Vietnã tentará invadir os EUA com SUV elétrico gigante de 410 cv

Enquanto o Brasil segue à margem da eletromobilidade mundial, vietnamesa VinFast anuncia 60 concessionárias nos EUA já para 2022 e até delivery de revisões

Camila Torres
Por
19.11.2021 às 16:44

Por Homero Gottardello

Quem for ao Salão do Automóvel de Los Angeles (LA Auto Show) nesta sexta-feira (19), primeiro dia aberto ao público em geral desta edição, vai se deparar com mais uma prova inconteste do descompasso da indústria automotiva brasileira com a do resto do mundo. 

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Esta prova atende pelo nome de VinFast, uma startup vietnamita que aproveita a mostra californiana para se lançar no concorridíssimo mercado norte-americano com dois modelos elétricos (dois SUVs elétricos), sonhando em repetir por lá o sucesso que, primeiro, as marcas japonesas e, depois, as sul-coreanas alcançaram. 

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“Sabemos o quão exigente e concorrido é este mercado, mas estamos ancorados em três pilares que, espero, vão nos garantir uma fatia das vendas”, disse o presidente-executivo (CEO) da marca, Michael Lohscheller, em entrevista ao jornal Automotive News.

São eles: um produto atraente, de classe internacional; preços bastante competitivos; um serviço diferenciado para nossos clientes, que inclui equipes móveis para ‘delivery’ de assistência técnica”, completou.

A VinFast não planeja confrontar as três gigantes locais (leia-se General Motors, Ford e Chrysler), até porque está longe de ter a força e a agressividade que as grandes marcas asiáticas tinham entre 1986 e 92, mas espera ser bem-recebida pelo Tio Sam, até porque aposta todas as suas fichas nos Estados Unidos.

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Por exemplo, a montadora não pretende se lançar no mercado chinês, pelo menos por enquanto. “Queremos nos tornar, sim, um fabricante global e, se uma empresa tem esta pretensão, precisa vir para os EUA”, pontuou Lohscheller.

A VinFast é um dos braços do VinGroup, maior conglomerado empresarial do Vietnã (um dos cinco países socialistas de partido único em todo o mundo), que atua majoritariamente nos setores industrial, de tecnologia, imobiliário e varejo, além de serviços que vão da hotelaria à saúde. 

A montadora, fundada em 2017, contratou executivos, engenheiros e designers da mais alta patente para seu programa automotivo. “Esse pessoal não foi contratado para prestar consultoria, mas para fazer parte do projeto em tempo integral”, disse a analista Stephanie Brinley, da IHS Markit, ao “CNN Business”. 

“É visível sua disposição e seu compromisso para entrar no mercado de automóveis e, isso, com modelos elétricos muito qualificados”, acrescentou.

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Grandalhão de 410 cv

Em Los Angeles, a VinFast exibiu dois SUVs elétricos, o VF e35 e o VF e36. O primeiro tem 4,70 metros de comprimento, 30 cm a mais que um Jeep Compass, autonomia de 500 quilômetros sem necessidade de recarga das baterias e até dois motores elétricos, cada um gerando mais de 200 cv.

Já o grandalhão VF e36 tem 5,10 m (é quase 20 cm maior que um BMW X5) e potência combinada de quase 410 cv, rodando até 680 quilômetros sem necessidade de recarga. Além do design assinado pelo estúdio Pininfarina, a dupla traz uma variedade de recursos de assistência que inclui direção semiautônoma – em um nível inferior ao da Tesla.

A VinFast investiu US$ 1,5 bilhão só na primeira fase da construção de sua fábrica em Cat Hai Island, perto de Haifom (cidade onde um incidente, ocorrido em 1946, plantou a primeira semente da Guerra do Vietnã), um complexo industrial de 3,3 milhões de metros quadrados.

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Suas vendas nos EUA começam no início do ano que vem, inicialmente só no Estado da Califórnia, com nada menos que 60 concessionários próprios. Para 2024, a VinFast estuda a construção de uma fábrica norte-americana. 

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“Vamos vender um produto premium por preços bastante razoáveis”, garante o diretor da subsidiária norte-americana, Nguyen Van Anh, sem dizer quanto, exatamente, vão custar seus novos SUVs.

O leitor pode estar perguntando o porque da comparação, no início do texto, entre as indústrias automotivas brasileira e vietnamita, por isso é importante fornecer alguns dados para subsidiar uma conclusão a que o próprio leitor pode chegar sozinho.

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O Brasil é um país mais rico que o Vietnã, mas nosso déficit orçamentário (do governo federal) é de quase 14% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto lá é só de 3%. Nós ocupamos um posto no Ranking Global de Inovação 19 posições atrás deles.

Enquanto a taxa brasileira de desemprego passa dos 13%, a vietnamita fica na casa dos 2%, se recuperando dos efeitos da pandemia. E enquanto a receita tributária no Brasil passa de 33% do PIB, no Vietnã ela “morde” apenas 17,5% da produção industrial.

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Mercado para restolho

Agora fica mais fácil entender por que a VinFast quer atrair atenção nos Estados Unidos com dois modelos elétricos muito qualificados, literalmente cavando seu espaço no mercado mais concorrido do mundo, provando o valor de sua engenharia e de sua capacitação.

Enquanto isso, o Brasil se esconde das grandes discussões ambientais, se apequena na produção industrial, volta à Idade Média em termos de desenvolvimento tecnológico e fica marginal à eletromobilidade. 

O pior de tudo é que aceitamos, passivamente, esse embotamento. Nunca é demais lembrar que a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricante de Veículos Automotores) projetou, de forma otimista, que só em 2035 a participação dos EVs nas vendas domésticas alcançará os 30%.

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Ou seja, a própria Anfavea reconhece que o Brasil seguirá no mínimo pela próxima década – quiçá por mais outra – como mercado preferencial para obsoletos veículos equipados com motores a combustão. Só três de cada dez modelos zero-quilômetro serão elétricos daqui a 13 anos, se o estudo da associação se concretizar à risca.

Já os vietnameses, que impuseram uma derrota desonrosa aos norte-americanos na famosa guerra que durou 20 anos e só terminou 1975, estão agora mesmo num estande reluzente do Salão de Los Angeles, onde receberão os visitantes até o próximo dia 29, quando o evento fecha suas portas. 

Quem estiver lá vai conferir os VF e35 e VF e36 de perto. Quem sabe, um dia, uma caravela não os transporte até aqui?


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A faculdade me fez jornalista, a vida me fez aficionada por carros esportivos e adrenalina. Unindo paixão e profissão, realizo a missão de conectar pessoas com o universo automotivo, mas confesso que já tentei pilotar um kart e não deu muito certo.

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