Avaliação: Jeep Wrangler 2023 é SUV raiz que o Renegade queria ser

Jeep Wrangler Rubicon traz tudo aquilo que se espera de um jipe de verdade para se divertir no off-road, mas o preço desta brincadeira é de quase R$ 500.000

Renan Bandeira
Por
05.04.2023 às 08:00 • Atualizado em 24.04.2023

Escolher um Jeep Wrangler para o dia a dia não é uma escolha tão fácil. Nem estamos falando dos quase R$ 500 mil pedidos pela marca pela versão Rubicon, mas sim das dimensões dele. Afinal, andar com esse grandalhão em vias mais estreitas não é uma tarefa tranquila. 

Mas o Wrangler também tem seus pontos positivos para convencer de que pode, sim, ser esse veículo, e de que seu tamanho é um obstáculo que pode ser enfrentado. Seja por ser um SUV com DNA aventureiro raiz, pelo espaço interno ou pela praticidade de ser praticamente um três em um, com a notável opção de desmontar teto e portas. 

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Uma coisa que deve ser levada em consideração é que, em sua faixa de preço, ele é o único produto que entregara apetite off-road voraz combinando uma boa rodagem na cidade. Além de ser rápido, claro, principalmente quando comparado com os primos nacionais Renegade, Compass e Commander

A Stellantis cedeu o Jeep Wrangler Rubicon para a Mobiauto por sete dias, e avaliamos ele em mais um vídeo do Superautos (abaixo) e também neste artigo.  

Jeep Wrangler Rubicon 2023: R$ 481.834 

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Cara retrô e interior simples 

Ter o Wrangler na garagem em um dia ensolarado é a arma que faltava para enfrentar uma trilha. E o visual do jipão remete muito a esse tipo de terreno, tanto que um vizinho – com quem eu nunca havia conversado - chamou para uma dessas, acompanhando seu Troller T4. 

As linhas inspiradas nos Jeep antepassados o tornam único na atualidade. Caixas de roda erguidas, pequenos balanços dianteiro e traseiro para ajudar no ângulo de ataque, pneus enormes e todo terreno e o formato caixote dão bastante personalidade. 

Mas é importante lembrar que estamos em 2023 e o acabamento interno podia ser mais refinado. O cluster mescla mostradores analógicos e uma tela digital para o computador de bordo, e a multimídia é parecida com a do Renegade - inclusive o posicionamento, no centro do painel.  

A grande questão é que a peça que envolve tudo isso é em plástico rígido, e tem poucas partes revestidas em um material macio ao toque.  

O jogo de bancos é bem-acabado, com couro de costuras contrastantes e bastante espuma. Seus ajustes são todos manuais. Curioso é que, na parte posterior do encosto dos bancos dianteiros, há nichos para guardar os parafusos da carroceria conforme for soltando as peças do veículo.  

Falando nisso, o Rubicon pode entregar uma série de visuais. Ele perde portas, teto e até mesmo o que seria o porta-malas pode ser descoberto. Vai de gosto e, por isso, pode ser o tal três em um. Uma pena a vedação não segurar chuvas mais fortes. 

Leia também: Avaliação: Jeep Renegade 4x4 flex 2023 anda muito (e bebe também) 

Espaço interno  

Espaço não falta. Passageiros da segunda fileira de bancos cabem sem apertos, e na primeira fileira não é diferente. O porta-malas, que tem abertura dupla com uma porta horizontal e o vidro na vertical, também leva bastante coisa com seus 548 litros de capacidade. 

Dimensões: comprimento, 4.785 mm; entre-eixos, 3.008 mm; largura, 1.894 mm; altura, 1.853 mm; tanque de combustível, 81 litros; peso em ordem de marcha, 2.051 kg. 

Mais rápido que qualquer Jeep nacional 

Renegade, Compass e Commander têm bons números com o motor T270, aquele turboflex 1.3 de até 185 cv e 27,5 kgfm. Os dois últimos ainda contam com usina turbodiesel 2.0 nas versões mais caras, que entrega 170 cv e 35,7 kgfm de torque para o SUV de cinco lugares, sendo 38,7 kgfm para o de sete. 

Mas o Wrangler é empurrado por um 2.0 turbo de 272 cv de potência e mais de 40,8 kgfm de toque. Como o câmbio de oito marchas é esperto, ajuda ainda mais nas arrancadas e retomadas, e pouco se sente as mais 2 toneladas do jipe. Tanto que ele acelera de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos. Entre os Jeep vendidos no Brasil, o número só não supera o do Compass 4xe e seus 6,8 s. 

Motor: 2.0, dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, gasolina, duplo comando de válvulas no cabeçote acionado por corrente, injeção direta de combustível
Taxa de compressão: não divulgada
Potência: 272 cv a 5.250 rpm
Torque: 40,8 kgfm a 3.000 rpm
Peso/potência: 7,54 kg/cv
Peso/torque: 50,3 kg/kgfm
Câmbio: automático de 8 marchas
Tração: 4x4 com acionamento por bloqueio de diferencial e reduzida por alavanca
0 a 100 km/h: 7,6 segundos
Velocidade máxima: 156 km/h 

Comparando a Gladiator, que é sua irmã picape, percebemos como o 2.0 turbo torna a condução mais prazerosa. Afinal, o 3.6 V6 aspirado da opção com caçamba não tem a mesma pegada – e você pode saber mais sobre ela neste outro artigo

Outro ponto positivo da transmissão está nas trocas de marchas sutis: nada de trancos dentro da cabine nesses momentos. E a direção recebe assistência eletro-hidráulica, igual à do Renault Duster, é mais leve que uma só hidráulica, só que mais pesada que uma elétrica. Na estrada, passa mais segurança. 

Leia também: Como a Fiat fez um motor 1.3 ser o turboflex mais forte do mundo 

Suspensão bruta e tração 

A robustez do Wrangler começa nos eixos tubulares Dana 44, famoso entre os trilheiros. Os amortecedores são a gás e tem stop hidráulico. Para complementar, a barra estabilizadora dianteira pode ser desconectada, o que aumenta seu curso de suspensão e ajuda a manter as rodas no chão. 

A suspensão elevada garante uma boa altura. São 268 mm de vão do solo, que ajuda nos ângulos de ataque em 41,4° e de saída em 36,1º, graças aos posicionamentos dos eixos. Problema é que o entre-eixos alongado prejudica as passagens em barrancos ou rampas mais íngremes. 

Sua proposta não é a mesma de um SUV, então não é o mesmo conforto. Mas os pneus grandes de 33 polegadas ajudam a passar pelas imperfeições da via, e usá-lo no dia a dia não é um problema nessa questão - só o fato de ele ser da largura das faixas que é. 

Dados técnicos: direção eletro-hidráulica; suspensões tipo eixo sólido com molas helicoidais e amortecedores monotubo a gás com stop hidráulico (dianteira e traseira); barra estabilizadora com desconexão eletrônica no eixo dianteiro; bloqueio eletrônico dos diferenciais; freios a disco ventilados (dianteira) e disco sólido (traseira); vão livre do solo, 268 mm; ângulo de ataque, 41,4°; ângulo central, 20,3°; ângulo de saída, 36,1°; capacidade de imersão, 830 mm; diâmetro de giro, 10,5 m; pneus 245/75 R17. 

A tração é selecionável em 4x2, 4x4 parcial, 4x4 reduzida e alta, via alavanca no console controle. Vale ressaltar que a reduzida trabalha em 4:1. No começo é difícil de entender a seleção da tração, mas é só pegar o macete de jogar o câmbio para “N” que tudo fica mais fácil. O sistema funciona bem, e sobrou durante nossos testes na terra, seja em descida, subida e até para passar por um lamaçal.  

Consumo 

Pelo tamanho e o motor, o consumo é até bom. O Wrangler faz 7,5 km/l na cidade e 8,2 km/l na estrada com gasolina. Aqui, o fato de o motor rodar com apenas um combustível ajuda nessa questão. Não temos taxa de compressão média para queimar etanol como vemos nos flex, e a usina se torna mais eficiente.  

Consumo: 7,5 km/l na cidade e 8,2 km/l na estrada com gasolina 

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5 coisas que o Wrangler manda bem e 5 em que vacila 

Sacadas 

  1. Capacidade off-road. É uma das principais características buscadas no Jeep, e ele entrega robustez suficiente para essa atividade. 
  2. Desempenho é outro ponto forte. Mesmo sendo um veículo pesado, acelera bem (e até parece leve) e tem boas trocas de marcha. 
  3. Espaço interno. O entre-eixos é enorme e não tinha como esperar menos. O painel recuado ajuda ainda mais a cabine, e tem espaço para cinco ocupantes adultos. 
  4. 3 em 1. Desmontar portas, teto e até o compartimento de carga dá ao dono do jipe mais de uma opção de carroceria. 
  5. Cara de jipe. Diferente dos outros modelos da marca que assumiram a proposta SUV, ele é o único que ainda carrega o DNA de aventureiro raiz e mantém as linhas dos antepassados à risca. 

Mancadas 

  1. Acabamento interno podia ser melhor para um carro de quase R$ 500 mil. Mesmo que tenha uma proposta mais fora da estrada e bruta, merecia mais carinho em painel, portas e ajustes dos bancos. 
  2. Entre-eixos longo também é um problema. Transposição de tampa é prejudicada. 
  3. Desmontar como Lego tem seu preço, e a vedação não fica das melhores. Em chuvas mais fortes, entra água na cabine. 
  4. Com dimensões de SUV grande, andar com o Wrangler não é tarefa fácil. O desenho do capô que vai afunilando, dificulta ainda mais para alinhar o carro na faixa. 
  5. Todos os comandos ficam no console central, inclusive dos acionamentos dos vidros elétricos, o que confunde o motorista - principalmente quando está rodando em estrada e precisa mexer em alguma configuração, tendo apenas o tato como auxílio.  

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Tecnologia e segurança 

Computador de bordo é completo, só que o cluster perde um pouco do charme por causa dos mostradores analógicos. A multimídia tem tela de 8,4 polegadas com conexão de celulares sem fio, tanto tamanho da tela quanto seu posicionamento no painel são iguais ao do Renegade. 

Ela é intuitiva e conecta fácil, mas usando Apple CarPlay não conseguia mandar e ouvir áudios. E os comandos do volante para multimídia nem sempre respondiam aos acionamentos.  

Do mais, ele entrega o que se espera com um importante detector de pontos cegos, alerta de tráfego cruzeiro e controle de cruzeiro adaptativo. O restante dos itens, você pode conferir abaixo:  

Jeep Wrangler Rubicon 2023 - itens de série 

  • Piloto automático adaptativo com controle de velocidade (ACC)
  • Embalagem para armazenamento do teto removível
  • Retrovisores externos elétricos e removíveis
  • Assistente de partida em rampa 
  • Central Multimídia Uconnect de 8,4" com conexão de Android Auto e Apple CarPlay
  • Comutação automática dos faróis
  • Controle de Estabilidade (ESC)
  •  Câmera frontal off-road
  • Faróis de LED
  • Controle de descida
  • Ganchos para amarração de carga
  • Tração 4x4 Rock-Trac com relação reduzida 4:1
  • Banco do motorista com regulagem de altura
  • Sistema Off-Road+
  • Sistema de monitoramento da pressão dos pneus
  • Eixos Dana 44 dianteiro e traseiro
  • Volante multifuncional
  • Ar condicionado automático
  • Para-brisa rebatível
  • Sistema de detecção de ocupantes
  • Computador de Bordo (distância, consumo médio, consumo instantâneo, autonomia, velocidade média e tempo de percurso)
  • Teto removível na cor da carroceria
  • Rodas de alumínio de 17''
  • Câmera de ré
  • Coluna de direção ajustável em altura e profundidade
  • Sensor de estacionamento traseiro
  • Controle de oscilação da carroceria
  • Retrovisor interno eletrocrômico
  • Isofix
  • Sistema de escoamento de água para lavagem interna
  • Airbags frontais e laterais
  • Protetores de cárter, transmissão e tanque
  • Aviso de colisão frontal com frenagem de emergência
  • Detector de tráfego cruzado
  • Bloqueador do diferencial traseiro e traseiro+dianteiro
  • Quadro de instrumentos de alta resolução TFT de 7" personalizável
  • Sistema Eletrônico Anticapotamento
  • Lanternas traseiras com iluminação a led
  • Barra estabilizadora dianteira com desconexão eletrônica
  • Partida remota
  • Monitoramento de pontos cegos 

Vale a pena comprar um Wrangler? 

Por mais salgado que o preço pareça, ele é o único com essa proposta no mercado. Afinal, os Jeep Renegade, Compass e Commander, embora tenham opções 4x4, têm suas limitações. 

O concorrente real do Wrangler seria o Land Rover Defender, que agora está em uma geração gourmet e não sai da loja por menos de R$ 700.000. Além de ser mais barato, o Jeep tem uma capacidade off-road muito boa e desempenho interessante, e por isso vale a pena, sim. Só é bom ter um outro modelo para usar em dias de chuva. 


Formado em mecânica pelo Senai e jornalismo pela Metodista, está no setor há 5 anos. Tem passagens por Quatro Rodas e Autoesporte, e já conquistou três prêmios SAE Brasil de Jornalismo. Na garagem, um Gol 1993 é seu xodó.

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