Por que estes SUVs ainda têm versão manual se elas vendem tão mal?

Para T-Cross, Tracker, Creta, Kicks e Captur, opções manuais respondem por menos de 2% das vendas, mas elas são importantes por outra razão
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25.02.2021 às 12:55
 Para T-Cross, Tracker, Creta, Kicks e Captur, opções manuais respondem por menos de 2% das vendas, mas elas são importantes por outra razão

Carros com câmbio automático estão começando a dominar o mercado, em especial porque os preços cada vez mais proibitivos tornaram modelos de entrada, geralmente aqueles que vêm equipado com caixa manual, menos atraentes para os consumidores. Se é para gastar, que seja logo com um que proporcione mais comodidade ao dirigir.

Ao mesmo tempo, os SUVs compactos também estão começando a tomar conta de nossas ruas. Em 2020, sete dos 20 carros mais emplacados em nosso território foram utilitários esportivos. O número só não é maior porque seus preços são proibitivos a uma boa parcela da população.

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Por isso mesmo, conforme a Mobiauto já apontou em levantamento exclusivo, os modelos com esse tipo de carroceria dominam o ranking de carros automáticos mais vendidos no país.

Na verdade, entre os SUVs compactos que oferecem versão manual - VW T-Cross, Chevrolet Tracker, Hyundai Creta, Renault Duster, Renault Captur e Nissan Kicks (que seguirá com esta opção na renovada linha 2022) -, os índices de participação desse tipo de transmissão nas vendas são ínfimos.

Nossos dados exclusivos de emplacamento por versão no ano passado apontam que, com exceção do Duster, um modelo de tíquete médio mais baixo e que, por isso, ainda possui câmbio manual em mais da metade de suas unidades comercializadas, nos outros modelos o percentual é sempre menor que 5%, por vezes sequer chegando a 1%.

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O segundo SUV que mais emplaca versões manuais é o Kicks, com 4,89% do volume. Depois vem o Creta, com 3,40%, e o Tracker, com 1,19%. Os casos mais extremos são os de T-Cross e Captur, que registraram ínfimos 0,28% e 0,05%, respectivamente.

Em números absolutos, estamos falando de meros 170 emplacamentos para o representante da VW ao longo de todo o ano, sendo 22 para o Jeep e apenas cinco unidades para o Renault. Foi o suficiente para a FCA decidir aposentar de vez o Renegade 1.8 manual.

Se a demanda é tão baixa, o que sustenta essas configurações em linha? A resposta pode estar nos índices de eficiência energética exigidos por programas como o Inovar-Auto (vigente de 2012 a 2018) e, agora, o Rota 2030 (de 2018 a 2032).

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O regime automotivo atual demanda que as fabricantes apresentem 11%, em média, de melhoria em eficiência energética de seus produtos num ciclo de cinco anos (2018 a 2023). Os SUVs, como já contamos neste outro artigo, são veículos mais difíceis de entregar eficiência, devido às características de sua carroceria. É aí que as versões manuais ganham importência.

Segundo Edson Orikassa, diretor de meio ambiente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), o cálculo de eficiência energética de um veículo junto ao governo é feito levando em conta os índices alcançados por todas as configurações de maneira separada. “O ganho que você tem com cada tipo de câmbio entra na conta para cumprir as metas”, explica.

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 Para T-Cross, Tracker, Creta, Kicks e Captur, opções manuais respondem por menos de 2% das vendas, mas elas são importantes por outra razão

No caso de um Hyundai Creta, por exemplo, serão colocadas na balança do Inmetro as versões 1.6 manuais, 1.6 automáticas e 2.0 automáticas (atualmente em linha), com medições de consumo, gasto energético e emissões auferidas com gasolina e etanol.

O resultado obtido com os diferentes tipos de combustível para uma mesma motorização são divididos por dois, para se obter uma média entre eles. Com estes números, calcula-se a média final levando-se em conta o peso proporcional de cada motorização no volume de vendas. Ou seja: se a versão manual do Creta corresponde a 3,4% dos emplacamentos, ela terá peso 3,4 de um total de 100 no cálculo.

Parece complexo (e é), e os percentuais parecem baixos demais (e são) para valer a pena, mas eles ainda têm sua relevância. Porque o fato é que o câmbio manual ainda se sai melhor do que o automático nas provas de consumo, especialmente quando se fala em eficiência para uso na cidade.

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Veja abaixo esta tabela comparativa do T-Cross com motor 200 TSI (1.0 três-cilindros 12V turboflex com injeção direta, de 116/128 cv e 20,4 kgfm) no Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro, quando aliado à caixa manual de cinco marchas da VW ou à automática de seis velocidades da Aisin:

T-Cross 200 TSI manual
Consumo cidade: 8,5 km/l (E) e 12,2 km/l (G)
Consumo estrada: 10,1 km/l (E) e 14,5 km/l (G)
Emissões: 100 (CO2), 0,03 (Nox), 0,527 (NMHC) e 0,03 (CO)
Gasto energético: 1,64 MJ/km
Nota: B (relativa à categoria) e B (geral)

T-Cross 200 TSI automático
Consumo cidade: 7,6 km/l (E) e 11 km/l (G)
Consumo estrada: 9,5 km/l (E) e 13,5 km/l (G)
Emissões: 111 (CO2), 0,024 (Nox), 0,776 (NMHC) e 0,03 (CO)
Gasto energético: 1,81 MJ/km
Nota: C (relativa à categoria) e B (geral)

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Aqui temos um caso típico em que a versão manual supera a automática em praticamente todos os índices, inclusive rendendo uma nota final melhor ao T-Cross no ranking relativo de sua categoria (B contra C do automático). Isso acontece com todos os SUVs dotados de câmbio automático com conversor de torque, como Tracker, Creta e Renegade.

Já o Nissan Kicks, que utiliza transmissão tipo continuamente variável, vive uma realidade ligeiramente diferente, apresentando dados de consumo melhores na estrada com a caixa automática do que com a manual. Não apenas isso: os índices de emissão também caem com o uso do CVT. Observe:

Kicks 1.6 manual
Consumo cidade: 7,8 km/l (E) e 11,1 km/l (G)
Consumo estrada: 9 km/l (E) e 13 km/l (G)
Emissões: 112 (CO2), 0,007 (Nox), 0,345 (NMHC) e 0,015 (CO)
Gasto energético: 1,64 MJ/km
Nota: B (relativa à categoria) e B (geral)

Kicks 1.6 CVT
Consumo cidade: 7,7 km/l (E) e 11,4 km/l (G)
Consumo estrada: 9,4 km/l (E) e 13,7 km/l (G)
Emissões: 109 (CO2), 0,013 (Nox), 0,285 (NMHC) e 0,015 (CO)
Gasto energético: 1,81 MJ/km
Nota: C (relativa à categoria) e B (geral)

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Segundo o diretor de meio ambiente da AEA, a caixa CVT é de fato mais eficiente que a automática epicíclica. A diferença do Kicks para os demais é que, em seu caso, o percentual de busca pela versão manual é mais significativo. Se fôssemos levar em conta apenas a eficiência, a aposentadoria do Kicks manual já estaria mais do que justificada.

Já no caso de T-Cross, Tracker, Renegade e Creta, as versões manuais ainda ajudam a melhorar seus resultados nas provas de consumo e eficiência do governo. É o que as sustenta em linha, mas não por muito tempo. 

“Tecnologias como turbo, injeção direta e a própria evolução dos câmbios automáticos, com mais marchas ou CVT, já estão permitindo que se chegue a dados tão bons ou melhores de consumo e emissões do que se obtém com o câmbio manual”, diz Orikassa.

Ou seja: bastará seus índices de emplacamento ficarem tão inexpressivos a ponto de, ou a nota do Inmetro dos SUVs compactos automáticos melhorar o suficiente para que as configurações manuais desses modelos sejam definitivamente descontinuadas do segmento. E, pelo jeito, pouquíssima gente sentirá falta delas.

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