Como uma briga de vizinhos fez este Corcel ser içado a 40 m de altura

Veículo passou quase 40 anos preso na casa do antigo dono. Quando foi vendido, "entrega" teve de ser feita usando um guindaste
Renan Bandeira
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23.01.2021 às 10:00 • Atualizado em 27.01.2021
Veículo passou quase 40 anos preso na casa do antigo dono. Quando foi vendido, "entrega" teve de ser feita usando um guindaste

Sou amante de histórias que envolvem clássicos e também daquelas sobre modificações de veículos, mas confesso: essa é uma das tramas mais malucas que já vi. 

Se você é entusiasta da área automotiva e/ou ama carros antigos, deve ter visto nas últimas semanas, nas redes sociais, o vídeo de um Ford Corcel vermelho sendo içado por um guindaste e passando por cima das casas para, enfim, chegar às mãos de seu restaurador.

No maior estilo missão impossível, o mecânico e proprietário da oficina Mecânica e Autoelétrica Anderson, Anderson Oliveira, fez o resgate pelos ares de um Ford Corcel 1974 em Porto Alegre (RS).

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Embora a ação tenha acontecido na capital gaúcha, Anderson é de Canoas (RS). Na cidade, é conhecido por trabalhar há 15 anos com manutenção de carros antigos, e também por ser um antigomobilista raiz. Agora, além disso, é proprietário do Corcel mais famoso do Brasil (desculpa aí, Relâmpago Marquinhos).

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O protagonista desta história foi fabricado em 1972 e é movido pelo já conhecido motor 1.4 de 68 cv de potência e 9,8 kgfm de torque, gerenciado por um câmbio manual de quatro marchas. 

A história do Corcel voador começou quando a aposentada Lunimar Assenato, filha de Revair Pomnitz - taxista e antigo proprietário do veículo, falecido há 42 anos -, ligou para a empresa de guindastes JEG para orçar a retirada do Corcel de sua casa para poder vendê-lo.

Lunimar não sabe dizer quantas vezes, exatamente, o Corcel foi colocado para rodar após a morte de seu pai. Mas foram poucas, ela garante. O recibo de seu último abastecimento ainda está guardado e é de 1984, 37 anos atrás. Provavelmente, foi feito pela esposa de Revair, madrasta de Lunimar. 

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Depois disso, o carro foi mantido parado na garagem até o ponto em que ficou preso, literalmente. Por isso ela teve de procurar uma empresa de guindastes. Mas voltaremos a falar dessa parte da história mais adiante.

O fato é que funcionários da JEG conheciam Anderson e, sabendo que o mecânico poderia ter interesse no Corcel, ligaram ele. Não se enganaram: Oliveira saiu de Canoas rumo a Porto Alegre para conferir o estado do glorioso Ford.

Foi amor à primeira vista: “No momento em que o avistei, já o queria na mesma hora”, afirmou Anderson. Segundo ele, o carro está em surpreendente estado de conservação. "O interior estava impecável, sem nenhum rasgo. E mesmo com o tempo parado, o motor não estava trancado”, contou Oliveira. 

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O mecânico até levou uma bateria nova e um compressor para encher os pneus e tentar sair do local já rodando com o Corcel, aí veio a surpresa: o antigo portão da casa havia sido murado, deixando o Corcel preso lá dentro. 

Segundo a antiga dona do modelo, uma briga de vizinhos foi a responsável por fechar todas as rotas de fuga do cupê. “Meu pai e um vizinho compartilhavam o mesmo espaço para guardar o carro. Depois que meu pai faleceu, houve uma briga entre ele e a minha madrasta, e a vizinha ergueu o muro no lugar da saída do carro”, relembrou a aposentada.

Lunimar não sabe exatamente quando o muro foi erguido, mas a julgar pela data do último recibo de abastecimento, teria sido mesmo em 84. Com o Corcel preso há estimados 37 anos, só havia uma alternativa: o resgate pelos ares, que rendeu as incríveis cenas viralizadas nas redes sociais. 

O guindaste usado para içá-lo é originalmente destinado à instalação de piscinas. Proteções de espuma foram colocadas em todas as superfícies de contato para evitar que as correntes e a base de apoio arruinassem a pintura e a estrutura do Corcel.

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A rua foi interditada para o guindaste trabalhar. Havia comunicação via rádio operador do guindaste e Anderson. Os vizinhos se mostraram preocupados e, em alguns vídeos, aparecem ameaçando Anderson com gritos como "não vai derrubar isso na minha casa não, hein?".

O carro, devidamente apoiado, foi aos poucos deixando o confinamento de tantos anos na garagem para ganhar a liberdade dos céus a mais de 30 metros de altura. Anderson era só apreensão: “Naquele momento, eu queria virar as costas e sair correndo”.

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A filha do antigo proprietário, por sua vez, já começava a sentir falta do Corcel. “Até chorei quando vi ele sendo retirado daqui. O carro era a lembrança que tinha do meu pai. Ele era o meu pai”, resumiu.

Em contrapartida, o novo dono não via a hora de colocar as mãos no cupê. “Ver um carro que eu vi num cubículo ser içado, e sabendo que seria meu, na verdade, foi indescritível.”

Depois de sobrevoar as casas do bairro, o Corcel foi içado até o caminhão reboque, que completaria o trajeto de Porto Alegre a Canoas, levando-o até a oficina de Anderson.

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Agora, já está funcionando normalmente, com pouquíssimos ajustes. “Ele está com bateria nova e teve as câmaras de ar dos pneus trocadas. E só", resumiu o novo dono. "O rádio está funcionando, mas só na frequência AM, como era quando saiu de fábrica”, concluiu.

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Segundo o mecânico, o veículo ainda possui chave reserva, manual do proprietário e nota fiscal de compra. E lembra do recibo do último abastecimento? O posto de combustível ainda existe e o dono já prometeu a Anderson que basta aparecer lá com a nota em mãos para ganhar um "tanque cheio" de cortesia.

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Falando em promessa, Anderson fez a sua a Lunimar: voltar com o carro a Porto Alegre quando a restauração estiver completa para que ela possa rodar com ele pela primeira vez. "Saí de casa aos 18 anos e nunca mais tive contato com meu pai desde então", explicou a aposentada.

O saldo do voo? R$ 8,2 mil, sendo R$ 6 mil pelo veículo e outros R$ 2,2 mil pelo serviço de guindaste.

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Questionado sobre o futuro do Corcel, Anderson afirmou que só precisa regularizar o modelo junto ao Detran do estado, já que ele ainda tem placas amarelas. Além disso, disse que deixará o carro impecável, mantendo sua originalidade. 

A meta do novo dono é que o cupê faça companhia para sua Ford Belina e seu VW Gol GTS. Mas isso não quer dizer que não haja a possibilidade de revenda. Porém, segundo ele, o Corcel voador não sai de sua oficina por menos de R$ 50 mil.

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Corcel no guindaste
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Resgate do Corcel
Corcel é resgatado por guindaste
Corcel 1974
Restauração Corcel

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