restaurá-lo só estava começando. Foi um trabalho de muita paciência, dedicação e amor, que demorou dois anos para ser concluído.

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Redescobrindo os tons do passado

O maior desafio foi acertar a cor original laranja. Afinal, após anos de uso e depois outros 27 parado na garagem, a pintura original estava sem vida e impossível de ser resgatada. Tal etapa do projeto demandou muitas pesquisas e consultas com ex-funcionários até que Camarotto chegasso ao tom exato do amarelo Manga e do azul Imperial usado para o logotipo.

Por falar na tonalidade do logo da Telesp, Pedro Luiz explica que antigamente os carros eram identificados por uma sequência numérica para o controle da frota. Por exemplo, no caso de seu exemplar 7-437, o 7 identificava o modelo, Fusca, enquanto o 437 era o seu número de identificação. 

Acertada a tonalidade original, o processo de restauração externa seguiu com lixamento, aplicação de produtos específicos para tirar poeira e gordura da carroceria, mascaramento, aplicação da tinta e do verniz, polimento de corte e lustro. Os vidros também foram polidos e ainda são os originais.

Já na parte da tapeçaria, Pedro revela que os bancos ainda são os mesmos de quando saiu da fábrica, com a troca apenas do courvin (couro sintético) e a adição do traseiro, comprado em desmanche, lembrando que estes Fuscas da Telesp vinham com uma espécie de baú em fibra de vidro para guardar ferramentas e demais materiais dos funcionários na parte de trás.

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O bom e velho 1300

Para o motor, como todo bom Fusca, o ex-funcionário só precisou fazer alguns ajustes. Nada complexo, afinal é um velho e robusto boxer 1300 refrigerado a ar e movido a álcool, de 46 cv, que ainda tem fôlego para novas jornadas depois de mais de duas décadas sabáticas.

O toque final, garante Pedro, será a aplicação de rack de teto e escada. "Este Fusca tem rack e escadas originais, na cor da carroceria, que ainda serão repintados. Só não coloquei ainda porque, por conta do distanciamento social da Covid-19, o pintor teve de interromper restauro", conta. Tais partes devem ficar prontas no começo de 2022.

As rodas, apesar de estarem em excelente estado e sem pontos de ferrugem, também tiveram de passar por uma repintura. O mesmo não se pode dizer dos estribos e frisos laterais: a ação do tempo exigiu a substituição por novos.

Questionado sobre o valor da restauração completa, Camarotto não se reprime em responder: "Já foram R$ 35 mil em tapeçaria, pintura, vidros, motor, pneu e acessórios. Um sonho não tem preço!", resume. Pelo visto, o agora renovado, porém sempre valente, Fuscão da Telesp, terá fôlego para mais alguns bons anos ao lado de seu velho companheiro de trabalho. 

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