Avaliação: 1ª picape elétrica do mundo é robusta como Hilux ou S10 a diesel?

Tesla Cybertruck que nada! Primeira picape elétrica é da JAC e vem da China.
Renan Bandeira
Por
22.09.2020 às 15:21
Tesla Cybertruck que nada! Primeira picape elétrica é da JAC e vem da China.

 Nada de Tesla Cybertruck. A primeira picape 100% elétrica de produção em série do mundo é da JAC Motors. Carregando o nome iEV330P, ela foi apresentada a jornalistas brasileiros na última semana, já possui unidades comercializadas e deve ser lançada oficialmente nos próximos meses.

A Mobiauto testou o modelo, que chegará ao mercado com apenas uma versão e preço sugerido de R$ 289.900. 

Seu motor elétrico possui 150 cv de potência e 33,6 kgfm de torque, e está acoplado a um câmbio automático de apenas uma marcha, como costuma ocorrer com modelos elétricos. O conjunto é alimentado por baterias de fosfato de ferro-lítio de 67,2 kWh, que gera uma autonomia de 320 km no ciclo NEDC (menos rigoroso do que o WLTP). 

Tesla Cybertruck que nada! Primeira picape elétrica é da JAC, vem da China, custa R$ 289.900 e promete

A carga da bateria pode ser feita pelo carregador de 7,4 kW que acompanha a picape, e permite elevar o nível da bateria de 20% para 100% em oito horas. Porém, instalações de carga rápida podem realizar o mesmo carregamento em até uma hora e meia.

A instantaneidade de torque e potência dos elétricos geram a expectativa de que o condutor tenha a sensação mais intensa de aceleração em um veículo. Porém, isso não pode ser sentido na JAC iEV330P.

Seus limitadores amansam e amarram o modelo, que chega à velocidade máxima de apenas 97 km/h - quando não acionado o sistema ECO que a limita a 60 km/h, a fim de melhorar a autonomia e aumentar a regeneração da carga da bateria. 

A limitação do veículo pode ser sentida em todos os momentos durante a condução. Diferentemente do iEV60 - SUV compacto elétrico da marca - que tem reação abrupta após o acionamento do pedal, a picape tem menos força e dá a sensação de que está carregada o tempo todo, mesmo com só dois ocupantes a bordo e caçamba vazia.

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Mas isso não é necessariamente um problema, afinal, segundo a marca, a proposta é de que o veículo seja voltado ao trabalho. O presidente do grupo SHC, representante oficial da JAC no Brasil, Sergio Habib, afirmou que a iEV330P tem por objetivo ganhar as vendas para aeroportos, portos e mineradoras, e não visa tanto ao mercado de pessoas físicas, embora possa haver exceções.

A intenção da fábrica com o produto foi confirmada após Habib ser questionado sobre uma possível retomada de crescimento das concessionárias da rede JAC - que conta com meras dez unidades atualmente. Ele afirmou que o número de lojas da rede não deve aumentar em um futuro próximo porque a picape não precisará desse meio para ser comercializada.

Atualmente, a iEV330P se enquadra em um nicho de mercado inédito e não possui concorrentes, uma vez que não há nenhum outro modelo totalmente elétrico na categoria. Analisando a gama de opções do mercado, o veículo pode ser comparado com outros modelos do segmento por proposta ou valor.

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Embora tenha um preço salgado, o modelo conta com tração 4x2 traseira, não dispõe de uma lista recheada de itens de série e fica posicionada ao lado das opções mais simples das picapes médias nacionais.  

Nesse sentido, em um primeiro momento, a comparação será com as versões direcionadas à mesma proposta e que tenham características iguais às da novata. Dessa forma, foram selecionadas as versões de cabine dupla de entrada de Toyota Hilux, Ford Ranger, Volkswagen Amarok e Chevrolet S10, com motores diesel e transmissão automática. Confira as dimensões externas dos modelos:

  • Toyota Hilux SR: 5,30 m de comprimento; 1,85 m largura; 1,8 de altura; 3,08 m de entre-eixos.
  • Ford Ranger XLS 2.2: 5,35 m de comprimento; 1,86 m de largura; 1,82 m de comprimento; 3,22 m de entre-eixos.
  • Volkswagen Amarok Comfortline: 5,25 m de comprimento; 1,94 m de largura; 1,83 m de altura; 3,09 m de entre-eixos.
  • Chevrolet S10 LT 2.8 Diesel: 5,36 m de comprimento; 1,87 m de largura; 1,83 m de altura; 3,09 m de entre-eixos.
  • JAC iEV330P: 5,60 m de comprimento; 1,88 m de largura; 1,83 m de altura; 3,38 m de entre-eixos.

Dimensões de caçamba e capacidade de carga:

  • Toyota Hilux SR: 1,57 m de comprimento; 1,64 m de largura; 0,48 m de altura; 1.015 kg de capacidade de carga.
  • Ford Ranger XLS 2.2: 1,49 m de comprimento; 1,56 m de largura; 0,51 m de altura; 1.123 kg de capacidade de carga.
  • Volkswagen Amarok Comfortline: 1,55 de comprimento; 1,61 m de largura; 0,51 m de altura; 1.143 kg de capacidade de carga.
  • Chevrolet S10 LT 2.8 Diesel: 1,48 m de comprimento; 1,53 m de largura; 0,47 m de altura; 1.049 kg de capacidade de carga.
  • JAC iEV330P: 1,81 m de comprimento; 1,52 m de largura; 0,47 m de altura; 800 kg de capacidade de carga.

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Motorização:

  • Toyota Hilux SR: turbodiesel 2.8 de 177 cv de potência e 45,9 kgfm de torque com câmbio automático de seis marchas.
  • Ford Ranger XLS 2.2: turbodiesel 2.2 de 160 cv de potência de 39,3 kgfm de torque com câmbio automático de sete marchas.
  • Volkswagen Amarok Comfortline: turbodiesel 2.0 de 180 cv de potência e 42,8 kgfm de torque com câmbio automático de oito marchas.
  • Chevrolet S10 LT 2.8 Diesel: turbodiesel 2.8 de 200 cv de potência e 51 kgfm de torque com câmbio automático de seis marchas.
  • JAC iEV330P: elétrico de 150 cv de potência e 33,6 kgfm de torque com câmbio automático de uma marcha.

Embora tenham conjunto mecânico mais forte que a picape chinesa, devido à robustez dos propulsores a diesel, os modelos do mercado nacional compatíveis com a proposta do modelo da JAC oferecem espaço interno e de caçamba menores que os da elétrica.

As dimensões maiores da iEV330P dão espaço generoso à cabine. Com bancos dianteiros ajustados para um ocupante de 1,87 m de altura, sobra espaço na segunda fila para levar passageiros da mesma estatura, restando uma distância de um palmo entre suas pernas e o banco dianteiro e quatro dedos de diferença para o teto da picape. Porém, o assoalho raso deixa os ocupantes da fileira de trás com as pernas elevadas e em posição pouco confortável.

O espaço interno da caçamba também é maior que o das concorrentes. No entanto, peca por levar menos peso. Afinal, todas as picapes da categoria levam mais de 1.000 kg (condição sine qua non para uso de motor a diesel), contra apenas 800 kg da elétrica.

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O motor elétrico também tem vantagens, embora falte força. De acordo com a JAC, modelos movidos a diesel e equipados com câmbio automático - como os selecionados acima - emitem 250g de CO2 por quilômetro rodado, o equivalente a 10 toneladas do gás por ano caso sejam rodados 40.000 km. Já a iEV330P é uma alternativa sustentável com emissão zero.

Além disso, a empresa garante que o gasto com energia elétrica por quilômetro rodado representa apenas 20% de uma picape média convencional. Isso porque a JAC roda 320 km com sua carga completa, uma média de 21 kWh por 100 km. Considerando o custo médio de R$ 0,55 por kW, o proprietário gastaria R$ 37 para encher o conjunto de baterias de energia.

Para percorrer a mesma distância com veículos movidos a diesel e transmissão automática, considerando um consumo médio de 6 km/l, seria necessário o abastecimento de 53 litros do combustível, o que deixaria a viagem com um gasto de R$ 196. Em contrapartida, enquanto picapes a diesel costumam rodar mais de 600 km com um tanque, a da JAC só vai até a metade do caminho.

Mas o motor elétrico ainda conta com as vantagens de manutenção, já que não possui radiador, filtro de ar, filtro de combustível, sistema de escapamento, correias, catalisador. Mas a proposta da tecnologia possui valor elevado, e a picape elétrica chega ao mercado nacional custando cerca de R$ 100.000 a mais que os modelos que seriam seus concorrentes diretos no Brasil. Veja:

  • Toyota Hilux SR: R$ 194.590
  • Ford Ranger XLS 2.2: R$ 147.090
  • Volkswagen Amarok Comfortline: R$ 205.420
  • Chevrolet S10 LT 2.8 Diesel: R$ 187.590
  • JAC iEV330P: R$ 289.900

A diferença de valores teria retorno após o proprietário rodar pouco mais de 200.000 km com a picape elétrica, tendo como base apenas sua economia de consumo em relação ao gasto com diesel das outras opções, sem contar gastos de manutenção.

Em um segundo comparativo, observando a faixa de preço, sem que seja analisado o investimento a longo prazo, a picape oferece pouco em itens de série, tecnologia e acabamento ante as versões de valores próximos dentro do segmento - que são as configurações mais completas dos modelos citados.

De série, a iEV330P conta com:

  • Freio Regenerativo;
  • Central multimídia de 7 polegadas;
  • Ar-condicionado;
  • Direção elétrica;
  • Rodas de liga leve;
  • Sistema de monitoramento de pressão de pneus;
  • ABS, EBD, airbag duplo, cintos três pontos e encostos de cabeça para todos os ocupantes, que são obrigatórios por lei;
  • Vidros dianteiros e traseiros elétricos com sistema antiesmagamento;
  • Sensores traseiros de estacionamento;
  • Câmera de ré;
  • Luzes de condução diurna em LED;
  • Porta USB e tomada 12V na primeira fileira
  • Apoio de braço dianteiro;
  • Volante multifuncional;
  • Aviso de não uso de cinto para motorista;
  • Banco do motorista com regulagem elétrica;
  • Corte automático de alta tensão e desbloqueio automático de portas em caso de colisão.

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Por outro lado, deixa de oferecer opções como controle de tração e de estabilidade, assistente de partida em rampa, tração 4x4, central multimídia com projeção de Android Auto e Apple CarPlay e acabamento interno mais refinado, como os concorrentes de mesma faixa de preço. 

A central multimídia que equipa o veículo não se conecta aos celulares como as que estão disponíveis no mercado. Além disso, outro impeditivo é a configuração de linguagem em chinês. Ou seja, a não ser que você saiba mandarim, será difícil realizar ajustes no sistema.

O acabamento interno é praticamente inteiro em plástico rígido. No entanto, detalhes cromados e faixas em couro sintético marrom presentes no painel central, nas portas e no apoio de banco, melhoram o visual interno do modelo, que é distante do requinte de S10 High Country ou Amarok V6 Extreme.

Ainda que seja constituído quase que 100% em plástico, as molduras de porta e as demais peças do acabamento interno são bem encaixadas. Durante os testes, mesmo em superfícies irregulares, não há estalos e rangidos do material, que poderiam ser percebidos mais facilmente já que o motor elétrico é totalmente silencioso.

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O conforto aos ouvidos é o mesmo ao dirigir a picape. Os bancos revestidos em tecidos são confortáveis e garantem uma boa posição ao dirigir - padrão de carros mais altos, que aumentam o campo de visão e dão melhores condições de dirigibilidade.

Em movimento, a iEV330P dá uma sensação distinta de direção em relação a outras picapes e elétricos. Não se sente a força e a robustez das picapes a diesel, e também não há a esperteza dos elétricos que estamos acostumados a perceber. O modelo se manteve com o indicadores em 60% de eficiência durante os testes, mas, segundo a fabricante, trabalha com 100% da sua força apenas quando está carregada.

Vazia, a picape se comporta bem em terrenos planos, mas a regulagem da suspensão - que inclui feixes de mola na traseira e molas helicoidais na dianteira - não absorve tão bem as superfícies imperfeitas, garantindo uma boa chacoalhada aos ocupantes do veículo. Algo típico de qualquer picape média sobre longarinas.

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Posso comprar?

A resposta é: depende. A iEV330P é voltada ao trabalho e em nichos específicos. Para o dia a dia, ela não é a opção mais indicada. Até porque, na faixa de preço, é possível levar para casa um modelo concorrente que garante mais itens de série, conforto e melhor acabamento, já que a iEV330P é nivelada com as configurações de topo de linha, mas conta com pacote de itens das opções de entrada.

Mas ela pode ser uma boa opção para o frotista que quer economizar nos custos de manutenção e uso diário, e ainda levar para casa (ou para a empresa) um veículo com espaço interno e caçamba maiores. Além, é claro, de virar amigos do meio ambiente. O dono só não pode ter velocidade de condução e capacidade de carga como critérios essenciais para a compra. 

Mesmo assim, a aceitação do veículo ainda é uma incógnita, já que é a primeira picape totalmente elétrica a chegar ao mercado brasileiro. Ou seja, pode não ter espaço no mercado de seminovos e usados no futuro, sendo desvalorizada e garantindo perda de capital para o proprietário.

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