Avaliação: Peugeot 208 1.6 2024 faz sentido com chegada do turbo?
O Peugeot 208 1.6 sempre se notabilizou por ser “muito carro para pouco motor”. A plataforma CMP de origem europeia – diferente da CMP do Citroën C3, uma versão simplificada criada na Índia, proporciona uma construção de carroceria em alto nível e dinâmica de condução exemplar.
Ao mesmo tempo, o veterano motor EC5 aspirado flex de 1,6 litro parece aquém das capacidades do carro, evidenciando o avanço de seus 25 anos de serviços prestados ao consumidor brasileiro. A Stellantis corrigiu isso ao dar ao Peugeot 2080 2024 o motor turbo de Fiat Pulse e Fastback, mas manteve a configuração com o motor veterano em linha.
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Embora o 208 1.6 esteja com os dias contados – ele dificilmente sobreviverá para além de 2025, quando entra em vigor uma nova legislação de emissões no País, o Proconve L8 –, ele ainda pode ser uma boa compra em comparação com as versões turbinadas? É o que tentaremos responder neste artigo.
Para isso, rodamos com uma unidade da versão Roadtrip 2024. Ela é baseada na versão intermediária Active, mas incorpora elementos da atual versão de topo do hatch, Griffe, o que deixa seu pacote muito interessante pelo valor cobrado. E é justamente o custo-benefício que pode ser o grande aliado desta variante na decisão de compra.
Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT 2024 – Preço: R$ 105.990. Pintura Branco Nacré (perolizada): R$ 1.950. Total: R$ 108.940
Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT 2024 – 10 pontos positivos
1) Design
Não há como negar que o Peugeot 208 tem um visual atraente, talvez o mais bonito de todo o segmento de hatches compactos. A dianteira, em especial, possui forte apelo e presença. E a pintura branca perolizada dá um toque especial a seus traços. Tanto que os adesivos e emblemas da versão Roadtrip acabam até “maculando” um pouco o seu design, embora as soleiras em metal escovado, o spoiler traseiro em preto brilhante e as rodas diamantadas sejam incrementos estéticos bem-vindos.
2) Faróis de LED
Lembra que dissemos que o 208 Roadtrip incorpora itens da versão Griffe? Um deles são os faróis full-LED. Além da assinatura com as garras do leão, eles trazem projetores com ajuste manual da altura do facho, o que aprimora o foco luminoso à noite.
3) Cluster 3D
Outro charme do 208 presente nesta versão é o quadro de instrumentos com efeito tridimensional. Ok, ele não é tão completo em informações nem tão intuitivo assim na hora de encontrar as informações, mas sua resolução e luminosidade são boas, sem exageros nos grafismos.
4) Dirigibilidade
Um exemplo de como o 208 faz bom uso da plataforma CMP está em sua dinâmica de condução. A direção elétrica é levinha, mas direta, e ganha toque de “kart” com o volante i-Cockpit, ovalado, pequeno e posicionado abaixo do quadro de instrumentos.
5) Suspensão
Para os padrões de um hatch compacto com suspensão traseira por eixo de torção, o Peugeot 208 demonstra competência ao absorver impactos de nossas ruas tão maltratadas. A filtragem não é perfeita, pois ainda se sente parte da transferência dos impactos através dos bancos, mas as pancadas são muito menos secas do que em um Chevrolet Onix, por exemplo. Ao mesmo tempo, o conjunto não faz ruído e o conjunto roda-pneu possui ombros relativamente altos, o que ajuda a aprimorar o conforto e a maciez ao transpor obstáculos.
6) Equipamentos
Além dos itens já mencionados, o Peugeot 208 traz outros equipamentos interessantes para o segmento, como carregador de celular por indução. Que, por sinal, fica em um nicho escamoteável do painel, podendo ser fechado para que o aparelho fique escondido enquanto carrega e roda Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
7) Acabamento
Ok, o Peugeot 208 tem alguns senões neste quesito, como o fato de trazer uma simplificação de materiais em relação ao homônimo europeu. Todo o painel tem plástico rígido e há excesso de preto brilhante, mas a montagem é correta e criativa. Dentro do segmento, pode-se dizer que ele possui o melhor nível de acabamento interno, talvez junto do Honda City hatch. Gostamos dos tapetes e tecidos exclusivos dos bancos usados pela versão Roadtrip.
8) Teto panorâmico
A cereja do bolo do Peugeot 208 Roadtrip é o teto panorâmico. O vidro não abre, mas só o fato de poder rodar com a luz do sol (ou do luar) sobre a cabeça pode ser um diferencial interessante de compra.
9) Custo-benefício
O 208 1.6 aspirado tende a “sobrar” nos pátios das concessionárias com a chegada das versões turbinadas, o que gera oportunidade de negociação de desconto e bônus para ser adquirido a um valor ainda mais camarada.
10) Confiabilidade
O motor EC5 tem suas limitações, mas uma coisa não se pode negar: ele é robusto e confiável. E aqui estamos nos despindo de qualquer preconceito contra carros franceses para um raciocínio pragmático: pergunte a um mecânico e constate como se trata de um conjunto mecânico que não deve em nada, por exemplo, à família EA111 da VW. Mesmo o motor GSE turbo do 208 2024 tem um histórico de baixa no óleo que o EC5 não possui.
Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT 2024 – 9 pontos negativos
1) Motor
De fato, o motor EC5 já não tem mais o vigor necessário para competir com rivais turbinados dos anos 2020. Falta torque a rotações mais baixas e elasticidade, num geral, embora a potência seja ok. O modo Eco, selecionável no painel, à esquerda do volante, chega a irritar de tanto que o acelerador demora a responder e o câmbio, a reduzir as marchas. Mesmo o modo Normal se mostra um pouco letárgico nesse sentido. Para rodar com o mínimo da agilidade esperada em um propulsor 1.6, só no Modo Sport (disponível ao lado do Eco).
2) Manobrabilidade
O 208 é um carro com 10,4 metros de diâmetro de giro direção leve. Assim, deveria ser um carro dócil de se manobrar. Entretanto, além do vidro traseiro pequeno, traz retrovisores externos com zoom, o que pode confundir o condutor, uma câmera de ré muito baixa e um sistema de câmeras de 180 graus e ponto cego com baixa resolução e aproximação demasiada de imagem. Isso mais confunde do que ajuda na hora de estacionar. Melhor confiar no velho e bom sensor sonoro de estacionamento.
3) Consumo
Outra limitação latente do motor 1.6 é o seu consumo de combustível. O Inmetro até promete médias acima de 10 km/l com gasolina, mas em nossa avaliação, com o ar sempre ligado e uma condução quase o tempo todo em modo Sport – lembre-se do que falamos acima sobre os dois outros modos de condução –, fizemos ínfimos 8,6 km/l com gasolina na cidade. É muito pouco para um hatch compacto, mesmo automático.
4) Ar-condicionado
Os famigerados comandos digitais pela central multimídia não são nada práticos quando se precisa fazer um ajuste de temperatura ou intensidade em meio ao trânsito pesado. Faltam botões físicos para facilitar o trabalho e, mais do que isso, não há difusor para o banco traseiro.
5) Ignição
Detalhe bobo, mas que incomoda. Como o 208 Roadtrip não possui partida por botão, o procedimento ainda demanda que se rode a chave na ignição, como os maias e astecas faziam. Até aí, tudo bem. O problema é que esse giro é longo e quase sempre precisa ser feito em duas etapas.
6) Espaço interno
O Peugeot 208 de segunda geração sempre foi conhecido por ser um hatch compacto apertado, e nada disso mudou na linha 2024. Os vãos para pernas, ombros e cabeça estão entre os mais acanhados do segmento na fileira traseira. O ângulo de abertura das portas laterais traseiras tampouco é dos mais generosos. Ou seja, este não é lá o carro mais indicado para quem tem família grande.
7) Posição do banco traseiro
Outro detalhe é que o banco traseiro do Peugeot 208 é um dos que têm o ponto H mais baixo, deixando os passageiros um pouquinho “afundados” na cabine, talvez como forma de compensar o espaço limitado para a cabeça. Ah, e quem senta atrás sequer tem direito a uma tomada USB para carregar o celular.
8) Porta-malas
Por fim, o porta-malas de 265 litros no método VDA (blocos sólidos de 1 litro cada) é o menor da categoria de hatches compactos, e ainda possui um degrau na base para dificultar a descarga da bagagem. A Peugeot falará em 310 litros, mas não se confunda: tal medição é pelo sistema de sacos d’água, mais maleáveis.
9) Depreciação
Com o lançamento das versões turbo, a tendência é que o 208 1.6 automático tenha uma depreciação mais acentuada no mercado de seminovos. E, aí, mais uma vez, vale o poder de negociação de descontos ou bônus antes de fechar negócio para saber se uma questão compensará a outra.
Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT 2024 – Ficha técnica
Motor: 1.6, dianteiro, transversal, quatro
cilindros, 16V, aspirado, flex, duplo comando de válvulas, injeção indireta
multiponto
Potência: 113/120 cv (G/E) a 6.000 rpm
Torque: 15,4/15,7 kgfm (G/E) a 4.500 rpm
Peso/potência: 9,81 kg/cv
Peso/torque: 75 kg/kgfm
Câmbio: automático, 6 marchas
Tração: 4x2 dianteira
0 a 100 km/h: 12 segundos
Velocidade máxima: 190 km/h
Consumo (Inmetro): 7,7 km/l com etanol e
11,1 km/l com gasolina na cidade; 9,1 km/l com etanol e 12,9 km/l com gasolina na
estrada.
Consumo Mobiauto: 8,6 km/l com gasolina na cidade.
Dimensões: 4.055 mm de comprimento; 2.538 mm de entre-eixos; 1.738 mm de largura; 1.453 mm de altura; 265 litros de porta-malas; 400 kg de carga útil; 47 litros de tanque de combustível; 1.177 kg de peso em ordem de marcha.
Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensão McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e tambores (traseira); diâmetro de giro, 10,4 m; coeficiente aerodinâmico, 0,33 Cx; vão livre do solo, 16,5 cm; ângulo de ataque, 16°; ângulo de saída, não divulgado; ângulo de transposição de rampas, não divulgado; pneus, 195/55 R16; estepe temporário 125/80 R15.
Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT 2024 – Itens de série
- Faróis full-LED com projetor e ajuste manual de altura do facho
- Luzes diurnas (DRL) de LED
- Rodas de liga leve aro 16 diamantadas
- Spoiler traseiro em preto brilhante
- Soleira de metal
- Adesivos e emblemas da versão nas laterais
- Alarme
- Quatro airbags (frontais e laterais)
- Controles de estabilidade e tração
- Assistente de partida em rampas
- Sensores de estacionamento traseiros
- Câmera de ré com visão 180 graus superior e de pontos cegos
- Quadro de instrumentos digital com visor 3D
- Central multimídia de 10,3 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio
- Ar-condicionado automático digital
- Controle de cruzeiro com limitador de velocidade
- Vidros elétricos com um-toque e antiesmagamento
- Travas elétricas
- Retrovisores elétricos
- Porta-malas com destravamento elétrico
- Volante multifuncional com regulagem manual de altura e profundidade
- Banco do motorista com ajuste manual de altura
- Carregador de celular por indução
- Tomada USB tipo A dianteira
- Bancos revestidos parcialmente em couro com tecido e alcântara
- Banco traseiro bipartido rebatível em 60:40
Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT 2024 vale a pena?
Pelo nível de equipamentos e custo-benefício, sim, se você souber negociar um bom desconto na loja. O desempenho não será o mesmo da configuração Turbo, nem o consumo, mas ainda será um carro automático e com motor confiável, além de peças repositórias a dar e vender e um bom nível de equipamentos. Mas reforçamos: negocie um bom desconto sem cerimônias. Só assim o Peugeot 208 Roadtrip com o velho motor 1.6 EC5 ainda faz algum sentido.
Jornalista Automotivo