Rival da Tesla mal entrou na Bolsa e já vale mais que Chevrolet e Ford

Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook

JC
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11.11.2021 às 11:36
Marca californiana Rivian promoveu sua oferta pública de ações nesta semana e acumulou R$ 65 bilhões em poucas horas, maior cifra desde o Facebook

Por Homero Gottardello

A última quarta-feira (10) entrou para a história do setor automotivo global com a oferta pública inicial (IPO) das ações da Rivian na Bolsa de Nova York. 

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Para quem não sabe o que é a IPO e também desconhece a marca californiana de veículos elétricos, que promete rivalizar com ninguém menos que a Tesla, façamos uma introdução, começando pela parte burocrática.

A oferta pública inicial corresponde à estreia de uma companhia no mercado de valores. Com a IPO, uma empresa como a Rivian, fundada em 2009, abre seu capital para novos sócios, que adquirem seus papéis – suas ações – nos pregões. 

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A venda de ações – que nada mais são do que a propriedade fatiada da companhia – permite uma enorme captação de recursos e são estes recursos que vão financiar o crescimento do negócio, gerando ganhos para os investidores na medida em que eles passam a negociar esses papéis na bolsa. 

Se as ações valorizam, eles os donos geralmente as revendem e embolsam o lucro. Como se trata de uma operação de risco, a eventual desvalorização destes títulos implica em prejuízo. 

Posto isso, agora é hora de falarmos sobre a Rivian, fabricante que completa 13 anos de vida em 2022 e que acaba de lançar a picape elétrica R1T. 

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Rivian promete movimentar mercado de carros elétricos com picape R1T e SUV R1S

Trata-se do primeiro utilitário nos moldes daquilo que o mercado americano consolidou como “preferência nacional”, ou seja, uma picape grande, maior que a Ford Ranger e do mesmo porte da Série F, que há anos é o veículo automotor mais vendido dos Estados Unidos. 

O modelo é equipado com quatro motores elétricos que, somados, desenvolvem o equivalente a 810 cv, e possui tração integral – aceleração de 0 a 100 km/h em 3,0 segundos. 

Sua autonomia é de 505 quilômetros sem necessidade de recarga das baterias, e não lhe falta capacitação: promete atravessar áreas alagadas com até 91 cm de lâmina d’água e superar rampas com até 45 graus de inclinação.

Visualmente, traz linhas futuristas, mas é no seu assoalho, digamos assim, que esconde seu maior atributo: a R1T é montada sobre uma base tipo “skateboard”, que pode dar vida a outros modelos, como a van da Amazon e um SUV da própria Rivian, o R1S, além de ser usada por outras marcas. 

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Valorização meteórica

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Picape R1T será rival direta da Tesla Cybertruck

Fato é que na tarde de quarta a Rivian se tornou, poucas horas após a abertura de sua IPO, a segunda montadora mais valiosa dos Estados Unidos – pode acreditar. 

Antes de pregão de Wall Street ser fechado, sua aquisição (termo do mercado financeiro que significa o volume negociado do capital aberto), já tinha alcançado US$ 11,9 bilhões (o equivalente a R$ 65,3 bilhões), maior cifra alcançada nos Estados Unidos desde que as ações do Facebook bateram US$ 16 bilhões, em 2012. 

Pode parecer difícil de entender, mas isso se traduz no seguinte: neste exato instante, a Rivian tem um valor de mercado de US$ 86 bilhões, respectivamente 1,5% e 8% maior do que as centenárias General Motors e Ford. Só no seu primeiro dia na Bolsa de Nova York, as ações da marca subiram 29%. 

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“A IPO da Rivian demonstrou que os investidores têm grande entusiasmo sobre a eletromobilidade”, avaliou o analista sênior da fornecedora de dados de mercado PitchBook, Asad Hussain, em entrevista à agência Reuters. 

A Amazon, que ficou com 20% dos papéis da Rivian, tornou-se sua maior acionista. Bom, a gigante do varejo tem um pedido de nada menos do que 100 mil unidades da futura van da marca até 2025. 

“Sem dúvida, um pedido dessa magnitude e o apoio financeiro da Amazon são um sinal de validação para os investidores", acrescentou Hussain. 

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Metas otimistas demais?

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Picape se notabiliza pelos mais de 800 cv de potência e pelos módulos de bateria ao estilo skateboard

Mas há quem olhe este movimento com ceticismo: “O mercado avalia que a Rivian alcance uma capacidade de produção de 1 milhão de veículos em apenas dez anos, e isso é ridículo”, ponderou o presidente-executivo (CEO) da New Constructs, David Trainer. 

“A Tesla demorou mais de uma década para chegar a 500 mil unidades, um marco que a Rivian precisaria dobrar”, acrescentou.

Mas a análise mais bombástica de Trainer se refere às atuais gigantes do setor automotivo, como a GM e a Volkswagen. “Estas companhias irão todas à falência, mesmo que consigam se estabelecer no mercado de EVs”, prevê o analista, citando que, em outubro, a Tesla se tornou a primeira montadora a valer mais de US$ 1 trilhão.

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Já a Rivian foi esperta o bastante para fazer sua IPO em uma data próxima da Cúpula do Clima das Nações Unidas. “Na minha visão, este é um momento de grandes oportunidades, mas a GM está muito subestimada pelo mercado”, reconheceu a presidente-executiva da General Motors, Mary Barra, em evento promovido pelo jornal The New York Times.

O leitor que me acompanha neste prestigiado espaço se lembra de outro artigo publicado pela Mobiauto, sobre as marcas que atraem investimentos antes mesmo de produzirem um único veículo elétrico

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SUV R1S quer encarar o Jeep Grand Cherokee usando motorização 100% elétrica

Bom, parece que o aspecto “táctil” da Rivian também fez a diferença para o mercado. “A marca já iniciou as entregas de seus primeiros veículos e isso passa um recado positivo para os investidores, de que seu produto é real e não uma mera imagem, um modelo em 3D projetado no telão”, destacou o analista da DA Davidson & Co, Michael Shlisky.

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“Este é um fator que, queiramos ou não, limita a atração de recursos para outros fabricantes de elétricos”, seguiu. O relatório final do pregão mostrou que, além da Amazon, o fundo Blackstone e a gestora Capital Research ficaram com uma fatia de US$ 5 bilhões da Rivian.

Já no Brasil, onde as grandes montadoras seguem desovando a tecnologia da década passada a preço de ouro, há tempos que não temos notícias atualizadas da Bravo Motor, que prometia investir R$ 25 bilhões – só rindo, mesmo – em sua fábrica mineira de elétricos, e a paranaense Movi Eletric, que chegou a apresentar três modelos diferentes, afirmando que iniciaria vendas para pessoas físicas ainda neste ano. 

Pelo visto, a turma aqui segue apostando firme em um futuro com o velho motor a combustão puxando a procissão. É como se, na virada do século XIX para o XX, seguíssemos investindo em charretes quando todo o mundo caminhava para os veículos motorizados. Vai entender…

Imagens: Divulgação e Reprodução

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