Uno Turbo: a desastrosa 1ª experiência da Fiat com motor turbo

Compacto custava o equivalente a R$ 150.000 na época, mais do que um Tipo. Caro demais para um “popular”, não bateu nem 2.000 unidades vendidas
Renan Bandeira
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06.05.2021 às 15:36
Compacto custava o equivalente a R$ 150.000 na época, mais do que um Tipo. Caro demais para um “popular”, não bateu nem 2.000 unidades vendidas

A Stellantis já apresentou sua nova família GSE de motores turboflex com opções 1.0, ainda sem potência e torque confirmados para o Brasil, mas que rende 120 cv e 19 kgfm com gasolina na Europa, e 1.3 de 180/185 (gasolina/etanol) cv e 27,5 kgfm, que já está presente nas linhas 2022 de Fiat Toro e Jeep Compass

Na última terça-feira, a marca italiana apresentou durante a final do Big Brother Brasil 2021 seu novo SUV - ainda sem nome, mas que se chamará Domo, Pulse ou Tuo -, que usa como base a estrutura do hatch compacto Argo. Será ele o primeiro a receber o trem de força 1.0 GSE T3, com três cilindros e 12 válvulas.

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Mas esses não são os primeiros carros turbinados oferecidos pela Fiat por aqui. Antes disso, ainda na década de 1990, quando não se pensava em propulsores turbinados, a montadora trouxe ao mercado o Uno 1.4 Turbo com 116 cv e 17 kgfm.

A nova tecnologia foi uma virada de jogo para o pequeno compacto, que foi lançado  com objetivo de substituir o 147 e ser o zero-km mais barato do Brasil. A versão esportiva era sucessora das 1.5R, 1.6R e 1.6R MPI - esta última com injeção eletrônica multiponto -, e dava ao Uno o título de primeiro carro com turbo nacional.

Compacto custava o equivalente a R$ 150.000 na época, mais do que um Tipo. Caro demais para um “popular”, não bateu nem 2.000 unidades vendidas

Mas a experiência não foi tão boa quanto o esperado. O Uno Turbo foi fabricado entre maio de 1994 e abril de 1996, e teve apenas 1.801 unidades vendidas. O baixo volume tem por trás alguns importantes fatores, como o visual exagerado e as poucas cores disponíveis, o alto valor do projeto e a aceitação do mercado.

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O Uninho turbo foi lançado como uma resposta a Ford Escort XR3, Gol GTI e Kadett GSI. A seu favor, acelerava melhor, com 0 a 100 km/h em 8,96 segundos, e ainda tinha melhor velocidade final que a dos concorrentes, 192 km/h.

Mas a dirigibilidade não era tão segura. Com desempenho de carros maiores empurrados por motores 2.0, o compacto era leve demais para tanta potência e não oferecia a estabilidade de um esportivo, mesmo com a suspensão independente nos dois eixos e rebaixada, por conta da arquitetura de “caixotinho”.

Compacto custava o equivalente a R$ 150.000 na época, mais do que um Tipo. Caro demais para um “popular”, não bateu nem 2.000 unidades vendidas

Direção hidráulica, freios a disco do irmão maior Tempra, teto solar e interior esportivo eram outros pontos favoráveis. No entanto, o design externo carregado com spoilers nos pára-choques traseiro e dianteiro, as saias laterais e a gama de cores restrita a amarelo, vermelho ou preto deixavam o visual um tanto exagerado. 

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Além disso, a Fiat sentiu o que é ter um carro de entrada com projeto mais elaborado no Brasil, algo que a Volkswagen também viu com a morte precoce do Up! - que a Mobiauto já contou

Embora fosse mais bem acabado, possuísse mais itens de série e motor tecnológico, o Uno ainda mantinha a figura de popular, mas com preço de esportivo importado. 

Enquanto as opções mais básicas custavam entre R$ 7.000 e R$ 8.000 em 1994, o que em valores corrigidos daria entre R$ 45.000 e R$ 55.000 nos dias atuais, o Uno Turbo era oferecido por R$ 22.493, valor que, corrigido aos tempos atuais, daria (respire fundo!) cerca de R$ 150.000 segundo a correção pelo IPCA.

Compacto custava o equivalente a R$ 150.000 na época, mais do que um Tipo. Caro demais para um “popular”, não bateu nem 2.000 unidades vendidas

Com o preço elevado, a versão passou a concorrer com categorias de degraus mais altos, aproximando-se em valor do hatch médio VW Golf GTI Mk3, importado, que partia de R$ 27.900. Era, inclusive, mais caro que o irmão maior Tipo, que custava R$ 17.000 na época. Tudo isso tornou sua vida ainda mais difícil.

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Outro ponto que prejudicou é que o sistema de turboalimentação era novo e gerava desconfiança pela complexidade da arquitetura do motor no mercado, que preferia os veículos de Volkswagen, Chevrolet e Ford com motores naturalmente aspirados, de aplicação simples e apenas com capacidade cúbica maior.

Compacto custava o equivalente a R$ 150.000 na época, mais do que um Tipo. Caro demais para um “popular”, não bateu nem 2.000 unidades vendidas

Com baixo volume de vendas, o pequeno Uno Turbo saiu de linha para dar espaço ao Palio, que chegava ao Brasil para se posicionar entre Uno e Tipo no catálogo de opções da Fiat. 

A marca italiana ainda tentou emplacar mais veículos turboalimentados entre o fim da década de 90 e o começo dos anos 2000, com Tempra e Marea. Depois, na virada para a década de 2010, aventurou-se com Punto e Bravo T-Jet, equipados com uma usina 1.4 turbo.

Nenhum deles, porém, chegou perto do sucesso conquistado pelos motores turbinados atuais, e que se espera que os modelos 1.0 T3 e 1.3 T4 GSE tenham no mercado nacional.

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