GP de Mônaco da F1: está na hora dele sair do calendário?
Às vezes existem assuntos que muita gente acha que não devem ser tocados por uma espécie de bem maior. Ao longo do curso da sociedade e, claro, de acordo com as peculiaridades culturais de cada povo, essas ideias vão mudando. É aquilo popularmente conhecido como tabu.
Uns dizem que religião é tabu, outros dizem que é política, sexo… e há quem diga até que os acontecimentos dos últimos quatro minutos do segundo tempo da prorrogação de Brasil e Croácia sejam um grande tabu.
Discussões à parte sobre ser certo ou errado e impor limites a certos temas, fato é que hoje podemos dizer que o maior tabu da Fórmula 1 é o famoso GP de Mônaco.
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Inegavelmente é uma corrida carregada de muita história, talvez com alguma distância a pista mais tradicional que o esporte já viu. E não é difícil entender o porquê.
Com ruas estreitas e um traçado extremamente desafiador, Mônaco é o lugar do mundo onde a habilidade de um piloto mais faz diferença.
Na Fórmula 1, seja a contemporânea ou a do passado, ter um carro competitivo é um passo imprescindível para ser vencedor, e são cada vez mais raros os palcos em que as distâncias entre carros distintos podem ser drasticamente reduzidas apenas pela qualidade de pilotos.
Não esperem mais ver nesta temporada, por exemplo, um Esteban Ocon, ou até mesmo um Fernando Alonso brigando pela pole com uma Red Bull até o fim de um treino classificatório. São coisas que só o principado francês é capaz de ofertar.
Mas nem tudo são flores. Aquilo que faz Mônaco se tornar um tabu e cria dúvidas sobre sua continuidade na maior categoria do automobilismo é justamente a falta de ação no “prato principal”.
Em 2021 tivemos exatamente UMA ultrapassagem durante todas as 78 voltas da corrida. Algo que, evidentemente, incomoda muitos torcedores.
Eu particularmente gosto do GP, mas também entendo aqueles que não suportam. Afinal, até mesmo o Globo Rural e seus tratores deve ter uma maior capacidade de manter brasileiros acordados num domingo de manhã.
Ninguém que começou a assistir o esporte agora é obrigado a conhecer os feitos marcantes de Ayrton Senna em Mônaco, por exemplo. E aqueles que conhecem também não são obrigados a ignorar o tedioso presente.
Ainda mais quando a Fórmula E organiza uma corrida no exato mesmo local e apresenta 116 ultrapassagens. Esse é o tipo de coisa que faz os torcedores se questionarem.
A realidade é que os carros ficaram maiores e o mesmo não pode se dizer das ruas monegascas. Isso cria um problema que só pode ser resolvido com uma série de mudanças de regulamento.
Independente disso, eu ainda vejo com bons olhos as discussões que um final de semana de corrida no principado traz.
Vejo com bons olhos tudo que o maior ídolo brasileiro da Fórmula 1 fez por lá, principalmente nas chuvas inesperadas que curiosamente marcaram presença caótica tanto em 2022 quanto em 2023…
Vejo com bons olhos aquele dia em que Kimi Raikkonen bateu o seu carro e foi direto para o seu iate tomar uma cerveja ao invés de dar explicações na garagem…
E também vejo com bons olhos aquela desconfiança de que alguém bateu de propósito no Q3 só pra não perder a pole, como o lendário Schumacher já fez e tantos outros já foram acusados de fazer — inclusive o próprio Pérez em 2022, que deve ter se sentido tão ofendido com essas acusações que agora, em 2023, bateu logo no Q1 pra não deixar dúvidas sobre a sua idoneidade.
Eu sou a favor de tentarmos melhorar o presente, mas sempre respeitando o passado. Deixem Mônaco aí. O calendário precisa disso. Se for para chutar algum circuito, muitos outros ainda estão à frente.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Caio Diniz é relações públicas e ama todo tipo de esporte. É host do podcast Cronômetro Zerado, espaço no qual aborda a Fórmula 1 sempre de maneira leve e bem humorada.
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